Cotovia edita histórias nascidas no Facebook e acredita que são “para todos”

Chama-se Libelinha e é uma chancela da Livros Cotovia. No final do ano passado, foram lançados Tia Mira e Resumo de 2017 para Todos. Das redes sociais para o papel

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As ilustrações de Tia Mira são de Joana Villaverde

A editora da Cotovia, Fernanda Mira Barros, descreve a Libelinha como “uma chancela irreverente, comercial, de qualidade, com um grafismo moderno, alegre, bem pensado”. Diz também, em resposta ao PÚBLICO via email, que “não tem nada que ver com a Livros Cotovia, excepto ser feita pelas mesmas pessoas”.

Os dois primeiros livros resultaram de histórias escritas no Facebook. Tia Mira é assinado pela própria editora (uma alentejana que vive em Lisboa) e conta com ilustrações de Joana Villaverde (uma lisboeta que vive no Alentejo). São diálogos entre tia e sobrinha. Aquela de 50 anos, esta de oito. Moram no mesmo edifício.

“Quando comecei a ter Facebook, dei por mim a escrever algumas ficções e a Tia Mira era tão-só uma delas”, conta a autora. E prossegue: “Exactamente como surgiu não sei dizer, mas sei que escrever diálogos me interessa, aquela cadência, a transposição de um tempo próprio da oralidade, o desfio do ritmo pergunta-resposta.” Não tinha como propósito criar uma sequência de contos, mas “apareceram fãs da Tia Mira e com eles o desafio de reunir as histórias num livro”. E completa: "Ora eu arrancava então com a ideia de uma chancela nova, a Libelinha, e ocorreu-me que a Tia Mira poderia ser o primeiro livro. Embora seja banal um editor autopublicar-se, essa, para mim, não foi uma questão fácil de ultrapassar.”

Relações fortes

Pedimos-lhe que tente vislumbrar o perfil do público-alvo do livro: “Os leitores são homens e mulheres de todas as idades, com sentido de humor. Mães e pais, sem dúvida, tias, claro, mas também irmãos, avós, enfim, o grau de parentesco com crianças não define o leitor deste livro.” Fernanda Mira Barros não sabe ainda quantos dos 3 mil exemplares impressos já foram vendidos nem se manterá idêntica tiragem nos próximos títulos. Perguntamos-lhe em que prateleira é que se pode/deve encontrar este livro, que acredita ser “para todos”. Resposta: “Idealmente, em várias, pois o livro não é de fácil catalogação: na ficção portuguesa, na literatura infantil, na literatura juvenil, no humor.”

Quem ilustra a Tia Mira é a artista plástica Joana Villaverde. Sobre o processo criativo, remete-nos para a sua experiência em cenografia, nomeadamente para o Teatro do Bairro. “Algo colectivo. Trabalho para servir uma pessoa e um texto. A harmonia, a existir, é para os outros. Eu estou apenas a servir aquele ambiente. A tentar imaginar como seria aquele sótão e a respeitar a natureza do texto.” As autoras só se conheceram pessoalmente depois de já estarem a trabalhar nesta colecção, o contacto foi sempre virtual. “Já tinha mais de 20 ilustrações e nem lhe conhecia a voz”, conta Joana Villaverde. Se fosse Joana a decidir em que prateleira da livraria expunha a Tia Mira, escolheria a estante destinada ao teatro. Sem idade.

Resumos para totós

A Libelinha lançou também no final de 2017 outro livro criado a partir de histórias escritas para divulgar no Facebook. Chama-se Resumo de 2017 para Todos. Fado, Futebol e Outros Festivais, da autoria de Miguel Somsen, que desde o final de 2016 publica naquela rede social Resumos da Semana para Totós (assinados por Miguel ou MC). A estas sínteses semanais juntaram-se os cartoons de Hugo van der Ding, conhecido sobretudo através da Criada Malcriada.

A editora descreve assim o livro: “Resumo de 2017 para Todos abrange todos os assuntos, todos! De política a economia, a futebol, a cinema, a moda, a música, a obituários – tudo! E num registo de humor subtil e excepcional, como é o da escrita do Miguel Somsen. Depois, o Hugo van der Ding fez especificamente para cada semana do ano de 2017 um cartoon, uma espécie de bónus fabuloso para os leitores. Qualquer perfil é certo como perfil de leitor para este livro.”

Prateleira? “Mais uma vez, idealmente, em várias: comentário político actual; humor; sociedade.” A Libelinha, que é impressa em papel reciclado, vai lançar mais duas colecções durante este ano, uma de literatura infantil e outra “dedicada aos prazeres da vida”.

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