Actores premiaram os Cartazes de Frances McDormand e as actrizes com mais de 40 anos

Prémios do Screen Actors Guild foram apresentados por mulheres e premiaram os primeiros favoritos para os Óscares. Gary Oldman e o seu Churchill e a televisão de Nicole Kidman e This is Us entre os distinguidos.

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Nicole kidman em palco MARIO ANZUONI/Reuters
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Frances McDormand e Sam Rockwell MONICA ALMEIDA/Reuters
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O elenco de Veep MARIO ANZUONI/Reuters
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Alexander Skarsgaard e Kidman MONICA ALMEIDA/Reuters
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Morgan Freeman e Rita Moreno MARIO ANZUONI/Reuters
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William H. Macy Reuters/Reuters
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Sterling K. Brown MIKE NELSON/EPA
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Kristen Bell MARIO ANZUONI/Reuters
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À medida que se aproximam os Óscares – mais precisamente as suas nomeações, conhecidas esta terça-feira –, a temporada de prémios de Hollywood começa a tentar olhar mais para os filmes e um pouco menos para a política e a actualidade #MeToo. Este fim-de-semana, os prémios dos sindicatos dos produtores (sábado) e dos actores (domingo) distinguiram A Forma da Água (produtores) e, nesta madrugada, os actores premiaram Três Cartazes à Beira da Estrada, Frances McDormand e o Winston Churchill de Gary Oldman. Na televisão, Nicole Kidman e Veep. O momento de “mudança cultural”, como lhe chamou a presidente do Screen Actors Guild, significa que “todas as histórias merecem ser ouvidas”, completou Kristen Bell, a anfitriã de uma cerimónia totalmente apresentada por mulheres, “mas com empatia e [as devidas] diligências”.

As passadeiras vermelhas voltaram a ganhar cor, depois do convicto negrume do protesto nos Globos de Ouro, e os pins Time’s Up, que assinalam a solidariedade com o movimento fundado por várias mulheres de Hollywood para apoiar vítimas de assédio sexual, não foram omnipresentes. Os Globos de Ouro eram o pontapé de saída para a temporada, a primeira vez que Hollywood falava para o mundo em directo sobre o efeito Weinstein, saído da sua indústria para ser desmascarado transversalmente na sociedade. Ainda assim, a cobertura noticiosa desse momento de marketing e moda que é a passadeira vermelha focou-se mais no trabalho de actores, actrizes e produtores do que nas mais convencionais – e desiguais – perguntas sobre o guarda-roupa da noite de prémios.

Esses, os que fazem mover a indústria do maior mercado cinematográfico (e maior exportador) do mundo nestes dois primeiros meses de cada ano, foram então para Três Cartazes à Beira da Estrada, vencedor do mais importante prémio do SAG, o de Melhor Elenco. A sua protagonista, uma mãe que usa os nominais três cartazes para denunciar o mau trabalho da polícia na investigação da violação e homicídio da sua filha, recebeu também o prémio de Melhor Actriz – Frances McDormand –, e o prémio de actor secundário foi para Sam Rockwell. Já Gary Oldman e o seu Winston Churchill de A Hora Mais Negra recebeu o prémio de Melhor Actor. Allison Janney recebeu o galardão votado pelos seus pares pelo seu trabalho como actriz secundária em Eu,Tonya, sobre a patinadora olímpica Tonya Harding, acusada de estar envolvida na agressão mandada à sua rival Nancy Kerrigan.

A fantasia de A Forma da Água, do realizador mexicano Guillermo del Toro, recebeu por seu turno o prémio máximo, o de melhor filme, da gala do Producers Guild of America (PGA), espelhando como a corrida para um valioso Óscar de Melhor Filme está bem em aberto. Os prémios dos sindicatos, ao contrário dos Globos de Ouro, são já fortes indicadores das inclinações de voto da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, visto que partilham com ela muitos votantes. Os actores são os mais numerosos membros da Academia que entrega os Óscares (são 1281, 17% do total) e, tal como eles, os produtores servem de importante barómetro sobre como os seus colegas vêem e votam na corrida.

Dizem as estatísticas que a escolha do sindicato dos produtores coincidiu em 19 das 27 votações da Academia para o Óscar de Melhor Filme, embora as excepções recentes evidenciem a margem dada por essas contas – La La Land, por exemplo, foi premiado no ano passado pelos produtores e o conjunto da Academia preferiu Moonlight. As mesmas contas mostram que o sindicato dos actores escolheu só 11 vezes em 22 o elenco que compõe depois o melhor filme nos prémios maiores da indústria. Ainda assim, lembra o reputado analista da temporada de prémios Scott Feinberg, “a última vez que um filme ganhou um Óscar de Melhor Filme sem primeiro um prémio de Melhor Elenco SAG foi há 22 anos, com Braveheart.”

Já na Variety, Kristopher Tapley lembra que a temporada deste ano é particularmente longa – os Óscares são entregues a 4 de Março e as nomeações são conhecidas esta terça-feira ao início da tarde (hora portuguesa), não costumando ser precedidas pelos prémios SAG. “Muita coisa pode acontecer. Os boletins de voto finais dos Óscares só têm de ser entregues daqui a 37 dias – uma eternidade.”

Já nas categorias da televisão estão nomes normalmente presentes nos Óscares, como Nicole Kidman, que voltou a receber o prémio de actuação feminina numa mini-série por Big Little Lies, desta feita acompanhada pelo seu marido ficcional nesta produção da HBO (TVSéries em Portugal), Alexander Skarsgaard. The Handmaid’s Tale (Nos Play), a outra série de 2017 que tem sido coroada nos prémios do sector, foi completamente ignorada nas suas várias nomeações, e a comédia Veep repetiu também o prémio dos Emmys e foi considerada a série do género com melhor elenco e com a melhor protagonista, Julia Louis-Dreyfus. No drama, This Is Us, o fenómeno de popularidade da NBC (em Portugal, na FoxLife), recebeu o prémio de elenco e também voltou a premiar Sterling K. Brown. O seu congénere na comédia foi William H. Macy por Shameless – No Limite (Showtime/Fox).

Entregues em Los Angeles e apresentados apenas por mulheres, os 24.º prémios do SAG distinguiram ainda um animado Morgan Freeman com o prémio carreira, mas sobretudo mantiveram, ainda que com um impacto diferente do dos Globos, o tema do assédio e da igualdade de género em cima da mesa.

Horas depois das segundas Marchas das Mulheres por todo o país, a indústria americana pôs as actrizes a falar sobre o seu próprio papel como denunciantes do caso que marca a actualidade há mais de três meses, pelas vozes de Rosana Arquette, Olivia Munn e outras mulheres que falaram na primeira pessoa dos abusos sofridos. Também Sam Rockwell levou o pin (menos popular do que nos Globos) Time’s Up ao palco e o monólogo de abertura de Kristen Bell tentou equilibrar o humor generalista – “Sou a Kristen Bell, e sou uma narcisista; perdão, sou actriz” – com brincadeiras sobre o momento – “Está cá Elisabeth Moss, do documentário The Handmaid’s Tale”. 

O espectro do assédio esteve presente e ausente de outras formas - James Franco, premiado nos Globos de Ouro por Um Desastre de Artista com um pin Time's Up na lapela, foi acusado nas horas seguintes de má-conduta sexual nas redes sociais e no Los Angeles Times por várias mulheres. Disse não se recordar de alguns casos como as suas acusadoras o relatam, mas sublinhou a importância de que haja um canal aberto para se continuar a falar neste tema. Estava nomeado na noite deste domingo e esteve na cerimónia; já o comediante Aziz Ansari, que na semana passada esteve no centro de um caso noticiado pelo site Babe.net que dividiu opiniões sobre os contornos de um encontro amoroso em que esteve envolvido, não foi aos prémios SAG. Estava nomeado na categoria de comédia e fora também premiado nos Globos de Ouro.

Nicole Kidman fez o discurso inspirador da noite, distribuindo a sua glória pelas colegas nomeadas e não só, e celebrando o facto de que hoje as carreiras das actrizes “podem ir para além dos 40 anos. Há 20 anos, estávamos basicamente acabadas nesta altura das nossas vidas. Não é o caso, hoje. Provámos, e estas actrizes e tantas outras estão a provar, que somos potentes e poderosas e viáveis”. No mesmo fôlego, apelou ainda ao apoio às histórias de mulheres, espelhando a sua própria iniciativa, com Reese Witherspoon, para produzir Big Little Lies, por exemplo.

A lista completa de nomeações e vencedores pode ser consultada aqui.

Notícia actualizada às 11h32 com lista de nomeados e vencedores e detalhes sobre os casos James Franco e Aziz Ansari.

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