Jovem sofre acidente mortal ao fazer graffiti

Pelo menos cinco jovens morreram nos últimos 15 anos em situações semelhantes.

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Enric Vives-Rubio / Arquivo

No último sábado à noite, um rapaz de 21 anos estava a fazer graffiti quando caiu do telhado do edifício do Metropolitano de Lisboa, na estação de Sete Rios. Não sobreviveu, confirmou o Comando Metropolitano da PSP de Lisboa. Seguiria um dos estilos mais arriscados, o roof top, isto é, prática de graffiti em telhados, outdoors ou outras superfícies elevadas.

Tudo aconteceu por volta das 21h. O rapaz estava a fazer graffiti no topo do edifício do Metropolitano de Lisboa. De repente, perdeu o equilíbrio. Sofreu então uma queda de seis a sete metros de altura. Um amigo, que estava com ele, ligou para o número de emergência.

Uma equipa do Instituto de Emergência Médica acorreu ao local, só que já nada havia a fazer. Limitou-se a declarar o óbito.

Três rapazes colhidos por um comboio

Não é a primeira vez que há acidentes mortais associados ao graffiti. O caso mais grave ocorreu no apeadeiro de Águas Santas-Palmilheira, na Maia, na Linha do Minho, que faz a ligação entre a estação de S. Bento, no centro do Porto, e as estações de Braga e Guimarães.

Eram 20h19 de uma segunda-feira de Dezembro de 2015. Três jovens estavam a praticar backjump, isto é, aos saltos para pintar carruagens aproveitando a curta paragem de um comboio numa estação ou num apeadeiro. Foram atingidos por um comboio que seguia, a alta velocidade, em sentido contrário. Num instante, morreram. Um era um jovem português, de 18 anos, de Matosinhos, conhecido como Nord. Os outros dois eram jovens espanhóis, de 18 e 20 anos, que estavam de passagem por Portugal. Outros dois que estavam na plataforma fugiram a tempo.

Já antes disso, em Setembro de 2003, tinha havido um acidente que resultara numa morte. Um graffiter conhecido como Vneno tinha morrido electrocutado na linha do Metro de Lisboa, na estação do Rato. Com composições de metro paradas no cais de manobras, desceu por um muro estreito, lateral aos carris. Desequilibrou-se, caiu na linha e foi atingido por uma descarga eléctrica. 

“A par do metro, o roof top é a acção que coloca mais questões de segurança”, explica Pedro Soares Neves, investigador do Centro de Investigação e de Estudos em Belas-Artes, da Universidade de Lisboa, que estuda a arte de rua e a criatividade urbana. “O comboio ocupa o terceiro lugar.”

O roof top é uma das vertentes mais respeitadas entre writers. Surgiu nos Estados Unidos e na Europa nas décadas de 70/80 e chegou a Portugal já na década de 90. “O acesso faz-se pelo interior. Usam as escadas do edifício. Procuram espaços que possam ter visibilidade.”

"Espiral de transgressão"

Instigado a explicar o que pode levar jovens a pôr em causa a sua segurança para fazer graffiti, Pedro Soares Neves faz um curto silêncio, depois comenta: “Há aqui um certo nível de inconsciência em relação aos riscos. Às vezes, a sensação com que se fica é que saltar a vedação, o que por si só é uma transgressão, é uma espécie de combate ao sistema. Muitas vezes, não têm noção que a vedação está ali para os proteger e proteger outros dos riscos que incorre quem entra naquele espaço vedado.”

Este especialista, que é também promotor, co-organizador e membro do Comité Executivo da Conferência Internacional de Arte Urbana e Criatividade Urbana da Lisboa, vê nalguns jovens uma "espiral de transgressão". Já saltou a vedação, então arrisca mais um bocadinho, mais um bocadinho. E isso, diz, tem muito que ver com a imagem, com a valorização perante o grupo de pares. 

Há, sublinha, um reconhecimento do graffiti enquanto forma de expressão, enquanto arte. Algumas pessoas estão a ganhar grande notoriedade. O maior exemplo disso será Vhils, nome artístico de Alexandre Farto. Inspirando-se em figuras como essa, muitos miúdos iniciam estas práticas. E "falta-lhes, em casa e na escola, quem lhes chame atenção para os riscos envolvidos". 

Segundo afirma, é muito comum haver pequenos acidentes – arranhões, nódoas negras, braços partidos. É, todavia, raro ter notícia de lesões graves. Mortes, que se saiba, houve as cinco atrás referidas. Mas há outros riscos, lembra. O tribunal pode condená-los a multa ou pena de prisão.

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