Mais devagar, por favor

Antes de limitar a velocidade de circulação automóvel, que tal limitar a velocidade com que se anunciam medidas de qualidade duvidosa?

Limitar a 30 km/hora a circulação dentro das localidades é um acto facilitista que pouco resolve. Como bem diz o presidente da Prevenção Rodoviária, generalizar uma imposição é a melhor maneira de garantir que esta não se cumpra. Esta é uma manobra cega que só serve dois propósitos: fazer caça à multa, aumentando o pecúlio público à custa dos contribuintes; e desresponsabilizar o estado, que culpa os cidadãos e os onera pela incúria que nem sempre lhes pode ser imputada. Ora, temos o dever de esperar mais – e melhor – dos nossos governantes.

Se por acaso baixamos a velocidade para 30 km/hora e os atropelamentos mortais continuam a ocorrer, fazemos o quê? Baixamos a velocidade máxima para 10 km/hora? Banimos os veículos motorizados? Se o governo quer ficar bem nas estatísticas, tem bom remédio: pode impedir a circulação a pé nas localidades. É impraticável e ridículo? É. Mas também é impraticável e ridículo obrigar um condutor que tem visão límpida do que está à sua volta quedar-se pelos 30 km/hora – até porque podem existir ocasiões em que circular demasiado devagar seja mais perigoso do que o inverso.

Em primeiro lugar é preciso ler os números, para que se entenda bem o que eles significam. É de esperar que o executivo tenha feito – ou ainda faça – este trabalho, antes de avançar para medidas genéricas que criam mais problemas que soluções. E como estamos a falar de vidas, seria bom perceber verdadeiramente o que está a acontecer para não correr o risco de cometer um erro que só é verificado nas estatísticas do ano seguinte.

Seria inteligente, por exemplo, perceber se a carta por pontos aumentou ou reduziu a reincidência de quem já foi apanhado a cometer infrações rodoviárias. Da mesma forma, valerá a pena perceber se o mecanismo de registo de infrações acelerou a notificação das mesmas... Já agora, também é fundamental perceber em que localidades aumentou a sinistralidade – e se ela se deve a localizações específicas dentro de cada localidade ou se é um problema generalizado. Se o problema é específico, há soluções melhores – que começam nas barreiras arquitectónicas, na regulação do estacionamento e na circulação dos transeuntes e que, no limite, podem até chegar pelo fim da circulação nessas mesmas zonas. Todas estas opções implicam trabalho analítico sério e atenção no terreno, medidas pouco condizentes com proclamações grandiosas feitas a partir de um púlpito. Mas os cidadãos merecem – e agradecem – mais esforço nas decisões.

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