Educação superior: uma nova perspetiva

As instituições de ensino superior têm de aprofundar a sua relação com as diferentes comunidades do país.

A educação superior em Portugal foi alvo de levantamento rigoroso e cuidado — que incluiu a identificação de algumas boas práticas internacionais de países com realidades comparáveis (Dinamarca, Finlândia, Holanda e Irlanda) — com o objectivo de desenhar cenários prospetivos para a consolidação e desenvolvimento de uma rede nacional, posta ao serviço do desenvolvimento cultural, social e económico do país e das suas diversas regiões e, neste último caso, com especial atenção às regiões do interior, com menor densidade populacional e para as quais se preconizam intervenções a realizar na sequência do estudo.

O resultado é a obra Educação Superior – Uma Nova Perspetiva, publicada agora pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), no seu plano de edições, contendo este estudo, coordenado pelo Professor Júlio Pedrosa e por uma equipa integrada pelos Professores Pedro Teixeira e Maria João Moreira e pelo Dr. Artur Santoalha.

O projeto do estudo iniciou-se em Abril de 2014, e nessa ocasião era evidente a necessidade de realizar uma reflexão, devidamente fundamentada, sobre a evolução futura da educação superior que tomasse em consideração os contributos relevantes de um importante conjunto de estudos que se tinham realizado sobre a situação portuguesa. Procurou então a FCG proporcionar condições para que o estudo se realizasse.

Como muito bem se salienta nesta análise, as instituições de ensino superior têm de continuar e de aprofundar a sua relação com as diferentes comunidades do país, sobretudo com as mais carenciadas, colocando novas propostas na agenda pública, numa atitude que contrarie a resistência à mudança, de forma a promover o combate às desigualdades educativas e sociais, concedendo oportunidades formativas a pessoas que, de outra forma, nunca frequentariam as suas instituições.

Sem pôr em causa o relevante papel que as maiores instituições de ensino superior têm tido no desenvolvimento e na descoberta científica — e todas elas na formação dos melhores quadros que têm promovido o desenvolvimento do país ao longo de gerações —, é preciso que, sem exceção, olhem também para as regiões menos protegidas em termos de desenvolvimento e para as pessoas que aí residem. O país, com o apoio das instituições de ensino superior, tem de apostar fortemente na coesão territorial, para além de promover a coesão social.

A competitividade continuada da nossa economia depende das aptidões e dos conhecimentos da nossa população, da agilidade intelectual dos nossos cidadãos, da ousadia da nossa investigação científica e do génio das nossas invenções. Para concretizar tudo isto as nossas instituições de ensino superior são os elementos essenciais. Por isso, quando elas se fragilizam todos perdemos, do mesmo modo que ganhamos quando elas se revigoram. E este estudo mostra como é importante que todas elas se reforcem para concretizar os importantes objetivos que têm à sua frente. Uma das fortes mensagens, devidamente fundamentada, que surge neste estudo, é que não temos instituições de ensino superior a mais.

Infelizmente, nem todos percebem como as instituições de ensino superior podem funcionar como centros vitais de muitas cidades, de muitas regiões e das suas economias, ou como berços da grande inovação, que pode tornar o país maior e melhor.

Em contrapartida, as instituições de ensino superior não se podem também colocar na cómoda posição de fazerem as suas tarefas básicas de ensino e investigação e se alhearem dos principais problemas do país.

Elas têm de estar acordadas para as necessidades da sociedade, demonstrando-lhe do que são capazes e provando que o fazem bem e melhor do que ninguém. É altura de o fazerem e de o provar com resultados efetivos para benefício das comunidades e do país e, sobretudo, das pessoas que aqui vivem.

Para ajudar as instituições na concretização destas missões de apoio ao desenvolvimento das comunidades e do país, é preciso criar financiamentos competitivos, que encorajem as instituições de ensino superior a colaborar no desenvolvimento de projetos e a executar programas de formação dirigidos às regiões e às populações mais desfavorecidas pelo tumulto económico trazido pela globalização e pela mudança tecnológica. A potencialidade de desenvolvimento destas regiões é enorme. Elas escondem riquezas que não estão devidamente exploradas e o país, sendo uno na sua diversidade, não pode desprezar e virar as costas a nenhuma das suas parcelas.

A nossa história tem demonstrado que as instituições de ensino superior no nosso país crescem e desenvolvem-se quando colaboram entre si, com o Governo e com inúmeros outros parceiros, para criar valor tangível para toda a sociedade.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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