Apoiantes de Rio divididos sobre o próximo líder parlamentar

Conselheiros do líder eleito defendem que Hugo Soares "simplesmente devia ter saído".

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Eleito pelos pares em Julho, Hugo Soares arrisca-se a não passar muito tempo na liderança do grupo parlamentar do PSD Daniel Rocha

Entre os apoiantes mais próximos de Rui Rio, a ordem é para deixar esfriar a polémica em torno da continuidade ou saída do actual líder da bancada do PSD, Hugo Soares. A questão há-de-ser resolvida com calma e serenidade, como diz o próprio líder eleito, e isso só deverá acontecer depois do congresso. Mas a permanência de Hugo Soares no cargo é considerada muito improvável, até por este ser o primeiro subscritor (ainda que apenas por o PSD ter o maior grupo parlamentar) da lei do financiamento dos partidos, de que Rio discorda e que voltará a ser votada no Parlamento, na sequência do veto presidencial. Já sobre o sucessor de Hugo Soares na liderança da bancada, os apoiantes de Rio dividem-se entre os que preferem Luís Marques Guedes e os que defendem Fernando Negrão.

A pressão que tem existido nos últimos dias sobre a liderança da bancada está a ser contraproducente para a actual direcção do grupo parlamentar, avisam algumas fontes próximas do líder eleito do PSD. Agora, o tom é de calma. O congresso só começa a 16 de Fevereiro, altura em que Rui Rio colocará à votação a moção de estratégia global com que se candidatou a líder. Sem a moção votada, o líder eleito não tomará decisões de fundo.

Mas os bastidores já se agitam na discussão sobre candidatos à sucessão de Hugo Soares. Há quem veja com bons olhos a hipótese de Luís Marques Guedes, que comandou a bancada quando Luís Marques Mendes era líder do partido e que foi, depois, um dos ministros-chave de Passos Coelho. É, segundo alguns deputados contactados pelo PÚBLICO, uma das pessoas que podem fazer a ponte entre os passistas (que na sua maioria apoiaram Santana Lopes) e os que preferiram Rui Rio.

Mas outros apoiantes de Rio vêem como hipótese melhor Fernando Negrão, ex-ministro e antigo presidente da Comissão de Assuntos Constitucionais, que apoiou Santana Lopes nas directas. Poucos acreditam ainda na possibilidade de Hugo Soares continuar à frente dos destinos da bancada ou concordam com a sua atitude de não pôr o lugar à disposição. Há quem lembre o exemplo do próprio Santana Lopes, que Hugo Soares apoiou, que se demitiu da liderança da bancada em 2008, assim que Manuela Ferreira Leite foi eleita presidente do partido, sucedendo a Luís Filipe Menezes.

Entre os conselheiros mais próximos de Rui Rio há quem culpe Hugo Soares por este impasse. “Nem era colocar o lugar à disposição”, disse um deles ao PÚBLICO. “Tendo apoiado um dos candidatos, que acabou por perder, devia ter simplesmente saído” da liderança da bancada. Na mesma linha, embora um pouco mais suaves, Ferreira Leite, na TVI, e Marques Mendes, na SIC, defenderam que o actual líder da bancada já devia ter posto o lugar à disposição.

Olhando adiante, perspectiva-se uma situação difícil de gerir para o partido e para Hugo Soares, caso este  insista em ficar no lugar: a nova votação da lei de financiamento dos partidos, de que Soares é o primeiro subscritor, por si defendida publicamente, ao lado do PS e PCP, e que acabou por ser vetada pelo Presidente da República. Durante a campanha eleitoral, Rui Rio foi bastante claro na sua reprovação do diploma, pelo que a indicação que dará à bancada será para votar contra o projecto que o PS tenciona reapresentar. “E o líder parlamentar, como faria? Ia votar contra também?”, questiona esse elemento próximo do líder eleito do PSD. 

É por casos como este, que se podem repetir ao longo do próximo ano e meio, que muitos à volta de Rio acreditam que Hugo Soares ficaria num permanente estado de “equilibrismo”, se se mantivesse à frente da bancada. E até o próprio líder já avisou: a unidade é um objectivo, mas “sem hipocrisias”.

Até a questão ser resolvida, Hugo Soares está em funções e deverá fazer, pelo menos, o próximo debate quinzenal com o primeiro-ministro, marcado para 1 de Fevereiro. Essa articulação entre o líder eleito e o ainda presidente do partido, Pedro Passos Coelho, foi trabalhada esta quinta-feira, numa reunião na sede. À noite, houve um jantar em Lisboa em que participaram deputados que estiveram ao lado de Rui Rio na campanha e que eram um grupo minoritário na bancada.

Os apoiantes do líder eleito acreditam que os ânimos vão serenar, à medida que se aproxima o congresso que vai eleger os órgãos nacionais – a comissão política e o conselho nacional. Depois, a nova liderança terá a cargo a responsabilidade de fazer as listas de deputados para as próximas eleições legislativas, facto que levará muitos a ponderarem as suas posições dentro e fora da bancada. Até lá, engrossam as vozes que impõem a Rui Rio uma vitória nas legislativas de 2019. Marco António Costa, ainda vice-presidente de Passos Coelho, manteve-se neutro durante a campanha mas já veio dizer, ao Jornal Económico, que espera uma vitória do PSD com “maioria absoluta” e que “nenhum líder do PSD sobreviveu sem aceitação externa”. Ou seja, o PSD de Rio tem de subir nas sondagens.

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