Senado rejeita orçamento e paralisa Governo de Trump

Democratas chumbam proposta de Orçamento provisório para evitar o shutdown. Só os serviços críticos mantêm financiamento federal.

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LUSA/SHAWN THEW

Apesar de controlar a Casa Branca e as duas câmaras do Congresso dos EUA, o Partido Republicano não conseguiu aprovar um Orçamento que evitasse a paralisação (shutdown) da administração. Os ponteiros marcavam 24h de sexta-feira quando serviços financiados pelo governo federal tiveram de parar por falta de financiamento, já que os democratas travaram no Senado uma proposta de orçamento provisório que manteria os serviços a funcionar.

O resultado da votação mostra bem a divisão. No lado dos republicanos, 45 votaram a favor, cinco contra (um não votou). No lado dos democratas, cinco votaram a favor, 44 contra. 

“Aquilo que vejo quando olho para esta imagem é o fim de um dia muito longo, para não mencionar semanas e meses de preparação de muitos fotógrafos, editores e o começo de tudo o que aconteceu desde então”, Jonathan Ernst (Janeiro, 2017) Reuters/Jonathan Ernst
“No início do mandato de Trump, os fins-de-semana estavam tão ocupados quanto os dias de semana. No segundo sábado, vi no calendário oficial que ele estaria a fazer telefonemas privados para vários líderes mundiais, incluindo Vladimir Putin. Cheguei cedo e fui até ao escritório do secretário de imprensa, Sean Spicer. Deixei a sugestão de que as administrações anteriores às vezes permitiam fotografias dos tais telefonemas através das janelas da Sala Oval. Para meu espanto, ele nem pensou duas vezes. ‘Vamos fazer isso!’, disse. Na verdade, eu só esperava pela chamada de Putin, mas ficámos fora das janelas várias vezes ao longo do dia enquanto as chamadas iam acontecendo”, Jonathan Ernst (Janeiro, 2017) Reuters/Jonathan Ernst
"Nos dias após criticar o protesto de alguns jogadores da NFL que se ajoelharam contra a violência policial, Trump fez uma viagem de um dia para Indiana. As pessoas ao longo do percurso costumam fazer demonstrações (às vezes viscerais) de como se sentem em relação ao Presidente. Durante a viagem perguntei-me se alguém se iria ajoelhar. E aconteceu", Jonathan Ernst (Fevereiro, 2017) Reuters/Jonathan Ernst
"A Casa Branca organizou uma audição com camionistas e os CEO de grandes empresas americanas sobre a reforma do sistema de saúde. Um reboque estava estacionado ao pé da Casa Branca e quando Trump deu as boas vindas aos camionistas, um deles convidou-o para se sentar no lugar do condutor. Trump entrou no veículo e começou a gritar e a fingir que estava a conduzir, criando uma das imagens mais memoráveis do ano. Aprendi uma lição, estar sempre preparado para o inesperado”, Carlos Barria (Março, 2017) Reuters/Carlos Barria
“Durante uma entrevista ao Presidente Trump, fui autorizado a fotografar apenas nos últimos cinco minutos. Tive de agir rapidamente e ter uma ideia já definida do que queria fazer. Entrei na Sala Oval da Casa Branca e reparei que o Presidente tinha impresso mapas onde estavam assinalados a vermelho os estados onde venceu as eleições. Levantei a câmara o mais alto que pude para ter a melhor perspectiva do cenário”, Carlos Barria (Abril, 2017) Reuters/Carlos Barria
"A melhor parte de qualquer viagem a Nova Iorque em funções com o Presidente dos EUA é o passeio de helicóptero até Manhattan. À noite pode ser deslumbrante. Nesta imagem, os agentes do Serviço Secreto protegem-se dos salpicos do rio East enquanto Trump aterra no heliporto”, Jonathan Ernst (Maio, 2017) Reuters/Jonathan Ernst
No dia 7 de Julho, assisti a uma das reuniões mais importantes do primeiro ano de Trump como Presidente. Trump encontrou o Presidente russo, Vladimir Putin, durante uma reunião bilateral na cimeira do G20, na Alemanha. Os olhos do mundo estavam sobre estes dois líderes após a especulação sobre a interferência russa durante as eleições dos EUA de 2016. Houve um momento muito interessante quando Trump estendeu a mão a Putin para um aperto de mão. Putin parou por um segundo e olhou para a mão de Trump. Era essa a fotografia que eu estava à procura, um pequeno momento que diz muito”, Carlos Barria (Julho, 2017) Reuters/Carlos Barria
“Neste Verão, a Casa Branca organizou um evento para mostrar produtos fabricados na América. Enquanto Trump se aproximava de uma mesa cheia de tacos de basebol, os fotógrafos do evento, inclusive eu próprio, correram para ter um bom ângulo na esperança de que ele pegasse num deles. Como previsto, ele pegou e fingiu que estava a bater em algo com força. A coisa mais próxima dele ali eram os media”, Carlos Barria (Julho, 2017) Reuters/Carlos Barria
"No dia em que todos, e reforço mesmo todos, foram avisados para não olhar directamente para o eclipse sem óculos protectores, Trump, Presidente dos Estados Unidos, não conseguiu resistir", Kevin Lamarque (Agosto, 2017) Reuters/Kevin Lamarque
“Após a viagem do Presidente Trump à Alemanha, ele voltou para Joint Base Andrews, no Maryland. Melania disse adeus a Trump quando ela estava a ir numa direcção diferente. Enquanto conversavam, uma brisa fez esvoaçar o cabelo de Melania no ar”, Carlos Barria (Julho, 2017) Reuters/Carlos Barria
"Trump, ansioso por passar a imagem de uma resposta prática ao furacão Harvey, fez esta visita a um centro de assistência e convenceu uma mulher a tirar uma selfie, enquanto Melania continuava a trabalhar", Kevin Lamarque (Setembro, 2017) Reuters/Kevin Lamarque
“Trump estava a planear surpreender Frank Giaccio, um menino de 11 anos, que lhe escreveu uma carta a pedir para cortar a relva da Casa Branca. Giaccio foi então convidado a trabalhar lá durante um dia. Enquanto esperávamos por Trump, reparei que Giaccio estava muito focado no que estava a fazer e não prestava muita atenção ao grupo de jornalistas e fotógrafos que se deslocavam pelo jardim. De repente, do outro lado da cerca, Trump apareceu. Começou a gritar para o rapaz mas o barulho do cortador de relva era muito alto. Giaccio estava tão concentrado no seu trabalho que não reparou na presença do Presidente. A imagem de Trump a gritar para uma criança que está a cortar a relva pode ter muitas interpretações nos Estados Unidos politicamente polarizados de hoje. Mas, para mim, era apenas uma criança que gostava do que estava a fazer, até ao ponto de quase ignorar o Presidente”, Carlos Barria (Setembro, 2017) Reuters/Carlos Barria
"Durante uma visita do Presidente a Porto Rico para examinar os danos causados pelo furacão Maria e cumprimentar algumas das vítimas, Trump fez uma paragem numa igreja onde a comida e os suplementos estavam a ser distribuídos. Entre eles estavam rolos de papel e Trump, aparentemente envolvido no momento, decidiu distribuir alguns dos rolos", Jonathan Ernst (Outubro, 2017) Reuters/Jonathan Ernst
"É um daqueles momentos de como fazer uma imagem melhor ou pelo menos diferente de dois Presidentes [Xi Jinping e Donald Trump] a apertarem as mãos várias vezes por dia, vários dias seguidos", Damir Sagolj (Novembro, 2017) Reuters/Damir Sagolj
"O papel de Jared Kushner passou por uma série de mudanças. Começou na frente como conselheiro de alto nível, mas à medida que o tempo foi passando e as questões que o rodeiam surgiram, tornou-se cada vez mais uma figura de segundo plano" Kevin Lamarque (Novembro, 2017) Reuters/Kevin Lamarque
Esta foi apenas uma das 32 imagens que captei do Presidente Trump durante uma visita à China e ao Vietname. Nunca se sabe quando uma interacção repentina, uma rajada de vento ou uma expressão facial única podem criar uma imagem impressionante que atrai a atenção das pessoas", Jonathan Ernst (Novembro, 2017) Reuters/Jonathan Ernst
"Tendo feito a cobertura de algumas cimeiras da ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático), sabia que tinha de esperar pelo aperto de mão da ASEAN. Nem todos na sala sabiam esperar. Muita coisa foi escrita sobre esse momento sem guião e qual o significado mais profundo que ele poderia ter. A verdade é que às vezes, na vida, há momentos que não conseguimos prever", Jonathan Ernst (Novembro, 2017) Reuters/Jonathan Ernst
“A pessoa mais visível em qualquer Casa Branca é naturalmente o Presidente, logo a seguir é o porta-voz. Mas existe ainda a equipa que os apoia, e qualquer um deles pode saltar de repente para o olhar público e tornar-se notícia de um dia para o outro. Para aqueles que fazem cobertura da administração do Presidente Trump, parecem existir mais figuras interessantes na Casa Branca do que nunca. É crucial saber quem é quem e porque é que são importantes. Quando levantei a câmara e acelerei o passo à frente do grupo para captar esta imagem, Lewandowski disse-me olá e apontou directamente para a lente. Gostei da fotografia, mas não fazia ideia de que se iria tornar um pouco viral, especialmente porque Scaramucci, que foi quem mais agitou aquela semana, estava escondido no meio do grupo. Mas acho que a imagem capta um pouco do que é ser um elemento da equipa na West Wing em trabalho”, Jonathan Ernst (Dezembro, 2017) Reuters/Jonathan Ernst
“Trump viajou até Harrisburg, no estado da Pensilvânia, para celebrar os seus cem dias como presidente com um comício. Estava em terreno amigável já que ganhou com uma grande diferença face à sua rival Hillary Clinton no estado. Como é habitual, quando o Presidente chega os locais juntam-se para o receber. Desta vez, um pequeno grupo de militares assistiu à chegada. Rodeado de agentes dos serviços secretos, Trump saiu do Air Force One e ergueu a mão num sinal de vitória à medida que a multidão o aplaudia”, Jonathan Ernst (Dezembro, 2017) Reuters/Carlos Barria
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“Aquilo que vejo quando olho para esta imagem é o fim de um dia muito longo, para não mencionar semanas e meses de preparação de muitos fotógrafos, editores e o começo de tudo o que aconteceu desde então”, Jonathan Ernst (Janeiro, 2017) Reuters/Jonathan Ernst

Não é a primeira vez que acontece o shutdown – a última vez tinha sido em 2013, durante o Governo de Barack Obama – mas é a primeira vez que isso sucede quando o mesmo partido controla a Casa Branca e o Congresso. E é um facto que marca pela negativa o dia em que se assinala o primeiro aniversário da tomada de posse de Donald Trump como Presidente dos EUA, que assumiu o poder a 20 de Janeiro de 2017.

Passaram 12 meses em que Trump mudou mais a Casa Branca do que o resto da América, e que culminam agora com um falhanço político pelo qual nem democratas nem republicanos assumem responsabilidade, mas que custará dinheiro aos cofres públicos e eclipsa uma semana que "deveria ser de festa", como salientava a agência Reuters.

Em vez de se dirigir para o seu retiro habitual na Florida, Trump deixou-se ficar em Washington, tendo em conta o facto de o Orçamento provisório ter sido chumbado no Senado, que precisava de aprovar a proposta com uma maioria qualificada.

Porém, depois de passar na câmara baixa do Congresso, o documento recolheu somente 50 votos a favor no Senado, ficando a dez dos 60 necessários. Primeira consequência imediata: todos os serviços que não sejam considerados críticos (como segurança, por exemplo) e dependam do orçamento federal começaram a fechar e os respectivos trabalhadores foram enviados para casa.

Para quem ganhou simpatias e uma eleição com uma mensagem que prometia secar o pântano político de Washington, este desfecho é um desastre, afirma a Reuters, num texto de análise, aludindo às promessas de Trump, que sempre se tentou distinguir da restante classe política e do establishment de Washington. Até porque é sobre ele que recai agora o facto inédito de haver um shutdown federal quando o mesmo partido controla a Casa Branca e as duas câmaras do Congresso. Não podendo desmentir isto, Trump insistiu porém em rejeitar responsabilidades, culpando os democratas.

"Esta noite. Eles puseram a política à frente da nossa segurança nacional, das crianças vulneráveis e da nossa capacidade de servir todos os americanos", lê-se num comunicado emitido na Casa Branca depois da votação no Senado.

Para os democratas, Trump paga o preço da sua incapacidade para negociar, da sua teimosia em relação a temas como o muro na fronteira com o México e do seu desprezo pelos "dreamers" – as centenas de milhares de crianças que chegaram ao país sem documentação, que cresceram entretanto nos EUA e que Trump quer ver deportados. "Ele [Trump] é o culpado por não haver acordo e não o seu partido", salientou o líder democrata, Chuck Schumer.

E agora?

As negociações entre democratas e republicanos serão retomadas neste sábado. Até que haja um acordo, alguma coisa vai mudar. Quando o Congresso dos EUA não aprova o Orçamento, há uma parte do país que pára. Os serviços públicos federais ficam congelados, menos aqueles que são considerados essenciais, como o FBI e o Departamento de Segurança Interna. Neste período, à volta de 40% dos funcionários federais entram em licença não remunerada. Isto significa cerca de um milhão de pessoas.

Não é a primeira vez que isto acontece, muito pelo contrário. Esta é a 12.ª vez desde 1981. A experiência mostra que a duração destes períodos é muito variável. O mais longo ocorreu durante um dos mandatos de Bill Clinton, liderado pelo então speaker republicano da Câmara dos Representantes, New Gingrich: foram 21 dias, entre Dezembro de 1995 e Janeiro de 1996. 

Qual seria o custo de um shutdown? "Significa que não há cheques do Governo federal para pagamentos; há perda de negócios e de receita para contratados privados; há perda de vendas em lojas, particularmente aquelas que ficam perto de parques nacionais agora fechados; e menos receita tributária para o Tio Sam", refere um relatório da S&P Global, uma editora norte-americana, citada pelo diário britânico The Guardian. "Isso significa menos actividade económica e menos empregos".

O milhão de funcionários afectado pode vir a recuperar os montantes em causa. Em paralisações anteriores, os salários foram pagos retroactivamente. A questão é que muitas vezes houve atrasos.

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