Um parasita de 1,67m foi o resultado de comer sushi todos os dias

Em Portugal, um caso parecido deu origem a um alerta. O consumo de sushi e peixe cru gera alguma preocupação entre a comunidade médica.

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O peixe cru e mal cozinhado é um factor de risco para infecções parasitárias Marcos Brindicci/REUTERS

As infecções por parasitas intestinais estão a aumentar com a popularidade do sushi e os riscos do consumo de peixe cru ficaram novamente ilustrados com um caso insólito relatado por um médico norte-americano no podcast de medicina This Won't Hurt a Bit, e que este fim-de-semana tem sido citado pela imprensa internacional. Na Califórnia, um homem que comia sushi quase diariamente descobriu que tinha um parasita de 1,67 metros.

O episódio remonta a Agosto de 2017, mas só agora foi contado por Kenny Banh, que acompanhou o caso no hospital. O paciente em causa já se queixava de desconforto intestinal há vários meses, atribuindo-o erradamente a uma crise de gases. Foi só durante uma crise aguda de diarreia que se apercebeu que tinha um verme da família Difilobotríase, acabando por ver o parasita sair do corpo. Este tipo de parasita — que pode desenvolver-se após a ingestão de peixe cru, como o usado no sushi — pertence ao filo dos platelmintas, o mesma da conhecida ténia solitária, que se pode alojar em hospedeiros humanos apenas através de carne crua ou mal cozinhada.

Segundo um relato bastante gráfico do clínico, o homem julgou que estava a sentir e a ver o seu próprio intestino a sair com as fezes. Ao puxar a excrescência, percebeu então que se tratava afinal de um verme comprido que se mexia. Apesar da imagem desagradável, o paciente sentiu-se na verdade aliviado, já que pensava “que ia morrer porque as entranhas estavam a ser expelidas pelo seu traseiro”, segundo contou o médico no podcast. Depois de extraída, o parasita foi enrolado num rolo de papel higiénico e colocado num saco de plástico. Algumas fotografias podem ser vistas aqui, mas não são aconselhadas a estômagos fracos.

No hospital, o paciente revelou aos médicos que tinha por hábito comer peixe cru, sobretudo sashimi de salmão, quase todos os dias. 

Caso em Portugal serviu de alerta em 2017

Com a popularidade do sushi a crescer nos últimos anos, médicos de vários países têm alertado para o risco de um aumento das infecções parasitárias. Em Maio de 2017, num artigo publicado na revista científica BMJ Case Reports, uma equipa de quatro médicos portugueses dava o exemplo de um paciente de 32 anos, também português, que deu entrada no hospital com febre, vómitos e dores de estômago. O doente, que tinha comido sushi recentemente, foi submetido a uma endoscopia que detectou um verme alojado no seu estômago – e que foi então removido, aliviando os sintomas de imediato.

O paciente em causa era vítima de anisakiase (devido ao nome do parasita, Anisakis simplex, uma espécie diferente das supramencionadas), uma infecção muito comum no Japão, devido à presença de peixe cru na dieta nacional, mas menos habitual nos países ocidentais. A incidência daquela patologia, no entanto, tem vindo a aumentar. Além dos sintomas descritos acima, a infecção pode ainda resultar em reacções alérgicas, sangramento, obstrução do intestino e, em casos mais graves, perfuração e peritonite (infecção do peritoneu, membrana que envolve as vísceras da cavidade abdominal).

É sabido que o consumo de peixe cru ou mal cozinhado é um factor de risco para o desenvolvimento de vermes no organismo. Tanto na União Europeia como nos Estados Unidos, recomenda-se que o produto seja congelado previamente, de modo a neutralizar possíveis parasitas, ou que seja cozinhado. O consumo de peixes de origem duvidosa (e também de carne), sobretudo se estiverem mal cozinhados, é normalmente desaconselhado. Em todo o caso, os alimentos devem ser sempre bem lavados. 

Entre os parasitas que mais frequentemente se podem desenvolver em condições de consumo impróprio de alimentos está a ténia, um verme que se aloja no organismo após a ingestão de produtos contaminados com um parasita vivo ou os respectivos ovos (acontece frequentemente com carne suína, se estiver crua ou mal cozinhada). Aloja-se no intestino delgado ou noutras mucosas do sistema digestivo e pode chegar a medir vários metros de comprimento. Com as suas ventosas, agarra-se às paredes do intestino e consome o sangue do doente. Geralmente, a ténia (do género Taenia) acaba por sair do organismo, com ou sem vida, e a sua presença pode ser assintomática para o paciente.

Nos EUA, os casos de parasitas têm aumentado sobretudo com o consumo de salmão cru pescado no Pacífico.

Notícia corrigida às 14h03 de 24 de Janeiro: o verme em causa pertence à família Difilobotríase (que surge após a ingestão de peixe cru) e não é uma ténia (que surge após ingestão de carne crua ou mal cozinhada). 

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