Serralves 2018: um ano para transpor novas fronteiras

Robert Mapplethorpe e Anish Kapoor; Álvaro Lapa e Pedro Costa; Álvaro Siza e Ana Vieira; Éliane Radique e Marisa Merz; festas, arte, ciência e educação… Apostas para uma temporada que será de mudança, com a chegada iminente de um novo director para o museu.

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Serralves entra em 2018 com uma exposição da artista italiana Marisa Merz NELSON GARRIDO
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Marisa Merz é um nome indelevelmente ligado ao movimento da Arte Povera NELSON GARRIDO
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Marisa Merz: o céu é um grande espaço chega ao Porto vinda de Nova Iorque e Los Angeles, e a caminho de Salzburgo NELSON GARRIDO
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Marisa Merz: o céu é um grande espaço NELSON GARRIDO

A inauguração da exposição Marisa Merz: O céu é um grande espaço, da escultora italiana Marisa Merz (Turim, 1926), abriu esta sexta-feira a programação do Museu de Arte Contemporânea de Serralves (MACS) para 2018, e a ocasião foi pretexto para a administração da fundação portuense apresentar o seu plano de actividades para o corrente ano, reunido sob a palavra de ordem Transpor fronteiras.

“Esta é a programação mais ambiciosa dos últimos anos”, e mantém-se “fiel ao espírito de Serralves: intensa, multidisciplinar, com muitos cruzamentos”, disse aos jornalistas Ana Pinho, presidente da administração, à mesa do pequeno-almoço, um novo formato de conferência de imprensa que incluiu um vídeo com o balanço de 2017 e a antecipação do que 2018 vai ser nos diferentes espaços de Serralves, e também na sua cada vez mais forte aposta de se afirmar fora de portas, tanto em Portugal como a nível internacional.

Marisa Merz é a viúva de Mario Merz (1925-2003) e o casal está indelevelmente associado ao eclodir do movimento Arte Povera, na viragem da década de 60, em Turim. Marisa distinguiu-se também por ter sido a única mulher a integrar este movimento; a sua carreira foi celebrada em 2013 com a atribuição do Leão de Ouro na Bienal de Veneza.

“A obra de Marisa Merz existe na intersecção entre a arte e a vida que se tornou tão central à prática contemporânea. O corpo da sua obra, desafiadora e evocativa, é profundamente pessoal, tanto uma resposta à sua própria experiência, como à história da arte e à atmosfera contemporânea de Turim e da Itália do pós-guerra”, escreve no programa de Serralves Connie Butler, a curadora da exposição.

Marisa Merz: o céu é um grande espaço chega agora ao MACS depois de ter sido anteriormente apresentada em Nova Iorque e em Los Angeles, numa co-produção do Metropolitan Museum of Art e do Hammer Museum; Serralves será o seu primeiro poiso europeu, indo depois para o Museu de Arte Moderna de Salzburgo, na Áustria.

Esta é também “a primeira grande retrospectiva da obra da artista italiana” – sublinhou o director-adjunto do Museu de Serralves, João Ribas –, reunindo meia centena de obras que documentam cinco décadas de trabalho “com materiais e processos não tradicionais; as cabeças e rostos enigmáticos que criou nas décadas de 1980 e 1990, e as instalações que conciliam a intimidade com uma escala impressionante”.

A seguir a Merz, outra grande aposta do MACS para o primeiro trimestre do ano: No tempo todo, de Álvaro Lapa (Fevereiro), que João Ribas considerou “uma das figuras mais influentes e mais enigmáticas da arte portuguesa”, cuja obra encerra “um mistério formal e intelectual”, mas aproxima várias expressões dispersas. “Lapa tem uma escrita de pintor e uma pintura de escritor”, acrescentou o director-adjunto, chamando a atenção para a programação que o sector das artes performativas vai montar à volta desta exposição, nomeadamente no cinema e na literatura (de Alberto Seixas Santos a Henri Michaux), no teatro (Jorge Silva Melo vai encenar a peça O rapaz de Ucello ou aquilo que nunca perguntei ao Álvaro Lapa) e também nas artes performativas (com uma residência artística de Regina Guimarães e uma performance dos Von Calhau).

Outro momento forte, na aproximação do Verão, será a intervenção que o artista indiano-britânico Anish Kapoor (Prémio Turner 1991) vai fazer no Parque, abrindo “uma nova linha de programação” – adiantou Ana Pinho.  Mostrará trabalhos recentes (dentro e fora do museu) e outros que irá criar em diálogo “dramático” com a própria paisagem de Serralves – um trabalho que o escultor começou a fazer já esta sexta-feira, com uma primeira visita. A exposição de Kapoor tem a particularidade de ser ainda comissariada por Suzanne Cotter, ex-directora do museu (o anúncio do seu sucessor está para "muito breve"), ausente do pequeno-almoço desta manhã.

Ainda no primeiro semestre do ano, em Maio, chegará ao MACS a segunda parte da mostra da Colecção Sonnabend (a primeira tendo ocorrido em 2016), onde avulta uma selecção de peças de Jeff Koons, ao lado de outras de Bernd e Hilla Becher, Bruce Nauman, Candida Höfer e Gilbert & George.

Para a rentrée está reservado um dos acontecimentos do ano, a primeira exposição em Portugal de Robert Mapplethorpe, com curadoria de João Ribas, a inaugurar em Setembro. Será “uma retrospectiva em grande escala, com algumas das fotografias mais icónicas do século passado, incluindo os seus retratos de estúdio, as naturezas mortas líricas, os nus eróticos, as assemblages e as polaroids íntimas”, descreve o curador.

Para o mesmo mês, está agendada Companhia, revelação do universo estético do cineasta Pedro Costa, reunindo pintura, escultura, desenho, livros, poemas e documentação dispersa, que permitem conhecer melhor as fontes e as influências deste autor cujo cinema presta “uma atenção especial à marginalidade e à precariedade”, nota João Ribas, que comissaria esta mostra com Nuno Crespo (colaborador e crítico do PÚBLICO).

Álvaro Siza de regresso

Ao longo do ano, Serralves vai continuar a mostrar a sua própria colecção, desde as aquisições mais recentes até ao acervo que possui de artistas como Ana Vieira. E, no âmbito dos projectos contemporâneos, vai dar a conhecer jovens artistas, como Dayana Lucas, fundadora do laboratório de artes portuense Oficina Arara, e a norte-americana Martine Syms, que vem tratando as questões da negritude em performances e vídeo, e que depois de uma exposição no MoMA, de Nova Iorque, iniciou já o seu percurso de afirmação internacional.

Também o nome de Álvaro Siza continuará “em cena” em Serralves. Não apenas porque em 2018 vão avançar os seus projectos de adaptação da Casa ao acolhimento da Colecção Miró e de reconversão da antiga garagem na futura Casa do Cinema Manoel de Oliveira (com abertura prevista para o início de 2019). Mas também porque, em Outubro, a sua obra, e nomeadamente os arquivos que doou à fundação, será tema de uma “conversa” com o arquitecto britânico Tom Emerson (do atelier londrino 6a Architects) – paralelamente, a exposição dos seus arquivos, Matéria-prima, será exibida na Universidade de Nova Iorque.

Na área das artes performativas, as diferentes salas de Serralves vão continuar a acolher nomes referenciais da dança contemporânea, com os regressos ao Porto do performer Adam Linder (Março) e da bailarina dinamarquesa Mette Ingvartsen (Outubro). Na música, fará a estreia nacional da compositora francesa Éliane Radique (Abril), um nome na esteira de figuras como Steve Reich ou La Monte Young; e da nova peça do compositor alemão Nicholas Bussmann, a performance Wandering sands (Outubro).

O Jazz no Parque (Julho) também já tem nomes, entre os quais merecem referência a estreia da banda Naked Wolf, formada por músicos de diferentes nacionalidades que fazem “uma música que nunca pára quieta”, e a primeira apresentação da percussionista galega Lucía Martínez & The Fearless.

Em ligação com o Serviço Educativo, o Parque de Serralves vai ter três aniversários “redondos” para reforçar a sua programação: os cinco anos do BioBlitz (Abril), que vai continuar a convocar o público para a inventariação das espécies de Serralves; os dez anos da Festa do Outono (Setembro), com dois dias dedicados aos mais novos e às famílias; e os 15 anos do Serralves em Festa (Junho), que, se o clima ajudar, espera superar o recorde de afluência do ano passado, com as suas 224 mil entradas.

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