Hollywood vira costas a Woody Allen: “Eu acredito na Dylan”

As acusações de assédio sexual da filha adoptiva de Woody Allen voltam a ganhar atenção numa entrevista que será emitida esta quinta-feira.

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As acusações contra o realizador nunca foram provadas em tribunal Reuters/ERIC GAILLARD

Na semana em que é conhecida a primeira entrevista televisiva de Dylan Farrow, filha adoptiva de Woody Allen e Mia Farrow, sobre os alegados abusos sexuais que terá sofrido quando tinha sete anos, várias figuras de Hollywood estão a virar as costas a Allen e a declarar o seu apoio a Dylan. A lista tem crescido nos últimos dias e pelo menos três actores que trabalharam com o realizador garantiram que entregarão os salários a organizações que trabalham com vítimas de assédio sexual. No entanto, também há quem se mantenha do lado de Allen e aponte injustiça às acusações de Dylan – nunca provadas em tribunal.

O realizador negou sempre todas acusações e apontou a ex-namorada Mia Farrow como autora das mesmas, que recuam a 1992. À luz da era pós-Weinstein, os alegados assédios voltaram a ser tema e o número de figuras da indústria, principalmente de mulheres, que se quer distanciar do realizador tem-se multiplicado. Na imprensa e nas redes sociais, as críticas a Woody Allen são acompanhadas por declarações de “arrependimento” por parte de vários actores e promessas de não voltar a trabalhar com o premiado realizador.

Em Outubro passado, Dylan Farrow questionou, num texto publicado no Los Angeles Times,a razão pela qual o movimento #MeToo “poupou” o seu pai adoptivo, Woody Allen. Depois disso, Ellen Page escreveu na sua página de Facebook que trabalhar com Woody Allen, no papel de Monica em Para Roma com Amor, de 2012, tornou-se no “maior arrependimento” da sua carreira e foi “um erro terrível”. Há uma semana, Dylan voltou à carga e foi a vez de Mira Sorvino, que ganhou um Óscar para melhor actriz secundária com Poderosa Afrodite (1992), mostrar a sua solidariedade com a jovem, declarando, contudo, que foi sempre respeitada pelo realizador.

No início desta semana, Oprah Winfrey, que protagonizou um dos discursos mais elogiados por Hollywood na cerimónia dos Globos de Ouro, organizou uma mesa redonda com algumas das vozes mais activas do movimento Time’s Up. A Natalie Portman, Reese Witherspoon, Shonda Rhimes, Nina Shaw, America Ferrera e Tracey Ellis Ross, Oprah dirigiu a questão: “o tempo de Woody Allen acabou?”.

Natalie Portman foi uma das mais assertivas no seu julgamento e apoio a Dylan. “Eu acredito nela. Eu acredito na Dylan”, afirmou. As restantes presentes acenaram em concordância. Além delas, a actriz Jessica Chastain também afirmou acreditar em Dylan Farrow. "Eu acredito em ti e estou horrorizada pela forma como a indústria e a sociedade não esteve do teu lado nem te protegeu", escreveu Patrícia Arquette, em resposta a Dylan Farrow.

Também esta semana, o actor Timothee Chalamet anunciou que vai doar o salário que recebeu do ainda por estrear A Rainy Day in New York. Chalamet, de 22 anos, foi um dos actores a usar um pin de apoio ao movimento Time’s Up nos Globos de Ouro e protagoniza o filme com a actriz e cantora Selena Gomez. O anúncio de Chalamet na sua conta de Instagram segue o da actriz Rebecca Hall e de Griffin Newman, que também anunciaram a decisão de doar os seus salários a causas relacionadas com abuso sexuais. Chalamet vai entregar o seu salário a três organizações: Time’s Up, RAINN e ao Centro LGBT de Nova Iorque. 

Acusações são “injustas e tristes”

No entanto, também há quem defenda o realizador. Kate Winslet e Alec Baldwin são duas das vozes que consideram que o realizador está a ser alvo de injustiça com o julgamento público.

Winslet, que protagoniza o último filme do realizador, A Roda Gigante, lembrou que Woody Allen nunca foi condenado em tribunal pelas alegadas acusações de Dylan Farrow. "Ele é um homem de 81 anos que passou por dois anos de um caso em tribunal e, tanto quanto sabemos, não foi condenado por nada", disse a actriz, citada pelo The Telegraph, lembrando como o realizador escreve sempre personagens femininas fortes. "De certo modo, penso que num determinado nível Woody é uma mulher. Ele está muito ligado a esse seu lado porque ele compreende as personagens femininas que cria excepcionalmente bem", acrescentou ao australiano Sydney Morning Herald.

Também Baldwin lembra que a investigação criminal não resultou em acusações. O actor, que integrou três filmes de Woody Allen, disse no Twitter que a renúncia ao realizador de 82 anos e ao seu trabalho é "injusta e triste", sublinhando que trabalhar com Allen foi "um dos privilégios” que destaca na sua carreira.

Baldwin ressalva que não pretende "minimizar ou ignorar tais queixas [de assédio sexual]",mas que “acusar pessoas de tais crimes deve ser feito com cuidado”, acrescentou. “Também em nome da defesa das vítimas”, concluiu.

Ao lado das figuras de Hollywood que apoiam Woody Allen, está também o produtor e realizador de um documentário sobre a vida de Woody Allen, Robert B. Weide, que ainda em 2014 – data em que Farrow publicou uma carta aberta no jornal The New York Times onde relatou os alegados abusos sexuais – defendia a inocência do realizador.

No texto, o produtor lembra a relação de Allen com Soon-Yi Previn, que conheceu como filha adoptiva de Mia Farrow [com André Previn] e com quem Allen casaria em 1997. A relação – que se mantém até aos dias de hoje – confunde a opinião pública e contamina o juízo feito a Allen, argumenta Weide.

Robert B. Weide lembra ainda que as acusações de Dylan Farrow surgiram depois de Allen e Soon-Yi Previn assumirem uma relação e que em tribunal as dúvidas sobre a veracidade das acusações fizeram que não existe nenhuma condenação.

A entrevista da CBS a Dylan Farrow é transmitida nesta quinta-feira.

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