França já não é a campeã da natalidade na Europa

São sobretudo as mulheres francesas entre os 25 e os 34 anos que estão a ter menos filhos. A crise de 2008 e a redução dos apoios estatais tem a ver com esta quebra.

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Desde 2010 que está a descer o número de filhos por mulher em França Jumana El Heloueh/REUTERS

França é normalmente apontada como o exemplo de um país europeu que, contra corrente, conseguiu ter políticas de natalidade eficazes para que continuassem a nascer bebés suficientes para travar o envelhecimento populacional. Mas a receita mágica francesa está a deixar de fazer efeito: em 2016 o número médio de filhos por mulher ficou-se por 1,88, abaixo do necessário para a substituição de gerações.

Comparado com Portugal, que no mesmo ano registou 1,36 filhos por mulher, continua a ser um valor elevadíssimo. E continua na dianteira dos países europeus – à excepção da católica Irlanda (1,90). No Reino Unido, país que é um dos mais procurados destinos de imigração, a taxa de natalidade é de 1,80 filhos por mulher.

Segundo números do Eurostat, Portugal foi um dos países com menos nascimentos na Europa em 2016 (8,4 por cada mil habitantes). Através do número de testes do pezinho – um teste de rastreio feito aos recém-nascidos e, por isso, uma forma de fazer o cálculo do número de nascimentos – divulgados no início de 2018 pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge apontam para que em 2017 tenha havido menos 1397 bebés testados do que em 2016, o que equivale a uma quebra de 1,6% nos nascimentos.

Foi em 2010, na verdade, que se iniciou a descida no número de bebés nascidos em França, mas tem-se vindo a acentuar desde então. São sobretudo as mulheres entre os 25 e os 34 anos que têm menos filhos que antes, revelam os dados do Instituto Nacional de Estatística e dos Estudos Económicos (INSEE) francês divulgados esta semana.

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Os investigadores sublinham que não há um modelo explicativo para esta quebra nos nascimentos – “Resulta de decisões pessoas ligadas à evolução das mentalidades”, disse ao Le Monde Laurent Chalard, geógrafo de populações na Universidade Paris-Sorbonne. Mas outros sublinham que a descida começou após a crise financeira de 2008, que provocou uma baixa de natalidade na maior parte dos países desenvolvidos. “Em França, as políticas sociais e familiares retardaram as suas consequências”, sublinha Gilles Pyson, professor de Demografia no Museu Nacional de História Natural.

Por outro lado, a política de apoio à família sofreu vários cortes durante os cinco anos de mandato de François Hollande e esse caminho está a ser continuado pelo Presidente Emmanuel Macron, que atingem as classes mais altas e também a classe média.

“Os efeitos das medidas tomadas desde 2012 começaram a fazer-se sentir-se em 2016, e agravaram-se em 2017. É preciso não esquecer que os cortes no dinheiro destinado às autarquias tornou-as mais reticentes a desenvolver estruturas para acolher as crianças. As dificuldades em conciliar vida familiar e profissional tornaram-se maiores”, considerou Gérard-François Dumont, demógrafo na Universidade Paris-Sorbonne, em declarações ao Le Monde

Em Portugal aponta-se também a falta de apoios - às famílias, nos horários no emprego, no acesso às creches, na ajuda à compra de manuais escolares, por exemplo - como factores que dificulta o aumento da natalidade.

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