Rui Rio ganhou… a pensar na derrota de 2019

Por mais ideias que Rio tenha para o futuro do país e do seu partido, ele precisa de permanecer na liderança para as implementar. A sua prioridade até ao final de 2019 será só uma: sobreviver.

Há muita gente espantada com o facto de Rui Rio ter anunciado durante a campanha para a liderança do PSD a sua disponibilidade para se aliar com António Costa em caso de derrota nas eleições de 2019. Nos debates com Santana Lopes, Rio não recorreu às habituais evasivas sobre o tema – “não é o momento para discutir esse assunto”, “não admito à partida a hipótese de derrota”, e outras banalidades –, preferindo assumir a possibilidade de perder as próximas legislativas e a abertura para formar um novo Bloco Central. Muita gente não percebeu esta opção e achou mesmo que ela iria beneficiar Santana – e pode, de facto, ter reduzido a margem da sua vitória. Mas, se pensarmos um bocadinho, o que Rui Rio fez é perfeitamente compreensível, e até avisado: o novo presidente do PSD tem menos de dois anos para se preparar para a derrota nas próximas legislativas, e por isso começou em Janeiro de 2018 a construir o caminho para a sua sobrevivência política após Outubro de 2019.

A não ser que o desacreditado diabo sempre acabe por aparecer, o que nesta altura ninguém prevê, António Costa vai ganhar as próximas eleições com facilidade, por mais intervenções vistosas que Rui Rio faça. A razão é simples: os governos caem por demérito próprio ou cansaço dos eleitores, e não pelo brilhantismo da oposição. Ora, o país não está cansado de Costa e do seu Governo. E Rio não esteve tanto tempo à espera de chegar à liderança do PSD para o seu mandato durar um ano e nove meses, e de seguida ser corrido por um qualquer Montenegro. A sua estratégia não pode, portanto, passar por imitar Santana Lopes, com um discurso exageradamente optimista e um voluntarismo inversamente proporcional à sua eficácia, mas sim de cautelosamente gizar uma estratégia que lhe dê alternativas para se aguentar na São Caetano à Lapa após uma vitória por maioria relativa do PS.

Claro que se Costa ganhar por maioria absoluta Rui Rio está condenado. Mas se o PSD encurtar distâncias para o PS e conseguir uma derrota honrosa, ele pode ter hipóteses de se manter no lugar. Se o PS aceitar a criação de um novo Bloco Central com o argumento das reformas de que o país precisa, o PSD acabará por regressar ao poder. E se o PS não aceitar – como, no fundo, penso que Rio pretenderá –, ele poderá então argumentar que o PS se encostou, por vontade própria, à extrema-esquerda, solidificando a posição do PSD como alternativa moderada a uma segunda “geringonça”, que certamente não terá a estâmina da primeira.

Não vale a pena estar aqui a argumentar com a imprevisibilidade da política. Sim, tudo isto pode correr mal. Mas, em cada momento, é necessário ter um plano para o futuro, e, se este for o de Rui Rio, não me parece mal construído – até porque Rio terá em Marcelo um aliado, por mais desentendimentos que possam ter tido no passado. Marcelo é pragmático e está pouco interessado em que os portugueses ofereçam uma maioria absoluta ao PS, desde logo porque isso iria diminuir o seu próprio poder. Visto desta perspectiva, a ideia de assumir à partida a possibilidade de um Bloco Central é a estratégia mais interessante para Rui Rio não ser um simples líder a dois anos. É evidente que aquilo que é bom para Rui Rio não é necessariamente bom para o PSD. Mas essa é uma outra conversa. Por mais ideias que Rio tenha para o futuro do país e do seu partido, ele precisa de permanecer na liderança para as implementar. A sua prioridade até ao final de 2019 será só uma: sobreviver.

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