Mais obras na Santos Pousada: agora, há um vazio no subsolo

Uma zona oca no subsolo na Rua Santos Pousada, no Porto, levou ao corte parcial da circulação automóvel. Já está a ser realizado o levantamento técnico, mas ainda não há data para a sua conclusão. O problema poderá ocorrer noutras zonas do Porto.

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Foi na instalação de um tubo de saneamento na Rua da Póvoa que se descobriu o oco Joana Gonçalves
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A instalação de um tubo de saneamento na Rua da Póvoa, no Porto, revelou um oco no subsolo com sete metros de profundidade na rua perpendicular, a Santos Pousada. A descoberta do “buraco”, na manhã da passada segunda-feira, levou ao corte parcial da circulação automóvel nesta última artéria. Assim, o trabalho iniciado pela empresa municipal Águas do Porto estende-se para lá do suposto: a área de actuação aumentou para 15 metros, ou seja, em toda a largura da faixa de rodagem daquela rua, um procedimento levado a cabo para que se corrija e se perceba o que ali terá acontecido.

O gabinete de comunicação da Câmara Municipal do Porto não apontou ainda ao PÚBLICO nenhuma data para a conclusão das obras, dado que esta só será divulgada quando o “levantamento técnico” terminar. Esta é uma situação “anómala” e, acrescenta o município, “não existem indícios que permitem relacionar o vazio no subsolo agora detectado com trabalhos anteriormente executados no local”. É que a Rua de Santos Pousada – tal como os troços de artérias adjacentes, como a Rua da Póvoa ou a Fernandes Tomás – foi alvo de requalificação, numa empreitada que iniciou no Verão de 2015, terminando dois anos depois.

Para os residentes daquela zona, a nova intervenção dá a ideia de que “as obras não têm fim”. Pelo menos é essa a percepção de Manuel António, que vive um pouco acima do lugar onde os “muros de arame” circundam a intervenção, bem no centro da faixa de rodagem daquela rua. “Há obras em todo o lado, ali em cima é a mesma coisa”, indica, apontando para o Jardim Paulo Vallada, numa das ruas perpendiculares à Santos Pousada. Perto desse jardim, um polícia ajuda os condutores surpreendidos, indicando-lhes duas alternativas: pela Avenida Fernão Magalhães, em direcção ao Campo 24 de Agosto, ou pela Baixa da cidade, atravessando-se as ruas do Moreira, de Anselmo Braamcamp e, por fim, a Rua da Firmeza. Por causa das obras, e temporariamente, os veículos circulam em ambos os sentidos, tanto antes como depois do local das obras, contornando as regras de trânsito impostas. É o caso de quem trabalha na Unidade de Saúde de Santos Pousada, de onde sai Júlia Soares.

Residente numas “habitações que [da Unidade de Saúde] não se vêm”, a transeunte diz não ficar “surpreendida por haver obras outra vez”. Ainda que a CMP afirme que os reparos anteriores naquela rua não estejam relacionadas com o oco encontrado, Júlia Soares não se deixa convencer e aponta que, “se assim fosse, já se podia ter dado conta do problema nessa altura”.

Um problema de “várias zonas do Porto”

Existe, no subsolo da rua, um dos maiores problemas de águas pluviais do Porto. Para a empreitada iniciada no Verão de 2015, ficou acordado “mexer nas tubagens de esgoto, de abastecimento de água e de águas pluviais”, noticiou o PÚBLICO na altura. Naquela zona passam várias ribeiras cujo percurso foi afectado pelas obras do metro, o que provocava inundações recorrentes. Apesar de os colectores – que acomodam a força das águas – terem sido substituídos, tal pode não ser suficiente para evitar mais situações destas. Como se forma, então, um oco?

Fernando Noronha, professor de Geologia na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), esclarece que a anomalia “pode surgir de rios subterrâneos entubados ou da rotura de um cano que permita a água perdida circular”, rompendo as rochas do subsolo. “O Porto é uma cidade granítica”, explica, “mas, em determinadas zonas da cidade, pode estar afectada e, nesse caso, transforma-se em caulino”. Nestes casos, a caulinização acontece dado o “rompimento da rocha pela água” e aumenta, sobretudo, com a pluviosidade.

O Campo 24 de Agosto, que se situa perto da rua alvo de obras, “é muito susceptível a este tipo de problemas, mas há muitas mais zonas no Porto cheias de caulino, como a Circunvalação”, aponta o professor catedrático da FCUP, acrescentando que, “em tempos, o problema observava-se na zona da Campanhã”. As zonas “mais problemáticas” deste ponto de vista podem ser identificadas na Carta Geotécnica do Porto, que teve a sua primeira versão nos anos 90, mas que em 2003 foi renovada “seguindo os moldes das novas tecnologias, para futura actualização”. 

Texto editado por Ana Fernandes

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