Jovens talentos à prova

O pianista João Casimiro de Almeida e a dupla João Terleira e Luís Duarte abriram o ciclo Prémio Novos Talentos Ageas, que decorrerá ao longo de todo o ano na Casa da Música. Em 2019 saber-se-á quem é o vencedor.

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João Casimiro de Almeida DR

Está oficialmente aberta a segunda edição do Prémio Novos Talentos Ageas – em causa, uma distinção pecuniária no valor de cinco mil euros a atribuir ao músico/agrupamento mais votado pelo público no decorrer do ciclo de recitais de jovens músicos que se realizará ao longo deste ano, na Casa da Música, abrangendo áreas tão diversas como música de tradição erudita, jazz e fado.

O recital de abertura, a 9 de Janeiro, coube ao pianista João Casimiro de Almeida, formado na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo (ESMAE) do Porto e, posteriormente, no Conservatório Nacional Superior de Música e Dança de Paris. A sua abordagem às primeiras duas peças em programa não deixou antever o que viria a passar-se de seguida. Na verdade, a Gôndola fúnebre nº 1, de Liszt, e a transcrição do mesmo compositor da Morte de amor de Isolda, de Wagner, poderiam não ter acontecido e ter-se-ia evitado a errónea antevisão de um longo momento de enfado. Com as Quatro Baladas op. 10, de Brahms, João Casimiro de Almeida revelou, afinal, uma grande sensibilidade musical e uma habilidade na construção que até aí permanecera difusa. Foi, no entanto, na segunda parte que demonstrou o seu amplo potencial, deslumbrando com as Figurações II – pequena peça de forma aberta que Filipe Pires (1934-2015) compôs em 1967 – e com a Sonata de Liszt.

João Casimiro de Almeida deixou bem claro que trabalha tanto com o ouvido como com uma robusta “mecânica” e que a sua leitura das obras integra a qualidade do som como um parâmetro da maior importância. De grande clareza, a sua interpretação da Sonata de Liszt quase revela um novo sentido da partitura, rivalizando com as de brilhantes pianistas da actualidade. À saudação do público respondeu com um duplo brinde de Schumann e Scriabin (que muito melhor lhe assentam do que as duas primeiras peças do programa).

Também com formação feita na ESMAE, a dupla João Terleira (tenor) e Luís Duarte (piano) lançou-se depois, no domingo, à audaciosa tarefa de interpretar o ciclo Viagem de Inverno de D911, de Schubert – obra talvez ainda mais exigente a nível interpretativo do que a nível técnico.

É certo que a Sala Suggia é bastante ingrata, mas, mesmo considerando as fragilidades acústicas da sala e a reprovável atitude de espectadores que amiúde conversaram como num café, esperava-se um pouco mais de um cantor que se propõe empreender "a" viagem numa “mostra de talentos”. 

Num ou noutro momento, percebeu-se bem a intenção expressiva de João Terleira, como em Sonho da Primavera, A cabeça grisalha ou Poste indicador (canções nº 11, 14 e 20), sendo possível apreciar breves subtilezas vocais que contrariavam alguma debilidade do seu registo grave. Mais afirmativo e bastante musical, ocasionalmente Luís Duarte assumiu pleno protagonismo, quase olvidando a tormenta do seu parceiro de equipa.

Não obstante a diferença de nível dos dois recitais, o duo não foi menos aplaudido do que João Casimiro de Almeida havia sido. Em 2019, saber-se-á se algum destes músicos se encontra entre as preferências do público.

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