Condenados os réus do maior caso de corrupção política na Catalunha

Esquema ilegal de financiamento do partido de Jordi Pujol e Artur Mas foi exposto, ao escolher-se um novo president da Generalitat

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O sistema começou com Jordi Pujol na Generalitat Sergio Perez/REUTERS

É o desfecho do maior escândalo de “corrupção política sistémica” na Catalunha, juntando desfalques, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, falsificação de concursos públicos e financiamento ilegal do partido Convergência Democrática da Catalunha (CDC).

A sentença foi lida ontem no tribunal da Audiencia de Barcelona. Felix Millet, ex-presidente da centenária instituição cultural, foi condenado a nove anos e oito meses de prisão, por vários delitos, entre eles o desvio de milhões de euros para obras nas suas moradias privadas e “férias de luxo” — ele próprio o reconheceu numa “carta de confissão” ao tribunal. Foi-lhe imposta uma multa de 4,1 milhões de euros e decretada a apreensão de 2,8 milhões.

O seu mais directo colaborador, Jordi Montull, foi condenado a 7 anos e meio. Outros oito responsáveis do Palau e chefes de empresas foram igualmente condenados. Millet, 82 anos, e Montull nunca estiveram presos, devendo permanecer em liberdade até à decisão do seu recurso para o Supremo Tribunal.

A Justiça calcula que o montante do “saque do Palau” orça os 23 milhões de euros. O caso empresa Ferrovial exemplifica o “esquema”.

Em troca da obtenção de grandes empreitadas, como o Palácio da Justiça ou uma linha de metropolitano, a Ferrovial pagava comissões de 3 ou 4%, encaminhadas para o Palau a título de “doações altruístas”. Millet e Montull entregavam o grosso aos tesoureiros da CDC e guardavam uma fracção para si. A CDC, partido que, com Jordi Pujol e Artur Mas governou a Catalunha durante mais de duas décadas, foi condenada a pagar 6,6 milhões de euros pela cobrança de comissões ilegais através do Palau.

O Palau, uma instituição centenária que alberga o Orfeó Català, é um dos lugares privilegiados da velha burguesia catalã, um grupo social cujo estatuto não é apenas marcado pela fortuna. Disse Millet numa rara entrevista: “Somos umas 400 pessoas, que nos encontramos em toda a parte. É natural porque somos parentes.” A endogamia é uma das suas marcas. Hoje, Millet é o homem que “traiu” e manchou a elite. Tal como Jordi Pujol manchou o nacionalismo catalão.

Revés para Puigdemont

A sentença surge num momento politicamente “delicado”. Na quarta-feira começa o controverso processo de eleição da mesa do parlament de Barcelona a que se seguirá o “mistério” da eleição do presidente da Generalitat.

Carles Puigdemont pretendia ser eleito por videconferência ou por interposta pessoa. Mas os advogados do parlament consideraram ontem que o regulamento da câmara não o permite . Esta disputa condiciona um “apaziguamento” ou uma nova radicalização do conflito com Madrid.

Mas é sobretudo tema de uma luta encoberta entre os partidos independentistas, entre o PDeCAT (sucessor da CDC) e a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e no seio do próprio PDeCAT, de que Puigdemont faz parte. Uma das coisas em disputa neste partido é o controlo das subvenções parlamentares. Ora, com esta sentença, o PDeCAT entra em situação de falência. Restar-lhe-á vender o património.

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