Jovem corre pela diabetes: "Fez-me dar valor à vida"

O brasileiro Bruno Helman usa a sua história para mostrar que a doença não deve limitar a vida dos diabéticos.

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O jovem maratonista participa em eventos solidários com o objetivo de encontrar uma cura para a diabetes DR

Quando aos 18 anos foi diagnosticado com diabetes tipo 1, Bruno Helman pensou que a sua vida tinha acabado. “Parecia que estava destinado a morrer”, recorda o jovem atleta brasileiro. Hoje participa em maratonas e esteve em Portugal, onde 13% da população é diabética, para correr e contar a sua história. “A diabetes fez-me dar valor à vida”, declara.

A doença, que afecta aproximadamente 420 milhões de pessoas no mundo, não deve ser limitadora e, no caso de Bruno, 23 anos, apesar de precisar de cuidados diários, o jovem paulista usou-a como ponto de viragem na sua vida. Se há cinco anos não tivesse desenvolvido diabetes, hoje a sua vida “seria infeliz e sem objectivos”, acredita, porque não teria a motivação e os amigos que a doença lhe proporcionou, justifica. A doença fá-lo sentir-se grato por cada dia e o seu lema é “viver ao máximo”.

Antes de a diabetes ser diagnosticada, o jovem sabia pouco sobre o assunto e acreditava que a doença estava associada ao sedentarismo. “Mas não é verdade”, constatou Bruno, que sempre levou uma vida saudável, praticando vários desportos. No seu caso, a diabetes de tipo 1, está relacionada com factores hereditários ou genéticos que ainda não conseguem ser controlados. 

Por ter um estilo de vida saudável, o jovem garante que não teve de fazer mudanças drásticas nos seus hábitos diários. A principal passa pela atenção que Bruno dá ao seu corpo: “Tenho sempre em conta as respostas metabólicas que os alimentos provocam no organismo antes de ingerir algo”, atesta o jovem maratonista que se recentemente se tornou vegano, ou seja, não come carne, ovos, leite e seus derivados.

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Bruno Helman usa a sua história para quebrar estigmas associados à diabetes DR

Uma mão a empurrá-lo

Se antes já fazia desporto, depois do diagnóstico decidiu acompanhar o pai numa maratona – desde os 20 anos que o pai participava nestas corridas –, “como forma de agradecimento pelo carinho que ele me deu ao longo dos anos”. A primeira aconteceu em Maio de 2016 no Rio de Janeiro, com o pai ao seu lado durante os 42 quilómetros da prova.

Depois disso, Bruno percebeu que a corrida “podia ser utilizada como um movimento político”, usada como forma de promover o seu activismo e de ajudar instituições e grupos de apoio a diabéticos e suas famílias. Por isso criou o movimento “Running 42k for 420 millions” (Correr 42 quilómetros por 420 milhões), que o ano passado arrecadou mais de quatro mil euros, “doados na totalidade à associação norte-americana JDRF, que faz pesquisa científica sobre a diabetes tipo 1” e permitiu a Bruno participar na Maratona de Nova Iorque em 2017.

O objectivo era correr em representação de todas as pessoas que vivem com a diabetes (420 milhões). Para o atleta, a força de todos os que têm esta doença esteve presente naquele dia e sentiu como se “uma mão enorme o empurrasse ao longo da prova”, recorda. Fez o seu melhor tempo de sempre.

No início deste ano, esteve em Portugal, a passar alguns dias com a família, e fez questão de visitar a Associação Portuguesa de Jovens Diabéticos e a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal. Participou também numa caminhada de cinco quilómetros em Lisboa, organizada pela primeira e mostrou-se “positivamente impressionado” com a dedicação destas organizações. Na comparação que faz com o seu país, Bruno Helman lamenta que os doentes brasileiros tenham maiores dificuldades que os portugueses, pois podem ficar “sem acesso a insulina devido a quebras de distribuição”.

O jovem maratonista mostra-se triste por a diabetes ainda ser vista com “estigma e preconceito”, que exista quem esteja convencido que a “diabetes é algo que possa ser transmitido”, o que coloca os doentes numa posição de exclusão social. Outro dos pensamentos infundados sobre esta patologia prende-se com a noção de que a diabetes é uma condição fatal. “Não vai ser a diabetes que vai matar alguém, desde que a pessoa trate de si e tenha acesso a cuidados de saúde”, sublinha.

Bruno Helman quer estar para sempre ligado a esta causa. Deseja fazer um mestrado na área da saúde pública para garantir que todos os diabéticos têm acesso aos equipamentos e medicamentos necessários. Irá começar a trabalhar na Associação Diabetes Juvenil, a maior associação de apoio aos diabéticos do Brasil, e vai continuar a correr. Não quer ser considerado um herói, afinal não faz nada de extraordinário, procura apenas ajudar as pessoas com uma história semelhante à sua.

Texto editado por Bárbara Wong

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