Martin Rees: “Sou um optimista tecnológico mas um pessimista político”

Alterações climáticas, biotecnologias, viagens a Marte, “Brexit” ou, claro, as ondas gravitacionais previstas há cem anos por Einstein, todos assuntos para uma entrevista com um dos astrónomos hoje mais influentes a nível mundial.

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Martin Rees, o Astrónomo Real britânico, na Galeria da Biodiversidade, no Porto Manuel Roberto

É um dos cientistas britânicos mais prestigiados no mundo. Aos 75 anos, o astrofísico Martin Rees, cuja área de investigação incluiu a formação de buracos negros e de galáxias ou o Big Bang, dedica-se agora a alertar para os perigos dos avanços científicos sem controlo e as ameaças ao planeta, como as alterações climáticas. Veio a Portugal para a conferência A Ciência no Século XXI: Oportunidades e Ameaças, organizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos no Porto, no final do ano passado, a propósito do lançamento em português do seu livro Para o Infinito – Horizontes da Ciência (editora Gradiva), originalmente publicado em 2011.

Foi director do Instituto de Astronomia da Universidade de Cambridge e, entre 2005 e 2010, presidente da Royal Society, a mais antiga sociedade científica do mundo. Membro da Câmara dos Lordes, Martin Rees é desde 1995 o astrónomo real britânico, um título de prestígio criado em 1675 (para quem dirigia o Real Observatório de Greenwich, agora um museu) e que hoje é honorífico, com o papel de aconselhar a Rainha de Inglaterra em assuntos astronómicos. “Como tenho o título de astrónomo real, às vezes perguntam-me: ‘Faz os horóscopos da Rainha?’”, disse no Porto, seguindo-se os risos de quem o ouvia na Galeria da Biodiversidade, com o esqueleto de uma baleia suspenso por cima das nossas cabeças. “Respondo que nunca mo pediram – sou apenas um astrónomo. Não tenho uma bola de cristal.”

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O astrofísico britânico com o seu último livro publicado em Portugal Manuel Roberto

Ainda assim, disse atrever-se a tentar fazer previsões para as próximas décadas porque o século XXI é crucial, como explica também no livro Para o Infinito – Horizontes da Ciência: “A Terra existe há 45 milhões de séculos, mas este é o primeiro em que uma espécie – a nossa – pode determinar, para o bem e para o mal, o futuro de toda a biosfera. Durante a maior parte da nossa história, as ameaças vieram da natureza – doenças, sismos, inundações, etc. Mas agora vêm de nós próprios. Entrámos no que alguns chamam a Era Antropocénica.” Está lançado o mote principal para a conversa que se segue – pessimista. “Todavia, apesar da apreensão, há razões para optimismo”, contrapõe também no livro. “Para a maior parte das pessoas na maior parte dos países, nunca houve um tempo melhor para se viver.”

Como um dos membros do painel do Relógio do Apocalipse, acha que em 2017 a humanidade ficou mais perto do apocalipse – por causa das alterações climáticas (manifestadas em furacões, secas ou incêndios florestais), do anúncio da saída dos EUA do Acordo de Paris ou da tensão entre Donald Trump e Kim Jong-un e dos testes nucleares e de mísseis balísticos Coreia do Norte? Em 2016, este relógio metafórico tinha ficado a dois minutos e meio da meia-noite...
O relógio esteve igualmente perto da meia-noite durante parte da Guerra Fria e no final, por volta de 1990, foi colocado a 17 minutos da meia-noite. Mas recentemente, por várias razões, tem avançado de forma gradual, pelo facto de o mundo parecer instável, pelas armas nucleares e também pelas alterações climáticas. Acrescentaria outra coisa: temos tecnologias, biotecnologias, cibertecnologias que avançam muito rapidamente e que podem ser mal usadas, com intenção ou por engano, e causar catástrofes graves. O mundo está a ficar um local mais difícil de governar e há mais coisas com que temos de nos preocupar.

Uma dessas tecnologias é a técnica de edição genética [a CRISPR-Cas9]?
Em princípio, essa técnica é uma boa notícia, porque remove genes de pessoas que têm um risco de doenças congénitas. Mas pode ser usada de formas não éticas, para melhorar capacidades das pessoas. E há outras coisas que podem fazer-se com ela, como o que se chama gene drive [forçamento genético], que é tornar uma espécie estéril ou fazer só machos ou só fêmeas. Sugeriu-se fazer isso nos mosquitos que transmitem o vírus de Zika, para os levar à extinção. Obviamente que pode ser bom, mas há o risco de ficar fora de controlo.

Outra biotecnologia perigosa são as experiências para um “ganho de função”, para o vírus da gripe [por exemplo] ficar mais forte ou mais infeccioso. A justificação é: se queremos fazer vacinas, seria bom estarmos um passo à frente da natureza. O vírus está sempre a mudar e, se fizéssemos estas mutações nós próprios, iríamos percebê-lo melhor. Mas é perigoso tornar um vírus mais forte, este conhecimento podia ser mal usado e há o risco de o vírus se escapar do laboratório.

São exemplos de biotecnologias que, embora muito entusiasmantes, têm riscos. Os equipamentos necessários estão largamente disponíveis nos laboratórios industriais e universitários. Por isso, é muito difícil monitorizar o uso de técnicas que permitem produzir armas biológicas. Não é como fazer uma arma nuclear, que necessita de instalações muito grandes e é possível haver uma monitorização, o que tem sido feito com algum sucesso. A minha preocupação é que há 50 anos havia apenas alguns laboratórios no mundo, agora há muitos e grande pressão comercial. Mesmo que tenhamos regulamentações, vai ser muito difícil aplicá-las, tal como é difícil aplicar as leis das drogas ou dos impostos por todo o mundo.

Então, por que é que a edição genética, excepto numa reunião em Washington em 2015, não tem tido grande discussão ética?
O que se consegue fazer agora é remover um único gene mau. As pessoas não estão preocupadas porque, se quisermos “desenhar” um bebé mais inteligente ou bem-parecido, isso envolve uma grande combinação de genes e ninguém sabe como fazê-lo. Não é uma possibilidade a curto prazo, por isso não há muito discussão. Mas se for possível melhorar seres humanos, haverá preocupações éticas sobre se isso é correcto e, se for feito, criará alguma desigualdade fundamental. Algumas pessoas terão possibilidade de o fazer, outras não. Até agora, não podemos fazer pessoas mais inteligentes ou sensatas; só é possível remover desvantagens, o que é bom.

Tem considerado a crise das alterações climáticas como um desafio político único e que resolvê-lo é uma questão de justiça e altruísmo intergeracionais. Quer explicar estas ideias?
Sabemos que o dióxido de carbono [CO2] na atmosfera vai ficar lá centenas de milhares de anos. E quanto mais C02 se acumular, mais a temperatura vai subir e o clima mudar. É muito difícil fazer face às alterações climáticas porque as mudanças são muito graduais e a maioria dos políticos centra-se no seu país, na sua região e numa escala temporal de alguns anos, antes da próxima eleição. No caso das alterações climáticas, estamos a pedir que se façam mudanças que beneficiem pessoas daqui a 20, 30 ou 50 anos, e a afastar a possibilidade de um desastre sério daqui a 100 anos. Além disso, os efeitos serão piores não no seu país ou no meu, mas em partes de África ou da Índia. Por isso, é muito difícil agir de forma a beneficiar pessoas que ainda não nasceram e que vivam nestas zonas do mundo.

A maneira mais esperançosa de reduzir o risco das alterações climáticas é acelerando a investigação e o desenvolvimento de energias limpas, com zero carbono, como a energia solar e talvez a quarta geração de reactores nucleares. Se aceleramos a investigação e gastarmos mais nisso, o desenvolvimento de energia limpa será mais rápido, os custos vão baixar e os países em desenvolvimento terão menos necessidade de construir centrais eléctricas a carvão.

Mas a questão sobre as alterações climáticas não é só tecnológica, é sobretudo política...
Discordo do que disse. Se a energia limpa for tão barata como o carvão, as pessoas e todas as cidades vão usá-la e não é preciso pressão política. Essa é a nossa melhor esperança, porque não requer pressão política.

O que pensa então do Acordo de Paris? E de Trump querer que os EUA saiam desse acordo?
Penso que a atitude de Trump não faz assim muita diferença. O governador Brown na Califórnia e alguns mayors das grandes cidades apoiam formas de reduzir as emissões de CO2. O Acordo de Paris foi um grande feito: toda a gente prometeu fazer alguma coisa, não quer dizer que façam, mas prometeram. O acordo não tem metas, mas os países declaram o que querem reduzir nas emissões e daqui a cinco anos reúnem-se e revêem isso. É importante manter a dinâmica.

Aliás, penso que um desenvolvimento que levou a esse consenso foi a encíclica do Papa [Francisco] em 2015 [intitulada Sobre o Cuidado da Casa Comum], onde disse que tínhamos o dever de defender o ambiente. Foi a primeira declaração clara de um Papa de que os seres humanos têm o dever de preservar o ambiente; de que a natureza tem valor por direito próprio e que devemos preservar o resto da criação tão bem como os seres humanos.

Sou um dos conselheiros da Pontifícia Academia das Ciências. Em 2014, tivemos reuniões científicas [sobre o clima e o ambiente], onde estavam funcionários do Papa, e que lançaram algumas das bases científicas quando o Vaticano começou a preparar esta encíclica. O documento é muito bom e eficaz. Teve muita influência na América latina, em África e no Leste da Ásia, onde a Igreja Católica tem os seus milhares de milhões de seguidores, e tornou mais fácil o consenso em Paris. Isto leva-me a pensar que, geralmente, as religiões no mundo podem de facto ter um efeito positivo nestas questões. Independentemente do que pensemos sobre a Igreja Católica, e eu não sou crente, ela tem um alcance global, pensa a longo prazo e quer saber dos pobres no mundo. É por isso que pode ser eficaz. Os políticos normalmente centram-se no curto prazo e em questões locais. Se as religiões conseguem que os seus seguidores pensem sobre o ambiente e o clima, então terão um bom efeito.

Além das armas nucleares (já disse, aliás, que não as podemos “desinventar”) e das biotecnologias e das alterações climáticas, que outros riscos existenciais enfrentamos?
Somos vulneráveis porque o mundo está tão interligado que uma ruptura grave numa zona afecta em cascata o resto do mundo. É mais difícil governá-lo porque um número pequeno de pessoas pode provocar uma perturbação maciça através de ciberataques ou ataques biológicos. Já vimos o que um ciberataque pode fazer. É o que mais me preocupa. Antes poderíamos ter o colapso ou uma pandemia num país e isso não se espalhar a outro continente. Mas agora a maioria destes desastres afectariam o mundo porque as viagens, a produção e as finanças são globalizadas. O que é uma coisa nova, comparado com há cem anos.

Também temos mais informação científica do que alguma vez tivemos. Mas parece haver mais movimentos de pseudociência e Trump é um exemplo de alguém com um pensamento anticientífico, como é no caso das alterações climáticas. Isto não é um paradoxo?
Sempre foi assim. Sabemos que Trump usa a Internet e o telemóvel, mas não se apercebe de que as tecnologias que incorporam são incrivelmente complicadas. E que precisam de diferentes tipos de descobertas científicas. Algumas pessoas, como Trump, não se apercebem de como estas tecnologias são extraordinariamente inteligentes. Dizem que gostam de tecnologias, mas não gostam de ciência.

Mudando de assunto, tem dito que é importante a procura de vida extraterrestre mas que, provavelmente, só se encontrarão micróbios e não vida inteligente...
Embora pense que há 1% ou 2% de hipóteses de encontrarmos vida inteligente, vale a pena o esforço e gastar uma quantia moderada de dinheiro, porque tanta gente está fascinada pela questão. Se não procurarmos, não os encontraremos de certeza.

Mesmo que só encontremos vida microbiana, se o seu ADN for diferente do nosso, então isso significaria que a transmissão genética se faz de forma diferente e provaria que a vida é muito comum no Universo...
É verdade. Se encontrarmos vida simples, em Marte ou debaixo do gelo de Europa ou Encelado, luas de Júpiter e Saturno, será muito importante. Mostraria que a vida pode ser originada duas vezes num sistema solar, então tem de ser muito comum. A maioria das pessoas suspeita que é comum, mas agora não temos argumentos que o fundamentem. Nem sequer sabemos como é que a vida começou [na Terra]. Compreendemos como é que vida simples evoluiu através da selecção de Darwin, mas não compreendemos como passámos de uma química complicada para as primeiras entidades que se reproduziam e a que chamamos vida. Neste momento, não podemos excluir a possibilidade de a vida ser um acaso tão raro que só aconteceu aqui.

É provável irmos a Marte em breve?
Espero que algumas pessoas durante o nosso tempo de vida caminhem em Marte. Mas, claro, à medida que os robôs se tornam mais avançados, a necessidade de enviar pessoas para o espaço para fins úteis ou para fazer ciência, é menor. A única razão para irem ao espaço é como aventura, como subir o Evereste ou ir ao Pólo Sul. E a melhor maneira de o fazerem será com as empresas privadas, e não com a NASA ou a ESA [a Agência Espacial Europeia], que têm de evitar acidentes e reduzir os riscos, o que torna os voos tripulados muito caros. Pessoas como os pilotos de testes ou alpinistas ficam contentes com um nível mais elevado de risco do que a ESA ou a NASA podem impor aos astronautas e que os contribuintes pagam. Por isso, os voos tripulados devem ser deixados para os privados e aventureiros.

Essas viagens serão uma realidade ainda este século? A não ser, é claro, que destruamos a Terra e tenhamos mesmo de procurar outro planeta…
Penso que é perigoso falar disso. Mesmo que alguns pioneiros malucos queiram viver em Marte, será menos confortável do que viver no Pólo Sul ou no Evereste. A ideia de emigração em massa não é sensata. Temos de viver neste planeta e salvar este planeta. Não há um planeta B.

Há uns anos, no seu livro Our Final Century [O Nosso Século Derradeiro] disse que a nossa espécie é a primeira a ter o poder de destruir o planeta e que estamos a causar a sexta extinção em massa. Dizia até que tínhamos 50% de hipóteses de não sobreviver até ao fim deste século. Mantém essas hipóteses?
Diria que as hipóteses de exterminarmos tudo são menores. Mas teremos um caminho acidentado, com muitos revezes da nossa civilização. Sou muito pessimista e penso que, durante este século, haverá retrocessos graves devido ao que já falámos, sobretudo por ataques biológicos ou ciberataques. Sou um optimista tecnológico, mas um pessimista político.

O que quer dizer com isso?
Já temos a tecnologia que podia proporcionar uma boa vida a toda a gente no mundo, mas não estamos a fazê-lo. Vai aumentar o hiato entre o que podemos fazer e o que estamos realmente a fazer. A tecnologia ficará mais poderosa, mas não a usaremos tão bem e algumas pessoas usá-la-ão indevidamente e isso preocupa-me. Se houver pandemias, mesmo naturais, serão muitíssimo graves, mais do que no passado. Quando houve a peste negra, em Inglaterra um terço da população morreu e o resto sobreviveu. Se tivermos uma pandemia agora, assim que o número de casos ultrapassar a capacidade dos hospitais, haverá um colapso social. Só se poderá fornecer tratamento médico adequado a uma pequena parte da população. As pessoas dirão: “Por que não posso ter este tratamento que salva a vida?”.

Tem estado só a falar de uma visão pessimista da ciência, o que dá a ideia de que ela não é também boa para a humanidade...
O que apreendemos é maravilhoso, o que podemos fazer com um smartphone é fantástico. Mas isto é acompanhado por tendências sociais que podem ser negativas e estas tecnologias podem ser usadas de forma indevida.

Defendeu a permanência do Reino Unido na União Europeia. Após o referendo [em 2016], disse esperar que o artigo 50 [do Tratado de Lisboa para a saída de um Estado-membro] não fosse accionado e que houvesse um segundo referendo. Como antevê o desfecho do “Brexit”?
Determinados acordos devem ser submetidos ao escrutínio público. O referendo não especificava as consequências [do “Brexit”] e a maioria das pessoas, muito ignorante em relação a isso, votou pela saída. As classes trabalhadoras sofriam com as políticas governamentais e a austeridade e queriam derrotar o sr. Cameron. Ao accionar o artigo 50, o processo começou. Mas há quem diga que ainda o podemos reverter e que podemos parar o “Brexit”; espero que isso aconteça. Se daqui a uns anos não houver acordo [para o “Brexit”] ou houver um acordo sem a maioria de apoio no país, o que será racional é reverter a situação com um referendo ou no Parlamento. Cameron criou um desastre para o seu país. O melhor desfecho seria o Parlamento recusar-se a aprová-lo.

Que consequências antevê do “Brexit” tanto para a população como para a ciência?
Não falo apenas como cientista. Conseguiremos gerir o financiamento da ciência, o que não conseguiremos gerir é a percepção de que a Grã-Bretanha seja um país menos acolhedor. Neste momento, as pessoas gostam de viver em Inglaterra. Se isso não for possível, a Grã-Bretanha será menos atractiva. Perderemos capacidade de atracção de pessoas talentosas, não apenas pessoas da União Europeia, mas também do resto o mundo.

Falando de astrofísica, os dois últimos anos foram extraordinários para as ondas gravitacionais [pequenas ondulações no próprio espaço-tempo, o tecido do Universo, já detectadas cinco vezes]. Esperava estes resultados?
Sabíamos que muito dinheiro tinha sido gasto nestes detectores de ondas gravitacionais. A tecnologia é espantosa. Esperava-se que a certa altura víssemos algo, mas claro que não sabíamos quanto tempo tínhamos de esperar.

Faltam agora as ondas gravitacionais criadas pelo Big Bang. Mas isso ainda é mais complicado?
Já houve um fracasso [em 2014]. Mas estão em curso experiências 100 vezes mais sensíveis do que essa, por isso poderão ser bem-sucedidas. O que será importante, porque é uma pista para a física do Universo nas fases muito, muito iniciais. Em cosmologia, quanto mais extrapolamos para trás [no tempo de existência do Universo], mais elevadas são as densidades, pressões, temperaturas. Podemos recuar até a cerca de um microssegundo [após o Big Bang, há 13.800 milhões de anos], mas nesse primeiro microssegundo as condições eram muito mais extremas do que do alguma vez poderemos simular no laboratório. Muitas pessoas pensam que processos importantes que fizeram o Big Bang acontecer tal como aconteceu tiveram lugar em condições muito extremas. As ondas gravitacionais deixadas do início do Universo serão uma pista importante para isso.

A luz nos primeiros 300 mil anos do Universo não consegue viajar, por isso não vemos nada dessa altura. As ondas gravitacionais do Big Bang seriam assim outro tipo de informação sobre o início do Universo?
Sim, porque as ondas gravitacionais viajam desde o primeiro microssegundo sem serem absorvidas, enquanto a luz não. Seriam uma relíquia directa da fase muito inicial do Universo.

Em relação às ondas gravitacionais criadas por buracos negros e outros objectos supermaciços, o que poderemos esperar desta nova era da física?
As observações dos eventos [quatro colisões entre dois buracos negros e uma colisão entre duas estrelas de neutrões] são consistentes com as previsões da teoria de Einstein. Tínhamos outras provas de buracos negros que apoiam a teoria de Einstein, mas estas são particularmente importantes porque mostram que a teoria está certa em condições muito extremas, quando o espaço e o tempo estão a mudar muito rapidamente. Mas também são importantes, não só para testar a teoria da gravidade, mas como parte da astronomia: queremos saber quantas estrelas de diferentes tamanhos existiram, se o Big Bang deixou buracos negros. Foi uma grande surpresa que a primeira ocorrência detectada tenha envolvido dois buracos negros de 30 vezes a massa do Sol cada um. Sabíamos, de outras observações, que havia buracos negros com dez vezes a massa do Sol, devido à explosão de supernovas. Mas isso foi uma surpresa e diz-nos um pouco mais sobre o número de grandes estrelas que existiram no passado. E a ocorrência de Agosto com duas estrelas de neutrões foi, de certa maneira, ainda mais interessante, porque as estrelas de neutrões têm material muito exótico, onde a matéria do Sol é esmagada até um diâmetro de quilómetros. Esse evento fala-nos dessa física extrema e produziu raios gama e outras coisas. É importante por muitos fenómenos na astronomia.

Vem aí algum novo livro seu?
Estou a escrever dois livros. Um chama-se What we Still don't Know [O que Ainda não Sabemos], baseado em programas de televisão, e é sobre ciência. O cérebro, a consciência, quão comum é a vida no Universo, o Big Bang, se houve outros Big Bangs... O outro livro é, em certa medida, uma actualização do Our Final Century, que publiquei há cerca de 15 anos. É sobre os problemas do mundo.

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Manuel Roberto
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