O herói respeita-se

Na primeira entrevista para a Netflix, David Letterman escolheu mostrar os sentimentos. Como sinal de respeito por Obama, o respeito por um herói.

David Letterman não entrevista Barack Obama: rende-lhe homenagem. No fim diz que Obama é o único presidente americano que ele respeita. Obama fica embaraçado com estes elogios mas até em aceitá-los ele é generoso.

Há mais momentos de lágrimas do que de riso. Letterman não perdeu a graça mas está mais sério. Pode ser por causa da importância de Obama. Obama tem o dom da abstracção. Explica o racismo em quatro ou cinco frases, salientando o talento que têm os seres humanos para arranjar maneiras de se sentirem melhores do que os outros.

Acho que não é preciso contrastar Obama com Trump para perceber o que se perdeu quando Obama se foi embora. Trump é como uma criança. Obama é um adulto. Poder-se-ia continuar assim durante horas e horas. Mas a grandeza de Obama não tem nada a ver com a nulidade de Trump.

Para se ter uma noção do valor de certas pessoas não é através da comparação que se chega lá. Obama continua a ser quem é. Os objectivos dele – fomentar a participação política – são não só nobres como necessários. Ele tem, ao mesmo tempo, um optimismo que o passado comprovou e um realismo que o presente exige. É capaz de paciência e de provocação, de voluntarismo e de pensamento. No coração e nas acções continua a ser o grande organizador social que sempre foi.

David Letterman não era uma pessoa sentimental mas nesta primeira entrevista para a Netflix escolheu mostrar os sentimentos. Não por coragem ou como golpe mas como sinal de respeito por Obama, o respeito por um herói.

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