Pacheco Pereira diz que Santana quis criar partido em 2011 contra o PSD, mas este nega

Antigo deputado e militante social-democrata acusa Santana de ter considerado que o PSD estava "morto" numa altura em que Passos já liderava o partido. Santana já pensa em novo partido desde os anos 90.

Foto
DANIEL ROCHA

José Pacheco Pereira revelou nesta quinta-feira à noite que, em 2011, foi abordado por Pedro Santana Lopes para formar um novo partido. Esse partido concorreria contra o PSD, que o agora candidato à liderança dos sociais-democratas considerava estar “morto”. Nesta altura, Pedro Passos Coelho já era líder.

Este relato contraria um dos pontos centrais no discurso de Santana Lopes na corrida contra Rui Rio, uma vez que o antigo primeiro-ministro tem insistido na ideia de que, ao contrário do seu adversário, foi sempre solidário com a liderança de Passos Coelho.

No programa Quadratura do Círculo da SIC Notícias, onde deu conta deste episódio, Pacheco Pereira criticou a campanha à liderança do PSD, anunciando que vai votar em Rui Rio — algo que, na sua avaliação, “não é surpresa para ninguém”.

O antigo deputado decidiu desmentir a narrativa de Santana sobre a “lealdade” ao partido e a Passos Coelho, que esteve sempre presente na campanha. Pacheco Pereira diz que recebeu um telefonema em 2011 para um encontro que ocorreu depois no Hotel da Lapa: “Santana Lopes disse-me a mim e a outras pessoas – por isso não vale a pena negar – que queria fazer outro partido. Estava muito indignado porque no PSD estava a acontecer uma transição de pessoas que o ‘enojava’”, referiu, explicando que este processo a que o antigo primeiro-ministro aludia eram os militantes sociais-democratas que transferiram o seu apoio de Manuela Ferreira Leite para Pedro Passos Coelho.

“Dizia que o partido estava morto” e que o novo que pretendia criar iria disputar as eleições com o PSD, lembrou ainda Pacheco Pereira, acrescentando que rejeitou o convite. “Semanas depois estava a fazer campanha com Passos Coelho. [Pedro Santana Lopes] Entra em contradição com tudo o que anda a dizer em campanha”.

Entretanto, Pedro Santana Lopes respondeu a Pacheco Pereira logo na noite de quinta-feira, durante um comício em Aveiro, a quem apelidou de o "mais escondido de todos" acusando-o de mentir para o "tentar denegrir". Mas Santana refugiou-se nas palavras escolhidas, preferindo usar sempre o termo movimento político em vez de partido.

Na entrevista que deu esta sexta-feira de manhã ao Observador, Santana Lopes negou mesmo o encontro com Pacheco Pereira para fundar um novo partido.

Uma ideia que vem dos anos 90

A ideia de Pedro Santana Lopes criar um partido na zona centro-direita do espectro político vem desde os anos 90. Em 1995, Santana candidata-se à liderança do PSD contra Fernando Nogueira e Durão Barroso mas em cima da hora desiste. Retira-se da política activa e dedica-se à presidência do Sporting. Em 1996, volta a concorrer a presidente do PSD contra Marcelo Rebelo de Sousa, mas perde. É nessa altura que a intenção de criar um partido alternativo ganha força. Pedro Santana Lopes até já tinha um nome, que era, afinal um acrónimo do seu: Partido Social Liberal.

A intenção de criar o PSL foi ficando em stand by com as sucessivas eleições de Santana Lopes, pelo PSD, para as câmaras da Figueira da Foz e de Lisboa, e depois com a passagem pelo Governo em 2004.

Em Março de 2011, poucos dias antes da queda do Governo de José Sócrates, já com Pedro Passos Coelho como presidente do PSD e seis meses antes de este o convidar para provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Santana Lopes viria a admitir publicamente, durante um espaço de comentário na TVI como "muito provável" que aparecesse uma "outra realidade", ou seja, um partido, no espaço de centro-direita.

Pedro Santana Lopes discordava de algumas posições assumidas pelo PSD, que era liderado há um ano por Pedro Passos Coelho e que tiha dado sucessivos apoios ao Governo no Parlamento na aprovação dos PEC - Pacto de Estabilidade e Crescimento. "Eu pertenço a um partido hoje em dia com o qual estou em discordância em muitas matérias. Estou farto de algumas coisas que se passam no partido; um partido existe para pensar no país."

"A ver vamos, e eu estou num processo de pensamento sobre isso. Quero ser livre, gosto de ser livre. Não quero ter peias. Este é o meu estado de espírito. Não tenho a decisão tomada. Se tivesse eu dizia. Mas entendi que tinha a obrigação de dizer isto agora", revelou então Santana Lopes no seu comentário semanal naquela televisão.

O social-democrata justificou a revelação: "Porque não quero que me confundam com aquilo que não quero ser confundido, e não quero que os outros pensem que eu estou ao dispor para ir para uma provável vitória do PSD. Não, não estou. Não estou interessado em lugares."

Sugerir correcção
Ler 15 comentários