Henrique Chaves recorda que Santana quis fundar um partido nos anos 90

O ex-ministro que bateu com a porta conta que a ideia de fazer um partido "esteve sempre presente" em Santana Lopes, quando este estava descontente com o rumo do PSD.

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Henrique Chaves integra a comissão de honra de Rui Rio DAVID CLIFFORD/Arquivo Público

Está há 14 anos em silêncio sobre o que aconteceu no Governo de Santana Lopes que o levou a bater com a porta, fazendo com isso precipitar a queda do executivo. Mas a um dia das eleições no partido que decidem quem vai ser o futuro líder, se o seu ex-primeiro-ministro se o candidato que apoia, Henrique Chaves decidiu falar sobre aquilo que diz serem as "mentiras" que têm vindo a público.

O ex-ministro de Santana Lopes quis vir a público contar da intenção de Santana de criar um partido, uma intenção noticiada nos anos 90, nunca assumida "em on" por Santana Lopes. "Eu saí em 2004 do Governo, com relações cortadas, mas ele já antes tinha tido essa ideia. Lembro-me perfeitamente de a ter colocado a mim e ao Rui Gomes da Silva. Queria fazer um novo partido".

Henrique Chaves não consegue localizar exactamente no tempo quando decorreu esta conversa, diz que foi depois da saída de Cavaco Silva do poder (1995) e perto de 2000, depois de Santana ter desistido da candidatura em 1995 contra Fernando Nogueira e de ter perdido em 1996 contra Marcelo Rebelo de Sousa. "Lembro-me que lhe dissemos que não fazia sentido. Fazer um novo partido? Como é que isso é possível? Como é que ia arranjar sedes? É uma ideia estapafúrdia", acrescenta. 

E depois? Henrique Chaves não consegue confirmar se a ideia se manteve em 2011, já durante a liderança de Passos Coelho, como contou Pacheco Pereira nesta quinta-feira no programa Quadratura do Círculo, até porque está de relações cortadas com o seu ex-primeiro-ministro desde que saiu do Governo. "Era uma ideia que tinha e depois passava-lhe. Se o Pacheco Pereira diz, é porque pelos vistos a retomou", acredita.

A vontade de criar o Partido Social Liberal (utilizando as iniciais do seu próprio nome) foi tema de notícias no final dos anos 90, sempre antes de ter ido para a direcção de Durão Barroso. "Era uma ideia que estava presente na cabeça dele", diz, garantindo que Santana Lopes nunca falou em movimento, mas sim em partido

A um dia das eleições no partido, Henrique Chaves diz que decidiu falar porque não gosta do rumo da campanha. Militante número 3 do partido é também apoiante confesso de Rui Rio, fazendo parte da comissão de honra. Garante que não se trata de uma vingança, mas que quer falar porque detesta "mentiras". "Estou há 14 anos em silêncio. Ainda não quero quebrar este silêncio. Não me estou a vingar. Apoio o Rui Rio desde a primeira hora, antes de haver outras candidaturas. Sempre achei que ele era o sucessor natural", disse.

A história de Henrique Chaves e Santana Lopes não é pacífica. Conhecido santanista quando foi para o executivo, o homem que agora fala acabaria por bater com a porta poucos dias depois de uma remodelação que o despromovia de ministro adjunto para ministro do Desporto, Juventude e Reabilitação. Esta remodelação foi a gota de água para uma demissão com estrondo, que contribuiria para que o Governo fosse de pouca dura.

Num comunicado entregue na Lusa, Chaves demitia-se num tom, à época, inédito, dizendo que, apesar de ser ministro adjunto, nunca lhe tinha sido permitido exercer funções de coordenação. "Não concebo a vida política e o exercício de cargos públicos sem uma relação de lealdade entre as pessoas", disse, e acrescentou que Santana Lopes tinha uma "grave inversão dos valores de lealdade e de verdade".

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