“Vamos chegar a 2020 com 200 estações” dos CTT, alertam trabalhadores

Trabalhadores acusam gestão de querer transferir activos rentáveis como a Payshop para o Banco CTT, que está fora da concessão do serviço universal, e de estar a “reduzir de forma aleatória as estações” para preservar as que têm actividade bancária.

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Bruno Almeida

A comissão de trabalhadores (CT) dos CTT e dois dos sindicatos que representam trabalhadores do grupo – o Sindetelco e o SNTCT – estiveram nesta sexta-feira na comissão parlamentar de Economia, onde acusaram a gestão liderada por Francisco Lacerda de estar a sobrecarregar com custos e a degradar a qualidade de serviço da actividade de correios em benefício do Banco CTT, para onde se pretendem transferir os activos rentáveis do grupo.

O líder da comissão de trabalhadores, José Rosário, sublinhou que, “se não houver uma intervenção” dos poderes políticos, das actuais 600 estações há o risco de se "chegar a 2020 apenas com 200". “São as que têm banco”, afirmou, em resposta ao deputado do PCP Bruno Dias. Rejeitando o argumento da empresa de que nos 22 encerramentos recentemente confirmados o critério tem sido a baixa afluência de clientes, o responsável da CT contrapôs que neste lote tanto cabem estações “que dão entre 40 mil euros de lucro por ano, como outras que dão 500 mil euros”. A redução é feita “de uma forma quase aleatória”, afirmou.

A estratégia da gestão visa “deixar a CTT SA com tudo o que são os custos onerosos para, em 2020 [quando acaba o contrato de prestação do serviço universal], vir dizer nesta casa [no Parlamento] que o serviço postal universal tem um custo não razoável” e que o Estado tem de comparticipar, sublinhou o responsável da CT.

José Rosário afirmou que a empresa pretende integrar no Banco CTT (que está fora do âmbito da concessão) as actividades rentáveis e com poucos custos, como a empresa de terminais de pagamento Payshop. Isto enquanto, em contrapartida, a CTT SA está ser sobrecarregada: “Havia uma rede de correio expresso paralela” no grupo “que foi extinta e que foi integrada na rede de distribuição dos CTT”, sem reforço de meios operacionais.

Por outro lado, enquanto as estações fecham, foram subtraídos 200 balcões (e trabalhadores) ao serviço postal para serem alocados à actividade bancária, o que contribuiu para gerar “filas de espera incontroláveis”. Por isso, o responsável da CT dos Correios não tem dúvidas de que o “avanço do banco foi feito à custa serviço postal”, onde os "os trabalhadores estão sistematicamente a trabalhar fora do horário de trabalho e são ameaçados com processos disciplinares se não o fizerem". 

Argumentando que os accionistas dos CTT “não estão preocupados com a empresa, estão preocupados em realizar dinheiro rápido” (e que por isso até aprovam que se recorra às reservas em caixa para pagar dividendos), o representante dos trabalhadores sublinhou que, mesmo com a descida do tráfego postal, “o problema dos CTT não é uma queda de receitas”, mas sim “um aumento descontrolado dos custos”.

Um aumento de custos que se faz sentir, por exemplo, na necessidade de aluguer de imóveis para substituir "outros ao lado que são vendidos" e para a “contratação de quadros muito bem pagos para serviços de apoio”. Isto porque, segundo notou, "os serviços centrais têm vindo a crescer" e qualquer dia até haverá "mais chefias do que operacionais",

Reafirmando a mesma ideia de José Rosário, de que a Payshop será integrada no Banco CTT, também o secretário-geral do Sindetelco, José Arsénio, frisou que há uma estratégia de “abandonar o serviço postal em favor do banco” e que o Estado deve intervir rapidamente, porque “até 2020 já não há nada. O que é bom estará no Banco e o que não é lucrativo fica com o Estado”.

Tanto para o Sindetelco como para o STNCT, a única opção viável para o Estado intervir nos CTT é a reversão da privatização, incluindo a transferência do banco para a esfera pública.

“Defendemos isso, porque é a única maneira do Estado ganhar dinheiro, dos trabalhadores terem emprego e as populações os serviços”, sublinhou Vítor Narciso, dirigente do SNTCT.

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