O truque dos helvéticos é arriscar sempre mais

O que este caso prova é que um banco central, com o poder “ilimitado” de imprimir papel moeda, consegue ser mais irracional que os mercados.

No dia 15 de Janeiro de 2015, o Banco Nacional Suíço (BNS) deixou de impor um tecto mínimo para a taxa de câmbio do franco suíço (CHF) face ao euro que, até essa data, era de 1€=1,2 CHF.

O BNS reagia desse modo ao programa de expansão quantitativa do BCE, que teve início em Março de 2015 com o programa de compras de activos do sector público (PSPP), originando a depreciação do euro face ao dólar e colocando a moeda suíça sob pressão crescente, dado que os especuladores apostavam que o franco suíço se iria valorizar em relação ao euro, mas também porque a Suíça regista excedentes elevados de balança corrente e de capital

Para impedir a apreciação da sua taxa de câmbio, o BNS estava obrigado a intervenções crescentes, imprimindo mais moeda (novos CHF) para adquirir divisa estrangeira. Quando, a partir de 15 de Janeiro de 2015, deixou o CHF apreciar-se livremente nos mercados o BNS  arriscou-se a incorrer em enormes perdas financeiras se o CHF continuasse a apreciar-se.

Em 2015, o BNS registou perdas de 23 mil milhões de CHF. Tais perdas eram consequência do volume acumulado de investimentos em moeda estrangeira realizados pelo BNS com a moeda estrangeira que adquirira no âmbito da intervenção no mercado cambial, com o objectivo de manter a taxa de câmbio da sua moeda em relação ao euro. Argumentei, na altura, que se o CHF se apreciasse mais o BNS sofreria enormes perdas (estimadas em 160 mil milhões de euros, se 1 CHF passasse a valer 1,16€) e que, por conseguinte, era provável que o banco central da Suíça retomasse as intervenções tentando evitar uma apreciação excessiva da sua moeda.

Assim parece ter sido de facto: o Banco Nacional Suíço parece ter imprimido mais de 140 mil milhões de novos CHF, entre Janeiro de 2015 e Novembro de 2017, que terá utilizado para adquirir divisa estrangeira para evitar a apreciação da sua moeda.

Recentemente, com o anúncio do fim do programa de expansão quantitativa do BCE, o euro tem-se apreciado face ao dólar. Daí resulta a depreciação do franco suíço em relação ao euro e, em consequência, enormes ganhos financeiros para o BNS, estimados em 54 mil milhões de CHF.

Pode argumentar-se que os responsáveis do BNS tinham razão, e que, com mão segura, conduziram a política cambial de forma prudente, assegurando ganhos significativos para os contribuintes suíços.

Mas, o que se afigura que este caso prova, é que um banco central, com o poder “ilimitado” de imprimir papel moeda, consegue ser mais irracional que os mercados impondo a taxa de câmbio que entende adequada para a sua moeda, desde que o objectivo seja impedir a sua apreciação.

Os responsáveis do BNS adoptaram uma estratégia muito arriscada porque, para assegurar que não sofreriam perdas, aplicaram montantes crescentes de francos suíços em activos financeiros denominados em moeda estrangeira. A aposta resultou graças à bolha especulativa que se vive nos mercados.

Mas a Suíça continua a registar elevados excedentes da balança corrente, de +11% do PIB em 2016.

Face a tais níveis de excedentes externos compete às autoridades helvéticas deixar o CHF apreciar-se gradualmente, ao invés de se congratularem pelos efeitos financeiros da desvalorização do CHF no portfolio de investimentos do BNS.

Por isso, seria talvez mais prudente que os responsáveis do BNS optassem por criar as condições para que o franco suíço se aprecie lentamente, vendendo activos em moeda estrangeira e reduzindo a dimensão do balanço do BNS.

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