Novo presidente da TAP está de olho na bolsa

Antonoaldo Neves, de 42 anos, ajudou a captar investimento chinês da HNA.

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Gestor foi responsávepela dispersão de capital da Azul em 2017 REUTERS/Nacho Doce

Antonoaldo Neves, o gestor que vai substituir Fernando Pinto na presidência executiva da TAP, tem como um dos pontos altos do seu currículo a dispersão de capital da transportadora aérea brasileira Azul nas bolsas de São Paulo e de Nova Iorque.

A operação, depois de várias tentativas falhadas, ocorreu em Abril de 2017, e representou a entrada de cerca de mil milhões de dólares para a empresa. Cerca de três meses depois, o gestor chegava à comissão executiva da TAP pela mão de David Neeleman, fundador da Azul e accionista da TAP (ganhou o processo de privatização ao lado de Humberto Pedrosa).

Acontece, certamente sem que tal seja uma coincidência, que a dispersão de acções em bolsa é também um dos objectivos da transportadora área portuguesa, funcionando, tal como referiu Neves num encontro da administração com jornalistas em Dezembro, como uma “alavanca” proporcionada pela entrada de capital. No entanto, não quis comprometer-se com qualquer tipo de calendário.

E se dúvidas houvesse sobre o enfoque deste gestor de 42 anos (fará 43 em Março) na captação de financiamento, a nota biográfica enviada pela transportadora aérea informa que teve “um papel preponderante no processo de investimento da HNA, tanto na Azul como na TAP”. Aliás, a participação no capital das duas empresas por parte do grupo chinês está interligada. No caso da Azul, entrou em 2016 com 450 milhões de dólares (cerca de 383 milhões de euros) em troca de 24% dos interesses económicos da empresa.

Pelo meio, o grupo chinês emprestou à Azul o dinheiro necessário para comprar obrigações da TAP avaliadas em 90 milhões de euros e que podem vir a ser convertidas em acções da TAP (dando à Azul uma fatia de 6% da empresa portuguesa, equivalente a 41,2% dos direitos económicos como os dividendos).

A triangulação ficou mais completa quando, no final de Julho, a HNA (via Hainan) assegurou uma posição indirecta de 2,5% da TAP, ao entrar no consórcio Atlantic Gateway ao lado de Pedrosa e de Neeleman (que reduziu a sua posição). Foi apenas nesta altura, e quando o conselho de administração já tinha sido desenhado, que ocorreu o anúncio da entrada de Antonoaldo Neves para a TAP com a função de chief commercial officer (director executivo da área comercial), em substituição de Trey Urbahn (também ele escolhido por Neeleman).

O gestor, que liderava a Azul desde Janeiro de 2014, já antes tinha lidado com a companhia aérea brasileira, uma vez que, enquanto consultor na McKinsey, assessorou a empresa quando esta se fundiu com a Trip em 2012. Antes disso, foi responsável, de acordo com a nota biográfica, pelo “planeamento do sector aéreo brasileiro entre 2011 e 2012”, depois de o Governo o ter nomeado para o conselho de administração da Infraero, empresa brasileira de aeroportos.

“Determinado, informal, pragmático”

Licenciado em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, continuou depois os estudos com um mestrado em Finanças Empresariais e um MBA na Darden School of Business da Universidade de Virgínia (Estados Unidos). Natural de Salvador, tem dupla nacionalidade (brasileira e portuguesa) e raízes em Portugal, tal como Fernando Pinto: o avô era de Oliveira de Azeméis. 

A carreira profissional, que inclui uma passagem pela construtora brasileira Cyrela (da qual foi director executivo entre 2010 e 2012), teve início na Odebrecht, grupo no qual foi engenheiro de montagem de obras electromecânicas.

O gestor, casado e pai de três filhos, é apresentado pela empresa que vai liderar como um “entusiasta do trabalho de equipa”, focado nos resultados e “orientado para o detalhe”. “Determinado, informal, pragmático”, gosta de jogar futebol, fazer corrida e ciclismo ao ar livre.

Mudanças na gestão

Na TAP, Antonoaldo Neves, que foi também o responsável “pela expansão internacional da Azul, com foco nos Estados Unidos” – um mercado onde a empresa portuguesa também se está a posicionar –, terá como presidente do conselho de administração Miguel Frasquilho, que o Governo vai manter como representante do Estado na assembleia geral extraordinária de 31 de Janeiro e que marcará oficialmente a saída de Fernando Pinto ao fim de 17 anos na liderança e a nomeação do sucessor. A maioria dos nomes vão permanecer – nada se altera nos escolhidos pelo Estado em Junho –, mas não deixa de haver outras mudanças.

Entre os seis administradores escolhidos pelos privados, os chineses passam a poder escolher também dois, tal como Neeleman e Pedrosa, com uma divisão entre accionistas que não corresponde ao peso no capital (a HNA tinha um gestor, Neng Li, que está também na Azul). Com a passagem de Neves para a liderança abre-se também uma vaga na comissão executiva que, segundo o Jornal de Negócios, vai ser ocupada por Raffael Guaritá Quintas, director financeiro na Azul, que terá David Pedrosa a seu lado.

“Não podia estar mais contente e entusiasmado com esta escolha para assumir os destinos da TAP. É a pessoa certa, e pela qual tenho grande admiração”, diz Fernando Pinto sobre o seu sucessor, na carta de despedida que enviou esta quinta-feira aos trabalhadores da empresa. No que toca à missão de Neves, essa já foi identificada pela própria empresa: “Fazer com que a TAP cresça ainda mais em números, em qualidade e rentabilidade.”

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