Futuro do Teatro Maria Matos discutido na próxima semana

PCP pediu a marcação de um debate na Assembleia Municipal de Lisboa. A exploração do teatro por privados tem a oposição da esquerda e de dois mil peticionários.

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O Maria Matos passará a ter uma programação mais virada para "o grande público" Nuno Oliveira

Os deputados da Assembleia Municipal de Lisboa discutem o futuro do Teatro Maria Matos na próxima terça-feira, um dia antes de se completar um mês sobre a entrevista de Catarina Vaz Pinto ao PÚBLICO em que a vereadora da Cultura revelou que a gestão daquele equipamento vai ser entregue a uma empresa privada.

Foi o PCP que pediu o agendamento deste debate, lamentando precisamente que “passado cerca de um mês desde que os lisboetas e os eleitos locais foram confrontados com esta intenção, a mesma continua sem ser discutida em nenhum dos órgãos municipais”. Em comunicado, os deputados comunistas consideram que isso é uma “postura inaceitável” da autarquia e dizem que há uma “clara e urgente necessidade de perceber” o que vai acontecer ao Maria Matos.

Na entrevista de Dezembro, Catarina Vaz Pinto explicou que a EGEAC (empresa municipal que gere os equipamentos culturais e alguns monumentos da cidade) vai deixar de ter uma intervenção directa na programação do teatro. “Vamos arrendar o espaço a uma entidade, na perspectiva de uma empresa de produção mais do que uma companhia ou um director artístico, e que irá explorar o teatro com base num programa avaliado em sede de concurso”, disse a vereadora. “Será mais vocacionado para espectáculos de grande público, que vivem da bilheteira e de alguns patrocínios”, acrescentou.

A contestação à ideia surgiu praticamente no próprio dia, com eco numa petição online que conta agora com mais de duas mil assinaturas. O ex-director do teatro Mark Deputter, o programador Sérgio Hydalgo, o coreógrafo Bruno Cochat e o encenador e dramaturgo Ricardo Neves Neves são algumas das personalidades da área da cultura que se associaram à petição. Mark Deputter disse mesmo ao PÚBLICO, poucos dias depois da entrevista de Vaz Pinto, que esta decisão sabia "um bocado a derrota".

O PCP, para lá de ser contra a intenção em si, também critica o processo, defendendo que se “oiça toda a comunidade envolvida: a população, os agentes culturais, os trabalhadores da área.” O Bloco de Esquerda opõe-se igualmente. “Da leitura do orçamento da câmara, das Grandes Opções do Plano 2018-2021, do Plano de Actividades da EGEAC e mesmo do Contrato Programa da EGEAC resulta uma enorme perplexidade: a entrega do Maria Matos a privados não consta”, escreveu o deputado municipal bloquista Ricardo Moreira. Já Os Verdes dirigiram várias perguntas à autarquia sobre o assunto e afirmam que esta decisão é “mais um exemplo do esvaziamento do pelouro da Cultura que se tem registado nos últimos anos”.

Na última reunião pública do município, no fim de Dezembro, Fernando Medina afirmou que “a câmara vai aumentar a oferta pública nesta área” ao fazer “a incorporação de dois novos espaços no activo da oferta da câmara”: o Teatro do Bairro Alto e o Teatro Luís de Camões, em Belém, que serão geridos directamente pela autarquia, através da EGEAC, e para os quais vai ser transferida a linha programática actualmente no Maria Matos. “Ora, esta decisão faz com que nós tenhamos de ter uma nova solução relativamente à programação do Teatro Maria Matos”, disse Medina.

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