O pesadelo do PSD está quase a chegar ao fim

Ao segundo debate na televisão, Santana e Rio moderaram os truques mas exponenciaram a sua incapacidade para discutir outra coisa que não seja o passado.

Se o primeiro debate televisivo entre os dois candidatos à liderança do PSD foi comparado a um combate de boxe que acabou, de acordo com boa parte dos analistas, numa vitória de Santana Lopes, o segundo round do confronto mudou de modalidade e acabou num empate. Em vez de boxe houve uma espécie de luta livre, onde o choque é menos violento, onde se ganha aos pontos e onde há sempre menos margem para golpes baixos. Mas, chegados ao fim, há muito pouco que se possa dizer que extravase a analogia do combate, o duelo entre egos ou o braço-de-ferro entre passados. 

Para muitos, a causa desta indigência com que o futuro do país se resume a análises de carácter ou testes à coerência com um ligeiro travo a Inquisição é culpa dos políticos. É-o, seguramente, em primeiro lugar. É-o principalmente por se limitarem a apregoar lugares-comuns. Mas é-o também porque quem conduz o debate deixa gastar 25 minutos com a biografia dos protagonistas quando em discussão deviam estar visões para o futuro.

Rui Rio esteve melhor neste debate porque se preparou para resistir aos truques de Santana Lopes e fez questão de levar para o confronto os seus próprios passes de mágica com recortes de jornais. Santana Lopes é ainda assim um político com outra inteligência táctica e com outro jogo de rins para dizer o que disse, o que não disse ou o seu contrário. Rui Rio esforça-se mais em falar de factos ou ideias com argumentação racional. Nos malabarismos da luta livre, soube resistir à ofensiva dirigida à sua alegada incoerência na avaliação do Governo de Santana ou à suposta oposição a Passos Coelho, mas foi completamente anulado pelo seu oponente no campo em que melhor podia brilhar: o da economia e das finanças públicas.

Lançados os dados na televisão, a imagem que sobra do frente-a-frente é a de um vazio absoluto. Os dois candidatos criaram um contexto banal e uma narrativa banal sobre o passado, o presente e o futuro do país e acabaram por submergir nessa mesma banalidade. Para um militante, o que ontem se viu na TVI só pode ser motivo de insónia, de incerteza e de preocupação. O PSD que ontem se mostrou tem muito passado para discutir e zero futuro para apresentar. Dez minutos depois, a TVI24 voltava-se para o futebol. Ao menos aí sempre há um pouco mais de paixão. Pobre país.

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