Nunca os cristãos foram tão perseguidos como agora

Relatório da organização Missão Portas Abertas chama a atenção para a situação do Egipto, onde a comunidade cristã tem sido alvo de vários ataques.

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O Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, com o Papa copta Teodoro II durante a missa de Natal celebrada na madrugada de sábado para domingo LUSA/AYMAN AREF

A comunidade cristã no Egipto está a ser alvo de uma perseguição sem precedentes, com vários ataques terroristas a igrejas e rapto de raparigas que são depois forçadas a casar com muçulmanos. Esta é a conclusão do relatório da organização de apoio a cristãos perseguidos Missão Portas Abertas.

O referido relatório acompanha a divulgação da lista dos países mais perigosos para os cristãos elaborada pela Missão Portas Abertas. À semelhança de 2017, a Coreia do Norte lidera o ranking de 2018. Mas a organização destaca o Egipto (que está na 17.ª posição da lista), que está entre o grupo de países que tem conhecido o maior agravamento no que à perseguição a cristãos diz respeito.

Um dos factores de preocupação é o facto de o Egipto ter no seu território a maior comunidade cristã de todo o Médio Oriente. De acordo com as estatísticas oficiais, cerca de 10% da população egípcia – que conta com 95 milhões de pessoas – é cristã. No entanto, acredita-se que a percentagem possa ser maior. A grande maioria desta comunidade é cristã ortodoxa, sendo que um milhão são cristãos evangélicos e cerca de 250 mil católicos.

Dias depois de um atentado a uma igreja cristã copta em Helwan, um bairro que fica na zona Sul do Cairo, ter feito nove mortos, os cristãos ortodoxos celebraram o Natal, no domingo, no meio de medidas de segurança reforçadas. O Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, marcou presença na missa de Natal na inauguração de uma catedral a 45 quilómetros do Cairo, onde realizou um discurso em defesa da comunidade cristã, lembra o Guardian.

Ao longo do último ano, foram vários os atentados contra a comunidade cristã no Egipto. Na última Páscoa, ataques a duas igrejas fizeram 46 mortos e, em Maio, outras 29 pessoas foram mortas quando um grupo de homens armados disparou contra um autocarro transportando uma excursão de cristãos coptas. A Missão Portas Abertas refere por isso que em 2017 pelo menos 128 cristãos foram mortos pela sua fé e outros 200 foram retirados de suas casas. Além disso, a organização refere que 15 raparigas foram raptadas na província de Minia para serem convertidas ao Islão e para serem forçadas a casar com muçulmanos.

Como aponta o relatório da Missão Portas Abertas, este súbito aumento da perseguição e risco para a comunidade cristã no Egipto surgiu devido à dispersão dos terroristas do Daesh à medida que sofriam derrotas no Iraque e na Síria. Aliás, vários especialistas tinham já avisado para a possibilidade de vários combatentes jihadistas, depois de derrotados nos principais palcos do seu “califado”, voltarem a casa para continuar a jihad de forma autónoma. E um dos principais destinos seria o Egipto.

“Os cristãos no Egipto enfrentam uma barreira de descriminação e intimidação. No entanto, eles recusam-se a desistir da sua fé. É difícil para nós imaginar ser definido pela nossa religião todos os dias em todas as esferas da nossa vida”, diz ao Guardian Lisa Pearce, da Missão Portas Abertas. “No Egipto, tal como em muitos outros países do Médio Oriente, a religião é colocada no bilhete de identidade. Isto torna a discriminação e a perseguição fácil – é-se ignorado para empregos, os documentos são difíceis de obter e ir à igreja siginifca que passa a ser um alvo”.

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