Costa admite momentos de ruptura no Serviço Nacional de Saúde

Primeiro-ministro levava as prioridades do Governo para 2018, mas acabou a responder sobre a situação da Saúde em pleno pico de gripe.

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António Cotrim/Lusa

Entre realidades e percepções, entre objectivos e metas alcançadas ou não, entre divisões e citações, António Costa passou pelo primeiro debate do ano de forma fácil. O PSD tinha-lhe servido como prato principal o caso da renovação, ou não, do mandato da procuradora-geral da República e, ultrapassado o tema quente do dia, que não estava nos planos dos restantes partidos, o primeiro-ministro teve de responder a uma manta de retalhos de assuntos, com especial enfoque no problemas do Serviço Nacional de Saúde neste pico da gripe. Tudo apesar de o tema do debate serem as prioridades do Governo para 2018, que consistem, sobretudo, em manter o rumo nas finanças, em concretizar a descentralização e a reforma da floresta e em melhorar o emprego.

Foram precisas várias perguntas sobre o tema para que o primeiro-ministro admitisse que “há momentos de ruptura” nos hospitais, mas ressalvando que não se pode avaliar os serviços pelas rupturas, mas pela resposta global que estão a dar nestes meses de maior pressão. "Aquilo que descreve como uma situação caótica, acontece quando, num serviço, apesar do reforço que tem vindo a ser feito, aparecem 20 mil pessoas a mais. Há momentos de pico que causam situações de ruptura, sim", contudo, "não obstante a enorme tensão, o serviço tem sido capaz de responder", disse o primeiro-ministro à deputada do PEV Heloísa Apolónia.

As respostas do primeiro-ministro sobre o tema não convenceram nem a esquerda nem a direita. Catarina Martins pediu-lhe que, em vez de reduzir o défice mais do que é suposto, usasse "essas duas décimas" para investir no Serviço Nacional de Saúde. “Duas décimas” do défice são "uma gota de água para a dívida”, mas para o SNS fariam " toda a diferença”. “O problema é que, quando o Governo decide não pôr esse dinheiro no SNS, está a falhar aos compromissos com o país para cumprir compromissos que não lhes foram pedidos por Bruxelas. E é isso que é absolutamente inexplicável”, defendeu a líder do BE. 

Também o CDS, por Assunção Cristas, explorou o que se passa nos hospitais mostrando a Costa várias notícias com algumas situações de falta de macas e de outras condições para os doentes. O primeiro-ministro, que tinha admitido dificuldades mas garantindo que tudo estava planeado, respondeu que há "mais médicos, mais enfermeiros, mais técnicos, mais consultas, mais operações. O serviço de saúde está a produzir mais", disse. "Há mais, mais, mais, mas a Saúde tem menos, menos, menos", respondeu Cristas. No debate entre os dois líderes não há um ponto em que se encontrem. Um fala em "realidade", o outro em "percepção da realidade" e estão cada vez mais afastados.

A situação nos hospitais foi o tema que mais dividiu a generalidade dos partidos e o primeiro-ministro. O tema mais surpreendente foi o da questão de eventual eleitoralismo, introduzida por Jerónimo de Sousa. O secretário-geral do PCP perguntou se é legítima a preocupação com a hipótese de o "Governo poder estar a aproveitar esta redução do IRS para recolher dividendos eleitorais em 2019, ano das eleições". Uma pergunta a que ele próprio respondeu de pronto, em jeito de aviso à navegação: "Ninguém votará mais em nenhum de nós por adiarmos a reposição de rendimentos".

O primeiro-ministro não sairia do debate sem que o PCP o questionasse sobre a situação nos CTT e o BE sobre o aumento das facturas da electricidade e a acção da EDP. O que levou Costa a dizer que "as virtualidades das privatizações manifestamente não se verificam". Referindo-se especificamente à EDP, Costa considerou "absolutamente inaceitável" que a empresa considere deixar de pagar a contribuição extraordinária para o sector energético (CESE).

Se o último debate quinzenal de 2017 foi dominado pelos temas em torno do ministro Vieira da Silva, desta vez apenas a líder do CDS voltou a insistir sobre a paternidade da ideia de a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa entrar no capital do Montepio. E Costa, desta vez, atravessou-se no apoio ao ministro: "É uma boa ideia, pena que não tenha sido minha", irnonizou.

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