Advogado de “El Chapo” diz que o barão da droga está a ficar paranóico

Eduardo Balarezo diz que o seu cliente, Joaquín “El Chapo” Guzmán, está a perder a memória e a ficar paranóico, o que dificulta a preparação para o julgamento.

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"Às vezes falamos sobre algo e passados 15 minutos já se esqueceu" Reuters/HANDOUT

No segundo aniversário da detenção de "El Chapo", que se assinala nesta segunda-feira, e quase um ano desde a extradição para os Estados Unidos, o seu advogado diz que o barão da droga mexicano apresenta um olhar perdido e está mais magro. Isolado numa cela com casa de banho e uma pequena janela na parte superior, tem dificuldade em perceber quando é dia ou noite, cita o jornal espanhol El País.

Por estes dias, o principal desafio do advogado Eduardo Balarezo é fazer com que Joaquín "El Chapo" Guzmán receba e compreenda as 300.000 páginas e milhares de vídeos que a acusação reuniu contra si. Mas aquele que foi considerado o maior narcotraficante do mundo, e cujos negócios ilícitos se estendiam a dezenas de países em quatro continentes, não fala inglês nem sabe usar um computador. Por esses motivos, que se juntam à alegada deterioração do estado psicológico de Guzmán, o advogado afirma que as três a quatro horas semanais em que este se pode reunir com o cliente não chegam para preparar o julgamento.

“'El Chapo' tem 63 anos e está mal. Não está incapacitado mas está a perder a memória e a ficar paranóico. Repete muitas vezes as mesmas coisas e esquece-se. Às vezes falamos sobre algo e passados 15 minutos já se esqueceu. Isso afecta muito a maneira de trabalhar porque temos um cliente que não sabe o que se passou nem quando”, explica Eduardo Balarezo ao mesmo jornal. “Nota-se que é uma pessoa inteligente, não tem educação formal mas é inteligente. Tem bom sentido de humor e às vezes rimo-nos”, indica.

Até agora, Joaquín Guzmán declarou-se inocente das acusações de ter dirigido o cartel de Sinaloa, uma organização destinada a introduzir toneladas de cocaína nos Estados Unidos, lavar milhões de dólares e ordenar assassinatos e sequestros. A sua extradição não levou a uma melhoria na violência do México, que vive o seu pior momento da administração de Enrique Peña Nieto.

A defesa pediu um adiamento do julgamento de Abril para Setembro perante a impossibilidade de examinar todo o material. “Não se trata apenas das condições a que ele está sujeito mas também as condições sob as quais temos de trabalhar”, diz Balarezo. “Ficamos numa sala de 1,5 por 1,5 metros, não há uma mesa para pôr os documentos, o computador, ou escrever. É ridículo. Temos de falar muito baixo para que a polícia não ouça tudo”, explica o advogado, que defendeu narcotraficantes como Alfredo Beltrán Leyva ou Zhenli Ye Gon.

Entre várias proibições, Balarezo não pode perguntar ou levar mensagens a terceiros: “Normalmente os meus clientes dizem-me quem são as pessoas às quais posso recorrer para conseguir provas ou testemunhos, mas neste caso é proibido”. O governo dos Estados Unidos argumenta que estas condições restritivas são as indicadas para alguém que escapou duas vezes de prisões de alta segurança no México.

A defesa de “El Chapo” está a estudar milhares de arquivos, ficheiros áudio e vídeos acumulados durante anos. As provas principais baseiam-se nos testemunhos de antigos colaboradores, hoje presos nos Estados Unidos. Por enquanto não se conhecem nomes mas especula-se com alguns pesos do narcotráfico e da política colombiana e mexicana como Daniel “El Loco” Barrera, que lhe forneceu grande parte da cocaína da Colômbia, ou Édgar Veytia, o antigo procurador de Nayarit pago por “El Chapo” durante muitos anos. Alfredo Beltrán Leyva, seu antigo sócio, também encarcerado, não está a colaborar, segundo o advogado.

O equatoriano Balarezo vê-se perante um julgamento impossível de ganhar, sem saber sequer se poderá ser pago, uma vez que as autoridades poderão alegar que os seus honorários provêm do narcotráfico, refere o periódico espanhol. Sobre se tem algum conflito ético nesta defesa, o advogado responde: “Não, absolutamente nenhum. Qualquer pessoa tem direitos e tem o direito à defesa. Vi muitos abusos que me permitem saber que o governo às vezes joga sujo”.

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