Câmara diz que barreiras de betão junto ao Mosteiro vão ser cobertas de vegetação

Munícipes criticam a colocação dos grandes painéis de cimento entre a EN1 e o Mosteiro da Batalha, mas a autarquia acredita que o arvoredo vai atenuar o impacto visual provocado por esses blocos.

Fotogaleria
A intervenção prevê que, na zona frontal do mosteiro, os painéis de betão sejam cobertos por arvoredo LUSA/PAULO CUNHA
Fotogaleria
A intervenção prevê que, na zona frontal do mosteiro, os painéis de betão sejam cobertos por arvoredo LUSA/PAULO CUNHA
Fotogaleria
A intervenção prevê que, na zona frontal do mosteiro, os painéis de betão sejam cobertos por arvoredo LUSA/PAULO CUNHA
Fotogaleria
A intervenção prevê que, na zona frontal do mosteiro, os painéis de betão sejam cobertos por arvoredo LUSA/PAULO CUNHA

Um “mamarracho”, um “paredão” semelhante ao “Muro de Berlim”. As descrições são várias e espelham o descontentamento de alguns munícipes da Batalha, em Leiria, com a instalação de grandes painéis de betão, na zona frontal do Mosteiro de Santa Maria da Vitória. O objectivo é que o monumento fique protegido do ruído e da poluição atmosférica com origem nos cerca de 14 mil carros que todos os dias passam na Estrada Nacional nº1 (EN1). 

A câmara, que começou a colocar grandes barreiras de cimento na berma daquela via, acabou por reconhecer, ontem, que o estado actual da obra “não é o mais interessante”, do “ponto de vista do impacto visual gerado pelos maciços de betão”. Mas reiterou que o resultado final “garantirá uma resposta consonante face aos graves e notórios sinais de degradação que o mosteiro apresenta”. 

Para isso, detalhou o município, na “parte frontal dos painéis de betão”, vão ser plantados “milhares” de árvores, arbustos e plantas, para “dissipar” o impacto visual das barreiras, que irão ser intercaladas com “placas transparentes”. 

Do modo que está, “parece um muro de Berlim”, salientou Alfredo Barros, empresário da região à Lusa. “Sei que a ideia é ainda serem colocadas árvores, mas o primeiro impacto é péssimo. Não faz sentido nenhum aquele mamarracho”, admitindo que esta obra “vai tirar a beleza” ao monumento. “É certo que tem de se proteger o Mosteiro, mas não com esta solução”, vincou Pedro Coelho, também munícipe da Batalha.

Questionada pelo PÚBLICO, a autarquia explicou que a opção pela escolha do betão se prendeu “com a necessidade de suportar o peso dos jardins verticais” que serão instalados e reforçou que a intervenção “representa um passo fundamental para a protecção” do mosteiro, classificado pela UNESCO como Património da Humanidade, em 1983, visando a redução dos “evidentes sinais de desgaste e de deterioração de alguns elementos do monumento”.

Fim das portagens na A19

A obra é, de resto, aguardada há várias décadas dado o elevado tráfego da EN1, junto ao Mosteiro, que se esperaria que reduzisse com abertura ao público, em 2011, da Auto-estrada nº 19 (A19). Só que a colocação de portagens naquela via acabou por afastar os utentes que pedem, por isso, que se acabe com as portagens em vez de se gastar dinheiro a construir barreiras de betão. 

A ideia é partilhada pela câmara que, em resposta ao PÚBLICO, notou terem sido “encetadas ao longo dos últimos anos diversas conversações com sucessivos governos”, para que as portagens da A19 sejam reduzidas ou mesmo abolidas. No entanto, tem recebido como resposta que “não estava planeada a eliminação ou sequer a redução de portagens naquele troço da A19, fruto do modelo de contrato de concessão outorgado”. 

Ainda assim, sublinhou o autarca social-democrata, a solução levada agora a cabo pela autarquia “não invalida que a câmara continue a reclamar junto do Governo a abolição ou redução de portagens para os veículos pesados”. Para que seja cumprido o propósito para o qual a A19 foi construída: “tirar o tráfego automóvel da frente do monumento explicitando-se, de forma evidente e cientificamente provada aos diferentes governos e aos seus responsáveis sobre os impactos negativos associados à conservação do mosteiro”.

Segundo explicou Paulo Batista Santos ao PÚBLICO, em Agosto, foi elaborado um estudo, através do Laboratório do Ruído e Vibrações do Instituto da Soldadura e Qualidade, em 2014 e a pedido da câmara da Batalha, sobre os níveis sonoros no local do mosteiro, que se revelaram “muito acima dos permitidos por lei para o local e que se devem integralmente à influência do trânsito na estrada nacional que passa em frente do Mosteiro”. Daí ter sido pensada esta intervenção, em parceria com a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) e a concessionária Infra-estruturas de Portugal. 

A conclusão do projecto está prevista para o fim de Fevereiro. A intervenção está orçada em cerca de 577 mil euros, suportados pelo município e por fundos comunitários do FEDER, que assegura um financiamento de 85% do custo total. 

Além desta cortina de árvores e betão, o projecto prevê ainda a construção de uma ecopista, e “a melhoria das instalações sanitárias existentes nas imediações do mosteiro”, assim como dos espaços afectos ao estacionamento, detalhou a autarquia.

Contactado pelo PÚBLICO, o director do Mosteiro da Batalha, Joaquim Ruivo, escusou-se a comentar, remetendo esclarecimentos para a DGPC. 

Sugerir correcção
Ler 11 comentários