Palavras, expressões e algumas irritações: botão

Como dois garotos, Donald Trump (Presidente dos EUA) e Kim Jong-un (líder da Coreia do Norte) compararam o tamanho do “botão nuclear” de cada um. Não deviam brincar com o fogo

“Qual é a coisa, qual é ela, mal entra em casa, põe-se à janela?” Eis uma adivinha que remete para a infância e cuja resposta é “botão”. No caso, significa “pequena peça, de forma variada e feita de diversos materiais, que se usa para apertar ou ornar o vestuário”.

Por estes dias também houve “brincadeiras infantis” à volta da mesma palavra, embora com outro significado e sem qualquer inocência. Como dois garotos, Donald Trump (Presidente dos EUA) e Kim Jong-un (líder da Coreia do Norte) compararam o tamanho do “botão” de cada um. No caso, “peça integrante de um aparelho ou de um mecanismo pela qual este é comandado e que se roda ou prime”.

O dicionário fala em “botão da campainha”, “do elevador” “do rádio”, mas é omisso nos “botões nucleares” a que se referiam os políticos que moram em lados opostos do mundo e não deviam brincar com o fogo.

Disse Kim, no discurso de Ano Novo: “Toda a área continental dos Estados Unidos está ao alcance das nossas armas nucleares e o botão nuclear está sempre na secretária. Isto é a realidade, não é uma ameaça.”

Respondeu Trump, no Tweet (onde haveria de ser?): “Poderá alguém informá-lo de que eu também tenho um botão nuclear, mas é muito maior e mais poderoso do que o dele, e o meu botão funciona!”

Multiplicaram-se nos jornais e nas redes sociais analogias com os recreios na escola primária, mas como lembrou Eliot Cohen, conselheiro da ex-secretária de Estado de George W. Bush, Condoleezza Rice, o tweet é “infantil mas mortalmente sério”. As crianças, no recreio seguinte, voltam a ser os melhores amigos. Não será o caso.

Os dicionários falam também de “botão” enquanto “jogo de rapazes em que se usam essas peças”. Como estes já são adultos, talvez fosse melhor desenvolverem a prática de falar “de si para si, em pensamento ou em voz baixa”. Ou seja, “com os seus botões”.

A rubrica Palavras, expressões e algumas irritações encontra-se publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICO

 

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