Conselhos úteis que históricos e jovens promessas deixam para o próximo debate

Entre notáveis e jovens promessas do PSD, o debate que opôs Pedro Santana Lopes a Rui Rio foi visto um combate. E há um vencedor quase unânime.

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Debate foi visto por 513 mil telespectadores Miguel Manso

Cinco dos 513 mil telespectadores que assistiram nesta quinta-feira ao primeiro duelo Santana vs. Rio falaram ao PÚBLICO sobre a experiência de ouvirem o futuro líder do PSD na televisão. À excepção de Fernando Ruas, eurodeputado e ex-autarca em Viseu, o espectáculo televisivo não agradou.

“Fiquei muito contente por saber que não se vai repetir vinte vezes, porque duvido que tenha interessado a uma única pessoa fora do partido”, disse José Eduardo Martins ao PÚBLICO. Este militante do PSD, pelas mãos de quem pode passar o futuro do partido (ou não), desiludiu-se com a fraca prestação dos candidatos.

António Leitão Amaro, deputado do PSD, também. “Vi o debate e não esclareceu muito para a minha decisão”, desabafou o deputado. “No próximo, espero de ambos que esclareçam muito mais sobre o essencial: as diferenças face a este PS e as suas propostas reformistas para um país aberto e muito mais competitivo e com um Estado que funcione melhor, viabilizando mais liberdade e igualdade”.

Isso não quer dizer, contudo, que nenhum dos dois tenha sobressaído. “Tendo ambos escolhido o mesmo campo de confronto - os seus perfis e a relação passada de cada um com o PSD -, Santana foi mais eficaz naquele momento pontual da campanha”, reconhece Leitão Amaro. A Rio, deixa um pedido: “Espero que possa clarificar que as suas correctas preocupações com a celeridade e reserva comunicacional da justiça não pretendem menor independência do Ministério Público nem desvalorizam o avanço histórico na investigação penal que não se encolheu perante os mais poderosos”.

Outra geração

A avaliação que José Eduardo Martins e António Leitão Amaro fazem do debate não é geracional. José Miguel Júdice, um histórico do PSD que se desfiliou há 11 anos, definiu o fente-a-frente como “um combate de boxe em que Santana encostou Rio às cordas”. Houve KO? “Não foi KO técnico, mas ganhou aos pontos. Rio recuperou um bocadinho e depois andaram a jogar para o empate, não têm ideias”, lamentou.

Para Júdice, Rui Rio mostrou-se demasiado receoso. “O problema não foi ter levado pancada. Foi não ter sabido responder. Teve vergonha por ser contra um companheiro de partido." No próximo debate precisa de mostrar que tem coragem de ir à luta, defende. “Serenamente, tem de ter força anímica e dureza psíquica para, sem ser aos gritos, levar Pedro Santana Lopes a perder a cabeça”. Já Santana, diz Júdice, tem de refrear a euforia e assumir-se como “um estadista”. Ainda assim, “foi o melhor debate do Pedro Santana Lopes que vi na vida”, arrisca .

O primeiro duelo levou a que as expectativas se invertessem em relação a Santana, mas há outro pela frente, na TVI. E para esse Júdice tem uma sugestão. “Rio e Santana deviam ver os debates de 1984 entre Ronald Reagan e Walter Mondale”. Fica a dica.

Outro rosto bem conhecido do PSD, Fernando Ruas, tem evitado dizer o que pensa sobre a liderança, mas não sobre o frente-a-frente televisivo. “Gostei do debate. Gosto de ver candidatos frontais e isso aconteceu. Foram respeitadores e nem por um momento insultuosos”, assume Ruas, para quem o “PSD fica bem servido com qualquer um dos dois candidatos”. Para o próximo duelo, um conselho: “Agora que já falaram muito do passado, espero que falem mais do futuro”.

Também Fernando Seara, ex-deputado e antigo presidente da Câmara de Sintra, viu o debate de quinta-feira e não resistiu a comentar. “Pedro Santana Lopes foi o que sempre foi: combatente e directo. Rui Rio nunca deixou de ser, como bem assisti, o primeiro vice-presidente de Santana Lopes. Santana Lopes foi incisivo e mostrou memória. Rui Rio foi em certos momentos concreto, mas não conseguiu romper com o passado.” O duelo deixou-se marcar muito pelo que aconteceu desde 2004, mas Seara acredita que “um e outro candidatos sabem bem que o presente é uma ponte entre o passado e o futuro”.

Tal como Ruas, a expectativa deste antigo autarca é que “o futuro possa estar mais presente” no próximo frente-a-frente. “Mas ninguém pode ficar atrapalhado com as recordações do passado, em que muitos participámos e em que em certos momentos sentimos a solidariedade de Santana Lopes e a indiferença de Rui Rio. E venha o próximo”, termina Seara.

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