Quem tem razão nas guerras desenterradas do PSD?

Foram dez minutos de confronto total, sempre com o passado a servir de argumento. No debate da RTP, os candidatos apontaram o dedo. Quem teve, afinal, razão?

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Debate viveu mais do passado do partido do que do futuro do país MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Foram dez minutos de confronto total, sempre com o passado a servir de argumento. Rui Rio e Santana Lopes voltaram ao Governo de cinco meses de 2004, à liderança de Ferreira Leite e ainda aos tempos duros do passismo e aos amigos da campanha em curso. Houve bons e maus argumentos, algum fumo tóxico e um objectivo comum: convencer os militantes de que o outro não é de confiança. Uma a uma, vejamos as batalhas:

As “trapalhadas”

O Governo de Santana foi o mote de Rui Rio. E sim, foi um Governo trapalhão — mas o candidato não soube explicar isso. Houve férias de Santana depois da posse, fogos combatidos sem coordenação, uma colocação de professores caótica, contradições e demissões com estrondo. E até um pedido formal do Governo para a TVI demitir um comentador que todas as semanas falava dessas “trapalhadas” - era Marcelo, pois claro. Rio não deu nenhum exemplo. E teve que jogar à defesa, explicando por que razão nunca tinha dito isso na época quando era "vice" de Santana no PSD. Justificou bem (não quis prejudicar mais), mas ficou desnecessariamente por baixo do adversário — o "enfant terrible" continua… terrible.

As críticas de Rio ao PSD

Foram o contra-ataque que Santana levou preparado. A lição foi bem estudada e teve vários capítulos, mas misturou verdades com meias-verdades ou ficções. Que Rio fez parte do “grupo maravilha” de Ferreira Leite e Pacheco Pereira que afastaram Passos das listas de deputados em 2009 (verdade); que essas eleições só deram ao PSD mais 0,2% do que Santana teve quatro anos antes (meia verdade, já que aí Sócrates perdeu a maioria); que Rio fez oposição a Passos participando numa conferência na Associação 25 de Abril e fundando uma associação política preparando caminho à liderança. Este último ponto era o decisivo, mas é uma hipérbole: Rio fez críticas muito pontuais ao Governo de Passos, mas nunca na política orçamental e de alinhamento com a troika. E foi fazendo caminho, sim, mas para uma candidatura presidencial. Ela não aconteceu, porque apareceu Marcelo. Sobrou, claro, o caminho até às directas.

O partido que Santana quis fundar

Esta foi a contra-resposta de Rui Rio: Santana quis fundar um partido contra o PSD. Uma vez mais, é verdade, mas Rio fez tiro à água: não lembrou que esse projecto existiu, sobretudo, na oposição à liderança de… Marcelo (em 1996/97), que agora Santana acarinha. E Rio nunca citou a outra vez em que Santana o pensou - a única em que o disse publicamente. Foi em Março de 2011, a um mês da queda de Sócrates, quando Passos era líder da oposição: "Há tempos que admito e considero que é muito provável que apareçam outras realidades no centro-direita de Portugal. A ver vamos e eu estou num processo de pensamento sobre isso. Quero ser livre, gosto de ser livre”, disse Santana à TVI. Disse, mas Rio não citou. E Santana sorriu.

Diz-me com quem andas

Aqui foi de parte a parte, mas Santana foi (outra vez) mais eficaz, apesar de contradizer o seu discurso de unificação de todo o “PPD/PSD”. Porque levava uma lista de apoiantes que nunca tiveram pudor de criticar opções de alguns líderes do partido. Como Pacheco Pereira, que foi ao comício das esquerda na Aula Magna (promovido por Mário Soares), Ferreira Leite (na TVI24, contestando o excesso de austeridade) ou - mais recentemente — Morais Sarmento, que atacou o próprio Santana na campanha, dizendo que antes preferia votar António Costa.“E depois desaparecem da campanha”, rematou, lapidar. Rui Rio respondeu à letra — mas não em massa: deixou cair um apoiante de Santana que divide opiniões (Miguel Relvas). E perguntou-lhe de volta: “Queres ser líder do partido porque eu estive com o Pacheco Pereira”. Conclusões? Neste ponto, só os militantes do PSD poderão escolher.

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