Autor de livro polémico diz que Trump é como uma criança e não está bem da cabeça

Presidente dos EUA pediu aos advogados para travarem a publicação de Fire and Fury: Inside the Trump White House, prevista para terça-feira. Em resposta, autor e editora decidiram publicá-lo esta sexta-feira.

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Donald Trump é descrito como "uma criança que precisa de satisfação imediata" Reuters/Carlo Allegri

No final de uma reunião importante no Pentágono, em Julho do ano passado, o secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, saiu da sala furioso com o que tinha ouvido da boca do Presidente Trump e desabafou com os conselheiros mais próximos: "É um idiota." Agora, o autor do polémico livro Fire and Fury: Inside the Trump White House diz que Tillerson é apenas um de muitos na Casa Branca que chamam nomes ao Presidente, e garante que "todas as pessoas que o rodeiam questionam a sua inteligência".

Numa entrevista na edição desta sexta-feira do programa Today, da NBC, Michael Wolff falou pela primeira em público sobre o livro e sobre as acusações de que tem sido alvo – depois de alguns jornalistas terem dito que o trabalho de Wolff no passado levanta dúvidas quanto à sua credibilidade, Trump aproveitou para o apresentar à sua base de apoio como mais um jornalista que o quer deitar abaixo com mentiras e exageros.

Posto perante essa questão, Wolff disse que nunca ninguém desmentiu uma das suas crónicas ou um dos seus livros ao longo dos anos, e lançou um novo ataque a Trump: "A minha credibilidade está a ser questionada por um homem que tem menos credibilidade do que qualquer outra pessoa que alguma vez pisou o planeta Terra." E deixou um aviso: "Eu trabalho como qualquer outro jornalista. Tenho gravações, tenho apontamentos. Estou absolutamente confortável com tudo o que escrevi neste livro."

O livro Fire and Fury: Inside the Trump White House tinha publicação anunciada para terça-feira da próxima semana, mas o autor e a editora decidiram antecipar a data de lançamento depois de terem recebido uma intimação dos advogados de Trump – o livro foi posto à venda esta sexta-feira nos Estados Unidos e pode ser comprado através das lojas online.

Numa decisão que só tem paralelo nos esforços que Richard Nixon fez para proibir a divulgação dos famosos Pentagon Papers, há 47 anos, Trump recorreu à Justiça para tentar proibir a publicação de um livro que o deixa mal na fotografia.

"Dizem que ele é um moron, um idiot. Há mesmo uma competição [na Casa Branca] para tentarem perceber quem é ele verdadeiramente. Este homem não lê, não ouve", disse Michael Wolff na entrevista à NBC. "Mas há uma ideia que é partilhada por toda a gente: todos dizem que ele é como uma criança. E o que eles querem dizer com isso é que ele tem uma necessidade de satisfação imediata."

Os primeiros excertos foram publicados pelo jornal britânico The Guardian na quarta-feira, e nesse mesmo dia o autor antecipou a publicação de um texto na revista New York. Desde então, vários jornais, sites, canais de televisão e estações de rádio foram avançando outros episódios contados no livro – escrito, segundo o autor, a partir de "mais de 200 entrevistas", incluindo a pessoas que falam com Trump todos os dias na Casa Branca, e uma entrevista ao próprio Presidente norte-americano (que ele afirma nunca ter dado "para o livro").

Trump disse no Twitter que não autorizou Wolff a entrar na Casa Branca, e que  recusou os seus pedidos "várias vezes", ao que Wolff respondeu com uma pergunta, na entrevista à NBC: "O que é que eu estava lá a fazer se ele não me queria lá?" Esta é a única informação que é facilmente comprovada por toda a gente: Wolff passou um ano a entrar e a sair da Trump Tower, em Manhattan, onde Trump geria a sua campanha eleitoral, e depois manteve esse acesso sem restrições na Casa Branca.

O director da revista Vanity Fair, Graydon Carter (onde Wolff trabalhou), resumiu com graça a pergunta que muitos devem ter feito quando souberam que um jornalista com fama de não olhar a meios para encontrar uma história polémica teve a porta aberta na Casa Branca do Presidente mais polémico das últimas décadas: "Não me surpreende que o Wolff tenha escrito um livro divertido. O que me surpreende é que a Casa Branca o tenha deixado passar da porta de entrada."

Quanto ao conteúdo do livro, algumas das passagens mais relevantes já foram confirmadas pelos intervenientes. Num artigo publicado no Washington Post, o pivô do programa da MSNBC Morning Joe, Joe Scarborough, confirma que jantou com Donald Trump e que lhe perguntou se ele lia. "Pelos vistos, não sou o único a questionar a capacidade do Presidente para se concentrar na palavra escrita", disse Scarborough.

Na primeira entrevista desde que a polémica estalou, Wolff foi também convidado a explicar porque acha tão relevante dizer que o Presidente Trump "repete as mesmas três histórias de dez em dez minutos" e que numa ocasião não reconheceu alguns dos seus velhos amigos – afinal, uma coisa é questionar a sua inteligência, outra é sugerir que ele pode estar doente. "Vou citar o Steve Bannon", respondeu Wolff. "Ele não está bem da cabeça."

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