Primeira bebé do ano em Viena é alvo de ataques xenófobos

Às primeiras horas de vida, Asel já era vítima de ódio nas redes sociais.

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“Criou-se um estereótipo em relação aos muçulmanos e que tem crescido nas redes sociais” Klaus Schwertner/Facebook

Tinham passado 47 minutos da meia-noite quando Asel nasceu. Foi a primeira bebé do ano a vir ao mundo em Viena, a capital da Áustria. Mas em vez de mensagens de parabéns e desejos de saúde, houve muitos austríacos que se deram ao trabalho receber uma recém-nascida com torrente de ameaças e de insultos racistas e xenófobos, como conta o New York Times.

Tal como em Portugal, é uma tradição para a imprensa austríaca noticiar o nascimento dos primeiros bebés do ano, com os jornais a exibirem fotografias de casais radiantes com os seus filhos. Este ano, no entanto, o que era suposto ser uma ocasião feliz tornou-se em mais um exemplo de intolerância. Vários grupos de defesa dos direitos humanos e de apoio aos refugiados na Áustria afirmaram que nunca viram uma semelhante onda de ódio que tivesse como alvo um bebé recém-nascido.

“Nas primeiras horas de vida, esta doce menina já era alvo de uma inacreditável onda de violência e comentários online de ódio”, escreveu Klaus Schwertner, secretário-geral da Caritas de Viena, na sua página de Facebook. “É uma nova dimensão de ódio online, tomar como alvo um recém-nascido inocente”, disse.

Muitos dos comentários que surgiram nas páginas de redes sociais dos jornais e televisões austríacos que mostravam a fotografia da família de Asel tinham também como alvo a mãe da bebé, que na imagem aparecia sorridente com um véu islâmico cor-de-rosa.

“Espero que morra no berço”, lê-se num dos comentários citados pelo New York Times. “Deportem essa escumalha imediatamente”, lê-se num outro comentário na página do jornal Heute.

Muitos dos comentários foram entretanto apagados, mas continuam sujeitos a serem alvo de denúncias às autoridades, que poderão acusar os autores dos crimes de incitamento ao ódio e de discurso de ódio.

Porém, nem todos os comentários foram negativos. E houve utilizadores que expressaram apoio à família muçulmana e que relacionaram o clima de ódio com a entrada da extrema-direita na coligação governamental austríaca constituída em Dezembro. Tanto o Partido da Liberdade como os conservadores austríacos assentaram as suas campanhas eleitorais em agendas anti-imigração, e o novo governo já anunciou o corte dos benefícios financeiros concedidos a refugiados, assim como um maior controlo da imigração ilegal.

Schwertner, o responsável da Caritas vienense, utilizou a sua página de Facebook para instar os seus seguidores a apoiar a família muçulmana. Na quinta-feira, mais de 10.000 pessoas já tinham partilhado a sua mensagem, que contava com 17.000 “gostos” e muitas palavras de apreço, apoio e encorajamento.

Barbara Unterlechner, directora de um centro contra o ódio online, diz que desde a chegada de centenas de milhares de migrantes à Áustria, sobretudo como consequência da guerra na Síria, o país tem assistido a um aumento de comentários racistas e de discurso de ódio online. “Criou-se um estereótipo em relação aos muçulmanos e que tem crescido nas redes sociais” disse Barbara Unterlechner ao New York Times. “O discurso de ódio é um problema social”, afirmou.

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