Shirin Ebadi apela à desobediência civil dos iranianos

Regime apresenta a situação como "controlada", mas a multiplicação de pequenos focos de protestos pode ser um desafio complexo.

A Nobal de Paz iraniana Shirin Ebadi sugeriu acções de desobediência civil aos iranianos
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A Nobal de Paz iraniana Shirin Ebadi sugeriu acções de desobediência civil aos iranianos DYLAN MARTINEZ/Reyters
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O regime apresenta a situação como controlada ABEDIN TAHERKENAREH/EPA

A activista iraniana Shirin Ebadi apelou aos iranianos para que não desistam, enquanto o regime apresentava uma imagem de diminuição dos protestos, garantindo que a situação estava controlada.

Ebadi, que venceu o Nobel da Paz em 2003 pela defesa dos direitos humanos e que deixou o Irão como outros críticos do regime, deixou uma mensagem que em sugere que os iranianos levem a cabo acções de desobediência civil, deixando por exemplo de pagar a conta da electricidade ou tirando o dinheiro dos bancos, para deixar “o regime de joelhos”. 

O regime, pelo seu lado, apresentou os protestos como perdendo força, depois de terem sido mortas pelo menos 21 pessoas e presas centenas desde o início da contestação há oito dias.

O chefe do exército, Abdolrahim Mousavi, declarou que “ainda que esta sedição cega tenha sido tão pequena que uma parte das forças da polícia tenham conseguido cortá-la pela raiz, podem estar certos de que os camaradas do exército estariam prontos a confrontar o Grande Satã”, referindo-se aos Estados Unidos e à alegação de que os protestos eram instigados de fora.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, prometeu no Twitter “apoio” aos manifestantes e a sua embaixadora na ONU, Nikki Haley, pediu uma reunião urgente do Conselho de Segurança sobre a situação no Irão. A Rússia reagiu a favor do aliado, dizendo que considerava esta reunião “prejudicial” e aconselhou os EUA a não interferirem com questões internas iranianas.

Do país continuavam, no entanto, a aparecer nas redes sociais vídeos de pequenos protestos, apesar de forte presença policial, ou de familiares às portas da prisão de Evin perguntando por pessoas desaparecidas. Na quinta-feira, activistas disseram que foram detidas mais dezenas de pessoas, a maioria estudantes em Teerão. 

Várias redes sociais foram fortemente restringidas pelo regime desde o início dos protestos que pareciam ser espontâneos e sem líderes, e provocados sobretudo pela falta de progresso económico e pela corrupção. “Não quero prejudicar o meu país, mas quando vejo tanta corrupção sinto-me sufocar”, disse um participante nos protestos à agência Reuters. “Não sou inimigo, sou iraniano. Adoro o meu país. Parem de roubar o meu dinheiro e o dos meus filhos.”

É difícil perceber o alcance dos protestos por causa da grande dimensão do país, da descentralização das manifestações, e das restrições do regime. Mesmo apenas em Teerão, a dada altura o correspondente do diário norte-americano The New York Times explicava, no Twitter, a dificuldade de ter um quadro mais completo: "Não consigo estar em todo o lado nesta grande cidade".

O analista do centro de estudos Carnegie Endowment for International Peace e professor na Universidade de Georgetown (EUA) Karim Sadjadpour sublinhava que nem sempre os maiores protestos são mais difíceis para as autoridades: “Controlar uma grande multidão em Teerão pode acabar por ser mais fácil do que apagar vários fogos mais pequenos em províncias distantes, especialmente porque as forças e recursos já estão ocupados com batalhas na Síria, Iraque, Iémen, etc”.  

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