Apesar da fadiga das sequelas, cinema faz mais dinheiro no mundo — especialmente na China

China cresce em salas, espectadores e êxitos. Box office mundial dominado por blockbusters, dos Jedi aos super-heróis passando pelos contos de fadas, com mulheres.

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Star Wars: Os Últimos Jedi dr

Portugal está alinhado com o mundo — o box office global cresceu no último ano, representando ganhos de 33,1 mil milhões de euros muito graças ao mercado chinês, ao seu grande êxito local Wolf Warrior 2 e, a nível planetário, a Star Wars: Os Últimos Jedi e a outros filmes que ultrapassaram os mil milhões de lucros. Se a China cresceu 14% para receitas de 7,1 mil milhões de euros, com cada vez mais salas e espectadores, os EUA tiveram uma ligeira quebra de facturação para os 9,2 mil milhões de euros e evidenciaram como o mundo do cinema está a mudar — tiveram o menor número de espectadores em 27 anos, o pior Verão da década e alguns sinais de fadiga de sequelas e da força do streaming caseiro.

De acordo com a Hollywood Reporter, os números americanos, sendo positivos e mostrando provavelmente o terceiro ano mais rentável de sempre no seu mercado, denunciam também que a subida do preço dos bilhetes poderá estar a mascarar o facto de “a frequência [das salas de cinema ter] caído a pique para um provável nível mais baixo dos últimos 27 anos”. Nos EUA, ao contrário do que acontece na Europa, os exibidores não contabilizam o número de espectadores, mas sim as receitas da venda de bilhetes, fazendo depois uma média,

Segundo a ComScore, empresa que monitoriza as bilheteiras nos EUA, este foi o pior Verão na última década para o cinema naquele país, responsável em parte pela queda de 2,3% nas suas receitas. “O ano começou verdadeiramente em grande. De Janeiro a Abril foi um êxito esmagador, e Setembro, Novembro e Dezembro foram enormes sucessos, mas o meio do ano... correu visivelmente mal”, comenta à Associated Press Adam Aron, presidente da maior cadeia de cinemas dos EUA, a AMC.

Nos EUA, o filme mais visto e rentável de 2017 foi Os Últimos Jedi, seguido por A Bela e o Monstro e Mulher-Maravilha; em todo o mundo, a ordem dos factores inverte-se e A Bela e o Monstro de Emma Watson encabeça a lista, seguida por Velocidade Furiosa 8 e depois o mais recente Star Wars. Em mais um ano de sequelas, remakes e reboots, o público denotou alguma fadiga, mas houve também os bons resultados de filmes sem antecedentes como Foge, Dunkirk ou Girls Trip, e o crescimento da concorrência do entretenimento em casa, do streaming ao video on demand.

“Os estúdios estão a ficar para trás” por isso mesmo, defende o analista Jeff Bock, da Exhibitor Relations, ao site Business Insider. Porque por cada novo Star Wars ou Mulher-Maravilha há um Baywatch: Marés Vivas ou um Rei Artur: A Lenda da Espada “que não estão a ser bem recebidos. Os públicos continuam a migrar aos magotes para o streaming em busca de conteúdos desafiadores”, avisa Bock. À AP, o analista vai mais longe e diz mesmo que “2017 será lembrado como o ano da mudança da guarda, em que as pessoas se aperceberam de que os filmes não estão a melhorar, mas a TV está”.

Da lista dos filmes mais populares do ano destaca-se o facto de no top estarem as protagonistas mulheres, estrelas também das estatísticas de quem vai mais ao cinema. Foi ainda um ano da Disney, que agora que absorveu a Fox se tornará uma força de produção ainda mais homogeneizadora no mercado — ao estúdio de Mickey e dos Jedi couberam campeões de vendas como Star Wars, A Bela e o Monstro, Piratas das Caraíbas ou Guardiões da Galáxia 2. Já a 2018 caberá “repensar a liderança empresarial e as práticas negociais, até ao reenquadramento do que chega ao ecrã”, como escreveu a crítica do Washington Post Ann Hornaday. Mas “o realinhamento mais radical de Hollywood será perceber finalmente o que querem as mulheres, e porque é que a sua sobrevivência depende da resposta”.

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