Notícias: novo projecto identifica comentários de ódio em tempo real

Financiado em cerca de 50 mil euros pela Google, o projecto Stop Propaghate via identificar automaticamente comentários de ódio

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Investigadores do Porto vão desenvolver um serviço para permitir às empresas de comunicação social identificar automaticamente discursos de ódio em comentários às suas notícias.

O objectivo do projecto Stop PropagHate, financiado em cerca de 50 mil euros pela Google, é contribuir para um melhor entendimento do discurso de ódio no caso do jornalismo online e criar ferramentas informáticas que o minimizem, disseram à Lusa os investigadores Sérgio Nunes e Paula Fortuna, do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC).

Através deste serviço informático, as empresas de média vão poder verificar os comentários de ódio, bem como prever a probabilidade de uma notícia gerar comentários contendo esse tipo de discurso, acrescentaram os responsáveis pelo projecto, que fazem também parte da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.

O discurso de ódio é cada vez mais frequente nos meios online, devido, sobretudo, à crescente participação dos leitores através de comentários às notícias ou de partilhas e comentários nas redes sociais. "Se, por um lado, é importante manter os leitores interessados e envolvidos, agilizando os espaços de participação, por outro torna-se um desafio lidar com todo o conteúdo recebido, devido à presença de linguagem ofensiva e discurso de ódio", frisaram.

A informação obtida por este serviço informático possibilitará quantificar a presença de discurso de ódio numa plataforma e eliminar esse tipo de comentários nas redes sociais. Permitirá também ordenar e mostrar ao utilizador mensagens marcadas como ofensivas apenas em último lugar, diminuindo a probabilidade de serem visualizadas. Na opinião dos criadores, este projecto sensibiliza para o problemática do discurso de ódio, que tem vindo a crescer na comunicação online e que tem consequências negativas, não só para as pessoas alvo, mas também para a sociedade em geral.

"A influência dos média na opinião pública tem sido largamente estudada, como é o caso do efeito das sondagens na intenção de voto. Da mesma forma, faz sentido pensar que podem contribuir para fomentar mais ou menos o discurso de ódio", disseram Sérgio Nunes e Paula Fortuna. Os investigadores, que no decurso do projecto esperam avançar mais nestas questões, acreditam que o destaque dado a determinadas características (como raça, género, orientação religiosa, entre outras) para descrever grupos ou indivíduos criam um ambiente propício ao discurso de ódio.

A "gestão activa" destes desafios por parte de empresas de média "passará sempre pelo reforço das redações e dos meios disponíveis para lidarem com a crescente participação e envolvimento dos leitores", referiram. E acrescentaram: "Ferramentas informáticas como as que pretendemos desenvolver serão peças importantes para lidar com a escala e complexidade do problema, mas não substituirão o envolvimento humano".

A ideia para este projecto surgiu da continuidade do trabalho da tese de mestrado de Paula Fortuna, que teve como tópico a detecção automática de discurso de ódio, orientada por Sérgio Nunes e inserida no projecto FourEyes (Intelligence, Interaction, Immersion and Innovation for Media Industries). O financiamento agora atribuído pelo fundo de inovação Digital News Initiative (DNI), que resulta de uma parceria entre a Google e editoras de notícias da Europa e tem como objectivo apoiar o jornalismo através da tecnologia e da inovação, vai permitir que este projecto arranque ainda nestes primeiros meses de 2018.

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