De célula de protecção ao maior cartel do México

O Jalisco Nova Geração tornou-se a organização com maior expansão no país e a menos impactada pelas ofensivas do Exército.

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Ataque na cidade de Zapopan, no estado de Jalisco Alejandro Acosta/Reuters

A chamada "Nova Geração" que agora domina o narcotráfico no estado de Jalisco é uma facção que foi formada há cerca de uma década no seio do imenso cartel Sinaloa para cuidar dos interesses daquele império na área metropolitana de Guadalajara, e que acabou por ganhar notoriedade pelas suas acções particularmente brutais durante as ofensivas dos rivais Los Zetas. Foi, de resto, com o massacre de 35 membros desse cartel (que não logrou conquistar território do Sinaloa no estado de Jalisco) que se deram a conhecer: num vídeo difundido através das redes sociais, designaram-se como "Los Mata Zetas".

Nessa altura, o seu ideólogo era Ignacio Coronel, conhecido como "El Nacho", que era um dos principais agentes financeiros do cartel Sinaloa. O aparecimento do grupo foi noticiado pela imprensa mexicana como um novo braço paramilitar do cartel Sinaloa, que teria como missão garantir a segurança das famílias dos líderes da organização. No entanto, como veio depois a saber-se, os "mata zetas" não tinham qualquer ligação ao capo Joaquín Guzmán, "El Chapo", ou aos outros chefes do cartel, como os irmãos Beltrán: quando Ignacio Coronel foi morto, em Julho de 2010, foram cortados todos os laços entre os homens de Jalisco e o cartel mais poderoso do narcotráfico.

Depois de "El Nacho", o controlo do grupo passou para Nemesio Oseguera Cervantes, ou "El Mencho", que transformou a antiga célula de protecção do Sinaloa numa organização criminosa concorrente dos restantes cartéis – os Cavaleiros Templários, os Zetas e o próprio cartel de "El Chapo", todos eles enfraquecidos pela guerra com o Exército mexicano e desgastados por lutas intestinas.

Já sob a designação de Jalisco Nova Geração, o grupo começou por responder a uma "lacuna" do mercado das drogas, especializando-se na produção de drogas sintéticas. Além disso, foi assumindo o controlo da lucrativa rota do Pacífico, à medida que os seus rivais iam sendo detidos ou eliminados. O grupo beneficiou ainda da expertise do seu fundador, que formou vários especialistas em operações de lavagem de dinheiro, criando uma rede assente na corrupção das autoridades locais.

"Foi graças ao seu capital humano que o Jalisco Nova Geração foi capaz de crescer tão rapidamente e converter-se numa organização tão avançada. Os seus membros passam despercebidos, não têm antecedentes criminais nem vêm de famílias já vinculadas ao crime organizado, o que facilita a sua movimentação por vários mercados”, explicou à BBC Mundo o analista Alberto Islas, da consultora Risk-Evaluation.

Com base em informações retiradas de relatórios da procuradoria-geral mexicana e dos serviços de informação dos Estados Unidos, o El País diz que o Jalisco Nova Geração se tornou a organização com maior expansão no país e a menos impactada pelas ofensivas do Exército: dos 105 "narcos" identificados como alvos prioritários pelo Governo, que foram detidos ou abatidos, só quatro estavam ligados a este novo cartel – que também tem o seu próprio braço armado, o Los Cuinis.

Aliás, o grupo mantém-se fiel à sua origem, utilizando a violência como método de expansão e controlo. "O Jalisco Nova Geração assassinou de forma violenta agentes da polícia estadual, usou mecanismos violentos e sádicos contra as forças de segurança, atentou contra o Exército mexicano, derrubando helicópteros das forças especiais e com estes métodos conseguiu estender o seu domínio", dizia ao El País o especialista em segurança, Gerardo Rodríguez.

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