Várias "horas de espera". Enfermeiros reclamam "sala de crise" para responder a "caos" nas urgências

Presidente da Administração Regional de Saúde do Norte garante que a situação está a ser monitorizada em permanência e lembra que os horários dos centros de saúde foram reforçados. "Vale a pena ir aos centros de saúde", apela.

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MARIA JOãO GALA
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Rui Gaudêncio

Com o frio a apertar e a actividade gripal com intensidade crescente, a Ordem dos Enfermeiros (OE) traça um cenário de “caos” em vários serviços de urgência de Norte a Sul do país. O exemplo mais dramático avançado pela OE, em comunicado, é o do Hospital de Faro, onde um enfermeiro encarregado da triagem foi ameaçado com uma faca pelo familiar de um paciente cansado de aguardar e onde alguns doentes terão chegado a esperar mais de 20 horas para serem atendidos.

A assessoria do Hospital de Faro confirmou ao PÚBLICO a ameaça com faca, mas sublinhou que não implicou qualquer tipo de consequência e que o caso foi encaminhado para as autoridades, e garantiu que o tempo de espera neste sábado "tem vindo a ser consideravelmente reduzido" ao longo do dia.

Para a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, porém, a tutela já devia ter activado uma “sala de crise”, face à situação que se vive nalgumas urgências, onde haverá doentes “amontoados, sem controlo de infecção”, e onde a maior parte dos pacientes aguardam muito mais tempo do que aquele que é preconizado pelo sistema de triagem usado nestes serviços (pulseiras de várias cores, consoante a gravidade).

Os exemplos dos serviços de urgência em que a situação terá ficado “caótica” nas últimas horas são, segundo o comunicado da OE, além de Faro, os dos hospitais de Penafiel, Braga, Guimarães, Vila Nova de Gaia e Porto e ainda o do hospital de Leiria. Neste último, destaca a Ordem, enfermeiros dos cuidados intensivos terão sido transferidos para a urgência, "face à afluência de doentes, deixando em insegurança os doentes internados nesse serviço”. 

No Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, acrescenta a bastonária, havia neste sábado "170 doentes todos juntos, separados por cortinas" na urgência e mais 30 esperavam para serem triados.

Mas é em Faro que se vive a situação mais complexa, segundo a Ordem. Os pacientes com pulseira laranja, a segunda mais grave do sistema de triagem (muito urgente, espera máxima de 10 minutos), terão chegado a aguardar "seis horas" para serem atendidos, enquanto pacientes menos graves terão esperado "22 horas".

São dados que estão longe de corresponder aos que constam do portal do SNS, onde se podem consultar os tempos médios de espera nas urgências, mas Ana Rita Cavaco assevera que estes “não são reais” e pede aos conselhos de administração dos hospitais que "digam a verdade aos jornalistas".

Lembrando que a OE alertou "em tempo útil" para o problema da falta de recursos humanos que todos os anos se sente neste período, a bastonária lamenta que o Governo tenha proibido a contratação de enfermeiros até ao final do ano, uma medida que pode ser accionada no âmbito do plano da contingência para a gripe e o frio.

"O Ministério da Saúde tem responsabilidade nesta situação. De uma vez por todas, os políticos têm que perceber que isto é a vida real, não é a vida nos gabinetes", enfatiza Ana Rita Cavco.

Contactado pelo PÚBLICO, o gabinete do ministro Adalberto Campos Fernandes não fez comentários, sublinhando que são os hospitais e a administrações regionais de saúde que devem dar informações sobre esta matéria.

Sem querer também comentar as afirmações da bastonária da OE, o presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte, Pimenta Marinho, admitiu que nalguns hospitais da região tem havido "um afluxo de doentes fora do normal", mas assegurou que a resposta tem sido devidamente reforçada sempre que necessário.

Pedindo às pessoas que liguem previamente para a linha SNS 24 (808 24 24 24), o presidente da ARS/Norte aproveitou para sublinhar que há uma forte articulação com os centros de saúde, cujos horários foram alargados nesta altura do ano. "Vale a pena ir aos centros de saúde", apela.

O PÚBLICO pediu também esclarecimentos ao Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e ao Hospital de Leria, que ainda não responderam.

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