E como transita o bom velho gin-tónico para o ano avançado de 2018?

Era mais fácil quando só havia a Schweppes. Hoje em dia, as coisas complicaram-se porque as permutações possíveis são cada vez maiores. Já não há um gin-tónico, há centenas de variações.

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Daniel Rocha

Desde a última vez que escrevi sobre gin-tónicos muita coisa mudou tanto no mundo do gin como no mundo da água tónica. Claro que agora há mais gins horrorosos e mais  tónicas pretensiosas do que em qualquer outra época da saga humana mas, em contrapartida, nunca houve tantos gins bons e tantas boas águas tónicas.

Era mais fácil quando só havia a Schweppes. Os gins eram concebidos para serem misturados com a Schweppes. Nos anos 90 era possível fazer provas de todos os principais gins porque só havia cerca de uma dúzia. Provavam-se todos com Schweppes.

A Schweppes, entretanto, reagiu bem à nova onda de tónicas e em Outubro lançou no Reino Unido a gama 1783 de cinco tónicas destinadas a acompanhar bebidas brancas — gin e vodka — e bebidas castanhas, como whisky, rum e tequila.

Hoje em dia, as coisas complicaram-se porque as permutações possíveis são cada vez maiores. Já não há um gin-tónico, há centenas de variações. O estilo espanhol leva a receitas específicas para gins específicos. Há águas tónicas que foram especialmente concebidas para certos gins: é o caso da chilena 1724 para o gin Mare.

Para tentar pôr um pouco de ordem no assunto escolhi quatro águas tónicas que avaliei sozinhas, sem nada e depois só com gelo, rodela e twist de limão. Depois testei-as com três estilos de gin: com Beefeater normal, Beefeater 24 e Hendrick’s. 

A primeira grande surpresa foi a delícia que continua a ser a tónica Schweppes europeia. Bem sei que não se consegue apagar décadas de habituação ao sabor da Schweppes mas, mesmo assim, é incrível como continua a saber bem, sem gin, como refresco. Não é nada doce e tem muita adstringência quinina.

A Fever Tree Indian Tonic também é muito boa, cítrica e refrescante. Como é muito diferente da Schweppes — até na carbonização, que é mais subtil — seria absurdo ter de escolher entre elas. Ambas são deliciosas e ambas fazem falta.

Uma água tónica de que gosto particularmente é mais difícil de arranjar mas vale a pena: é a água tónica di Chinotto feita pela Lurisia, uma empresa italiana de água mineral e refrigerantes. O chinotto é uma espécie de pequeno limão galego que dá um sabor interessantíssimo à água tónica.

A água tónica da Lurisia é a mais seca e adulta que conheço. Em vez de carica tem uma tampa de rosca, o que as torna as garrafas instantaneamente reutilizáveis, até pelo facto de conterem 2 decilitros.

A única água tónica que não me soube bem foi a 1724. Pareceu-me muito doce, mole e pachorrenta de gás. Como é a mais cara — é importada do Chile — trata-se de um tiro no pé.

No entanto, quando a misturei com Beefeater 24 percebi o papel que ela desempenha: faz brilhar o gin. Aconteceu o mesmo com o Hendrick’s: tem um efeito multiplicador. É uma tónica enfatizante, feita para beber com gins bem feitos que merecem ser saboreados tal qual foram destilados.

Se o estilo espanhol é de misturar gins exóticos com outros ingredientes (ervas, frutos vermelhos, canela, etc.) num copo enorme com muito gelo — adequando cada gin a tónicas diferentes — o estilo inglês tem evoluído para o lado da não-intervenção.

Abandonou-se felizmente a mania de usar limas em vez de limão: um mau hábito americano. Também há quem prefira deixar falar o gin e a água tónica, abdicando até da fatia de limão, ficando apenas o twist de casca. 

A Fever Tree ajudou a popularizar este estilo despido de gin-tónico. Funciona mas a mim faz-me falta a fatia de limão. Gosto de entalá-la entre os cubos de gelo, como me ensinou o meu grande mestre de gin-tónicos, Carlos Quevedo, ainda os anos 80 estavam a começar.

Outra moda interessante é a do gin-tónico mais frio. Põem-se os copos e o gin no congelador e a água tónica o mais fria possível sem gelar. Só o limão fica de fora. Usa-se bom gelo bem gelado (vale a pena investir em cuvettes tapadas, que protegem o gelo de contaminação) e monta-se o gin-tónico gelado. O gelo não se poderá sequer mexer. Passado um minuto, ele acorda na mão e está o mais frio possível, quase sem diluição.

Bons gin-tónicos, boas águas tónicas e outras boas entradas! 

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