Ganhar é detalhe no Campo Dr. Sócrates Brasileiro

Inaugurado recinto com o nome do histórico capitão da selecção brasileira, num jogo que contou com Chico Buarque e Lula da Silva.

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Um estandarte com o rosto de Sócrates exibido no seu estádio DR

Nenhuma equipa joga para perder, mas no recém-inaugurado Campo Dr. Sócrates Brasileiro ganhar é um detalhe. Se a máxima da “Democracia Corinthiana” era “Ser campeão é detalhe”, é justo que o mesmo princípio seja seguido no recinto que leva o nome do histórico capitão do Corinthians e da selecção do Brasil nos Mudiais de 1982 e 1986 e líder do movimento que deu voz aos futebolistas do emblema paulista e fez campanha pelas eleições directas para a presidência do Brasil. Um projecto de liberdade num país que vivia sob ditadura militar.

Sócrates morreu em 2011 mas o seu legado de classe e irreverência perdurará – agora também num campo de futebol baptizado com o seu nome em Guararema, na região de São Paulo. O recinto fica na Escola Nacional Florestan Fernandes, um centro de educação e formação apoiado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a inauguração foi “um grande acto político em defesa da democracia no Brasil”, pode ler-se no site oficial do movimento.

A construção do campo durou cerca de um ano e resultou de uma angariação de fundos que contou com contributos de mais de 600 pessoas (e cada uma delas vai ter o nome inscrito num mural que assinalará esse esforço colectivo). Entre elas alguns nomes ilustres, como Chico Buarque – o cantautor é apaixonado por futebol e entrou mesmo em campo no encontro amigável disputado na inauguração do recinto. De um lado os “Amigos de Chico”, com Gustavo, filho de Sócrates, e também o ex-presidente brasileiro Lula da Silva a fazerem parte da equipa. Do outro lado, um conjunto do MST.

O árbitro da partida, Juca Kfouri (jornalista desportivo e colunista da Folha de S.Paulo e também amigo de Sócrates) não perdoou um cartão amarelo a Lula ainda antes de o jogo começar: “Eu vou apitar o jogo hoje e quero dizer que deixo de ser Juca Kfouri para virar o juiz Juca Moro. E já adverti Lula com cartão amarelo antes mesmo do jogo começar”, afirmou Kfouri, que adoptou Moro em jeito de provocação, numa alusão ao juiz Sérgio Moro, da operação Lava Jato e que condenou Lula da Silva por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Apesar de os “Amigos de Chico” terem estado em vantagem no marcador por 4-0, a partida terminaria empatada 5-5. Ser campeão é detalhe e ganhar também, imagina-se que Sócrates diria. “Tenho a certeza absoluta de que uma homenagem como esta é muito mais coerente com o que o ‘Magro’ sempre foi e deixá-lo-ia muito mais feliz do que se, por exemplo, resolvessem dar o nome dele ao Maracanã, ou se resolvessem mudar o nome do Pacaembu para o nome dele, ou dar ao estádio do Corinthians, em Itaquera, o nome dele”, assinalou Kfouri no final da partida.

Com a entrada livre, cerca de 1500 pessoas assistiram à festa de inauguração do recinto. Todos eram bem-vindos. Ou quase todos, segundo frei Beto, que abençoou o campo: “Eu quero dizer que, fora Temer, são todos bem-vindos.”

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos. Ouça também o podcast

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