Por um 2018 menos mau

Há 50 anos passámos de 1967 para 1968. 1968 foi o ano mais anos 60 de todos. Pode ser que 2018 faça a mesma gracinha para os twenty-teens.

Não quero novidades. Só quero continuações. Não quero surpresas. Só quero confirmações. Um ano novo está sempre cheio de tragédias e desastres. Desejar que não nos calhem a nós é brutal: é como querer que aconteçam a outros.

Dito isto, prefiro os números redondos. 2017 foi muito pontiagudo. 2017 é um número primo. 2018 será um número mais irmão. Há 50 anos passámos de 1967 para 1968. 1968 foi o ano mais anos 60 de todos. Pode ser que 2018 faça a mesma gracinha para os twenty-teens.

O que se pode esperar é que 2018 não seja tão mau como 2017. 2017 foi muito mau. São as mortes que doem mais, porque são tão definitivas, não contêm esperança.

É um erro considerar um ano de cada vez. É uma maneira de arrumar as coisas. As estações do ano são mais seguras. Penelope Lively, que agora tem 84 anos, disse em Ammonites and Leaping Fish que não é correcto dizer que a velhice é como o Inverno da vida porque o Inverno não é como a morte que põe fim à vida. O Inverno é sempre seguido pela Primavera — e a velhice não é seguida por nenhum renascimento.

Quanto mais dramáticos os tempos, mais se ganha em viver um dia de cada vez, para não dizer hora. Um ano é muito tempo, infelizmente. É mais fácil ser-se feliz a curto prazo, como quem não quer a coisa, como quem está distraído demais para se pôr a pensar nessas coisas sobre as quais só muito raramente se tem mão.

Que 2018 esteja entre os anos menos maus!

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