Romance no Bataclan? Telefilme com atentado em pano de fundo "adiado" após contestação

Filme do canal público France 2 alvo de petição de viúva do atentado, que defende ser demasiado cedo para explorar o ataque que fez 90 mortos naquela sala de espectáculos de Paris.

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A sala de espectáculos Bataclan foi um dos locais atacados pelo terrorismo islâmico na noite de 13 de Novembro de 2015 CHRISTIAN HARTMANN/Reuters

A gerar polémica desde a rodagem, o projecto do filme que conta uma história de amor nascida durante o atentado no Bataclan, a sala de concertos onde morreram 90 pessoas em 2015, foi agora “adiado”. Uma petição que defende que é demasiado cedo para explorar o violento ataque armado juntou mais de 36 mil assinaturas à hora de publicação desta notícia e o canal France 2 condiciona agora que sejam devidamente auscultadas as associações de vítimas.

O projecto do filme realizado por Marion Laine (Un coeur simple, À cœur ouvert) resume-se assim na sua sinopse do canal televisivo: “Ce soir-là [Aquela noite] é uma grande história de amor impossível, mas também a história de um renascimento, com Paris em fundo, cidade romântica por excelência mas hoje também uma cidade ferida”. Segundo o site Deadline, o projecto explora a paixão ficcional entre uma mãe solteira e um refugiado afegão nascida na noite dos atentados de Paris que vitimaram 130 pessoas – o par conhece-se quando ajuda a resgatar sobreviventes do Bataclan, a sala de concertos onde a 13 de Novembro de 2015 actuavam os Eagles of Death Metal quando uma série de ataques terroristas coordenados levou atiradores a interromper o concerto com disparos.

Os papéis principais estão atribuídos à conhecida actriz Sandrine Bonnaire, escreve o diário francês Le Monde, e ao actor Simon Abkarian, como indica o diário 20 Minutes, e a rodagem terminou na sexta-feira passada. Há um mês, e em declarações à rádio RTL, a responsável pela ficção do canal 2, Fanny Rondeau, tinha garantido que várias associações de vítimas foram consultadas e que se desejava o maior respeito e focar “os valores humanos, de solidariedade e reunião, mais do que insistir nas coisas muito duras e traumáticas”.

Agora, apesar de não existir sequer uma data de exibição anunciada, a petição promovida há um mês por Clarie Peltier – cujo marido David Perchirin (pai dos seus dois filhos) foi morto no Bataclan – reuniu apoios e surtiu efeito.

“Dois anos depois, as nossas feridas ainda estão em carne viva, as nossas mágoas são imensas, as nossas vidas estão feridas”, escreve Peltier numa carta aberta na plataforma change.org dirigida ao canal público France 2 e sua presidente. “Este projecto magoa-nos, dói-nos, choca-nos... Estamos escandalizados que tal projecto audiovisual possa ver a luz do dia tão pouco tempo passado sobre este acontecimento violento”, prossegue, frisando que para fazer “o luto é preciso silêncio, pudor, dignidade, respeito”.

Em resposta, na quinta-feira, a France 2 anunciou ter suspendido a película que ainda não viu em versão final, lê-se num comunicado. “Por agora, a France 2 decidiu adiar este projecto visto que a produção do telefilme não consultou amplamente o conjunto das associações de vítimas.” O Le Monde descreve uma “vaga de contestação” surgida desde a rodagem do telefilme e cita Arthur Dénouveaux, presidente da associação de vítimas Life For Paris, em declarações à agência AFP: "Mesmo que nunca tenhamos reclamado a censura, estamos contentes que o pudor e a contenção tenham prevalecido”.

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