Governo de Israel quer estação com nome de Trump junto ao Muro Ocidental

Ministro apontado como sucessor de Netanyahu defende ferrovia subterrânea a passar pela Cidade Velha de Jerusalém, o epicentro espiritual do conflito israelo-palestiniano.

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O projecto proposto custará quase 600 milhões de euros e mexeria com locais sagrados para judeus, muçulmanos e cristãos ABIR SULTAN

O ministro israelita dos Transportes, Yisrael Katz, está a promover um polémico projecto de construção de um túnel que passa por baixo da Cidade Velha de Jerusalém e que terminará junto ao Muro Ocidental, numa estação que será baptizada com o nome de Donald Trump, Presidente dos EUA.

A notícia está a ser avançada pela agência norte-americana Associated Press (AP). Trump anunciou no início de Dezembro, que os EUA reconhecem Jerusalém como capital de Israel, uma decisão que incendiou o Médio Oriente e levou a ONU a reprovar a iniciativa norte-americana, tendo em conta que Jerusalém é local sagrado e disputado por judeus, cristãos e muçulmanos.

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As obras da ligação Telavive-Jerusalém começaram em 2001 e têm sido feitas por troços. No final ligará as duas cidades em 31 minutos, com cinco túneis e dez pontes REUTERS/Baz Ratner

O projecto do túnel encontra-se ainda numa fase embrionária, segundo a AP. A concretizar-se envolve a construção de duas estações subterrâneas e a construção de um túnel de três quilómetros de extensão, escavado na Baixa de Jerusalém e passando por baixo da zona da Cidade Velha, politicamente sensível. O projecto permitiria estender a linha ferroviária de alta velocidade de Jerusalém, cuja abertura está prevista para breve, ligando Telavive ao Muro Ocidental, o local mais sagrado para judeus, que lhe chamam Muro das Lamentações.

O traçado proposto desenvolve-se nas imediações da Basílica do Santo Sepulcro, evitando ter de passar por baixo deste local, considerado o mais sagrado para os cristãos. Segundo a fé cristã, foi aí que Jesus foi sepultado depois de crucificado. A linha passaria também perto de outro local sagrado para judeus e muçulmanos – o complexo do Monte do Templo, importante para os judeus; e a Esplanada das Mesquitas, zona sagrada para muçulmanos.

Segundo a AP, Katz justificou este projecto dizendo que ele permitiria aos visitantes de Jerusalém chegarem "ao coração do povo judeu – o Muro das Lamentações e o Monte do Tempo", tendo proposto dar o nome de Trump a uma estação por causa da "corajosa e histórica decisão de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel", anunciada pelo Presidente dos EUA.

Mexer em vestígios arqueológicos

Escavações anteriores feitas na Cidade Velha e zonas circundantes (considerado o epicentro espiritual do conflito israelo-palestiniano) suscitaram, no passado, violentos protestos por parte de palestinianos, que reclamam Jerusalém Oriental como capital de um futuro Estado da Palestina. Por essa razão, acrescenta a AP, a proposta israelita de prolongar a linha ferroviária deverá suscitar forte oposição tanto de palestinianos como dos países árabes vizinhos de Israel ou mesmo da comunidade internacional. 

O ministro responsável pela proposta detém a pasta dos Transportes e também coordena os serviços secretos e de informação de Israel. É muito próximo do actual primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, sendo apontando como o eventual sucessor dele à frente do partido conservador Likud, de direita.

Estimativas referidas por um porta-voz de Katz, Avner Ovadia, apontam para um custo a rondar 700 milhões de dólares (588 milhões de euros ao câmbio actual). Uma vez aprovado, o projecto demoraria quatro anos a ser concluído, segundo afirmou o mesmo responsável, nesta quarta-feira. O gabinete do ministro acrescentou ainda que o plano ferroviário foi apresentado pelo Governo numa recente reunião entre o executivo e a administração da empresa de comboios Israel Railways, tendo Katz dado prioridade a este plano já entregue ao comité reponsável por planear os investimentos públicos.

Israel ocupou e anexou Jerusalém Oriental e a Cidade Velha, em 1967, um facto não reconhecido pela comunidade internacional, que votou maioritariamente a favor de uma resolução das Nações Unidas em que se condena e rejeita a decisão norte-americana. A escavação de túneis nesta área politicamente sensível de Jerusalém pode transformar-se num pesadelo político e logístico – até porque obrigará a mexer em camadas de vestígios arqueológicos soterrados e que remetem para o passado desta cidade com 3000 anos de História.

Apesar deste cenário, o porta-voz ministerial mostrou-se confiante na aprovação do projecto durante 2018. A linha rápida Telavive-Jerusalém deve ser inaugurada na Primavera de 2018, tendo as obras começado em 2001. "Não há razão para esta linha não ser construída. Nós estamos habituados a lidar com oposições bem mais difíceis", declarou Ovadia.

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