Como se portará a selecção na Rússia? Ser campeão europeu não é garantia no Mundial

Espanha e Alemanha são os exemplos a seguir pela selecção portuguesa na Rússia, em 2018. Mas foram muitos os campeões do “Velho Continente” que não fizeram justiça ao estatuto.

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A Espanha foi a última campeã europeia a conquistar a seguir o título mundial Reuters/KAI PFAFFENBACH

Ser campeão do respectivo continente não garante, à partida, um lugar no Mundial de futebol e o torneio que se realiza na Rússia, no próximo Verão, é a prova disso. Quatro dos campeões continentais não se qualificaram (Camarões, Chile, EUA e Nova Zelândia), e apenas a Austrália, o campeão asiático, e Portugal, o campeão europeu, ultrapassaram a fase de apuramento. Se da Ásia nunca se espera muito num Mundial, os melhores da Europa (o continente com mais títulos, 11 em 20) são sempre candidatos e Portugal, depois do triunfo em 2016, tem um prestígio a defender. Só que a história dos torneios mostra muitos campeões do “Velho Continente” a não fazerem justiça ao estatuto.

A selecção portuguesa ficou emparelhada no Grupo B com Espanha (Sochi, 15 de Junho), Marrocos (Moscovo, 20 de Junho) e Irão (Saransk, 25 de Junho) e Fernando Santos por certo quererá marcar bilhete de regresso apenas após a final de 15 de Julho. Existem dois bons precedentes na história dos Mundiais para Portugal poder pensar em juntar o título mundial ao Europeu.

Em 1972, numa altura em que a fase final do Euro era aberta apenas a quatro selecções (o formato mudou em 1980, dobrando o número de participantes), foi a selecção da República Federal da Alemanha a conquistar, na Bélgica, o seu primeiro título europeu, batendo a União Soviética numa final em Bruxelas por 3-0. Dois anos depois, num Mundial em que foi anfitriã, a RFA bateu a Holanda de Cruyff numa final, em Munique, por 2-1.

A Espanha foi o outro campeão europeu a mostrar a sua força no Mundial. Em 2008, a “roja” de Luis Aragonés conquistou o título continental, em Viena, numa final contra a Alemanha (1-0, golo de Fernando Torres) e seguiu para o título mundial em 2010, na África do Sul, já com Vicente Del Bosque, batendo a Holanda por 1-0, após prolongamento, em Joanesburgo. As conquistas da “roja” de Del Bosque tiveram continuidade no Euro 2012, com um triunfo, em Kiev, sobre a Itália por 4-0, mas no Mundial 2014, expirou o prazo de validade desta brilhante geração espanhola. Começou com uma derrota por 5-1 frente à Holanda numa sexta-feira 13, continuou com nova derrota frente ao Chile e nada valeu o triunfo frente à Austrália.

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Esta foi mesmo uma das piores campanhas de um campeão europeu no Mundial imediatamente a seguir (a Espanha também era o campeão mundial vigente), mas já não era a primeira vez que acontecia à “roja”. Depois de ter sido campeã da Europa no segundo Euro, em 1964, também não passou da fase de grupos no Mundial de 1966, perdendo dois dos três jogos (com Argentina e Alemanha). Ainda pior foi o que aconteceu à França campeã mundial de 1998 e do Euro 2000. Entrou no Mundial 2002 e num grupo aparentemente acessível, mas os “bleus” de Roger Lemerre caíram com estrondo na fase de grupos, perdendo com Senegal e Dinamarca, e empatando com o Uruguai.

Foram, então, três os campeões europeus que caíram na fase de grupos do Mundial que se realizou após a conquista, mas estes ainda conseguiram o apuramento. Outros não o conseguiram, um destino do qual Portugal já está livre. O Euro 76 ficou na história como a única conquista da Checoslováquia, uma final marcada pelo célebre penálti de Antonin Panenka para o meio da baliza da Alemanha defendida por Sepp Maier. Mas nem Panenka, nem a Checoslováquia foram à Argentina para o Mundial de 1978, ficando em segundo do seu grupo de qualificação, atrás da Escócia.

Voltou a acontecer o mesmo à Dinamarca, campeã em 1992. Depois do triunfo improvável no Euro em que chegaram directamente de férias para substituir a Jugoslávia, Schmeichel e companhia falharam por pouco a qualificação para o Mundial de 1994. Numa longa campanha em que sofreram apenas dois golos em 12 jogos, os dinamarqueses atingiram a última jornada a dependerem de si próprios, mas perderam na última ronda com a Espanha, e acabaram por ser ultrapassados pela República da Irlanda, que empatou, em Belfast, com a Irlanda do Norte. Também a Grécia, campeã europeia em 2004 numa final contra Portugal, no Estádio da Luz, falhou o Mundial 2006, nunca recuperando de uma entrada em falso nas qualificações – derrota com Albânia e empates com Turquia e Ucrânia nos três primeiros jogos.

Houve ainda dois campeões europeus que foram até ao último dia do Mundial, mas que perderam na final. Depois do título europeu em 1968, com recurso à moeda ao ar nas meias-finais com a União Soviética e dois jogos na final com a Jugoslávia, a Itália levou a chama europeia até à final do Mundial de 1970, mas acabou trucidada pelo Brasil de Pelé por 4-1, no estádio Azteca, no México. Doze anos depois, a RFA, campeã europeia em 1980 (2-1 à Bélgica, no Olímpico de Roma), perdeu, no Santiago Bernabéu, com a Itália por 3-1, numa final que deu um dos mais emblemáticos festejos de sempre em Mundiais, a corrida interminável de Marco Tardelli após marcar o segundo golo da “squadra azzurra”.

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