Marcelo reconhece “empenho” de Costa em “estar à altura do teste”

O empenho de Costa e dos ministros deixa Marcelo mais confiante de que no próximo ano não haverá nova tragédia. Mas é preciso ter a nova estratégia pronta “antes do fim da Primavera”, avisa o Presidente.

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LUSA/PAULO NOVAIS

O Presidente da República passou o Natal com os familiares das vítimas dos incêndios de Pedrógão. E numa breve conversa com o PÚBLICO, mostrou-se confiante que as indemnizações cheguem depressa e que venha “rápido” o novo plano de combate.

Lembra-se do que sentiu quando aqui chegou [a Pedrógão Grande] naquela madrugada da tragédia?
Sim… o que senti foi uma situação aparentemente descontrolada, desesperada - porque se olhava do ponto onde estava o posto de comando e à volta só se via tudo a arder, sem saber o que se passava em estradas vizinhas, mesmo ali ao lado. E, ao mesmo tempo, encontrei uma… uma vontade muito grande de resistir das populações, mas com uma impotência enorme, porque estavam perante uma realidade que não conseguiam compreender e que parecia totalmente fora do seu alcance.

Na mensagem que dirigiu ao país após os segundos incêndios, o Presidente exigiu uma resposta rápida e convincente ao Governo. Está confiante, agora que chegamos ao fim do ano, que a resposta chegará a tempo da próxima época de fogos?
Acho que se aprendeu, que se percebeu que é prioritário que isto não aconteça - desde logo no ano que vem e nunca mais no futuro. O que significa mudar o sistema de prevenção e de combate; significa avançar rapidamente com uma política florestal; significa a reconstrução que está em curso; e significa mais uma coisa, que essa é mais difícil de compreender pelas pessoas, não vindo cá, que é o acompanhar o percurso interior ou exterior espiritual das comunidades. Em que se sente, nas áreas das duas tragédias, que o choque foi grande. Mas que aqui foi mais concentrado no tempo e no espaço…

Em Pedrógão Grande…
… onde se encontra ainda muito viva uma saudade dolorosa. Na outra área [a atingida pelos incêndios de Outubro], porque a dispersão foi maior e não há esta densidade que aqui se encontra, apesar de tudo a situação é diferente. Mas essa é uma vertente que acompanha as outras. E todas têm que andar ao mesmo tempo.

O Presidente já percebeu, efectivamente, o que vai mudar no combate e prevenção em 2018?
Como sabe está a ser estudado, sob orientação de um especialista. E portanto espera-se que venha a ser apresentado…

Confia que brevemente?
Eu penso que se ganha em que seja rápido, por uma razão óbvia: porque, embora o próprio especialista já tenha dito que pôr de pé o sistema demora tempo, perceber as linhas fundamentais antes do fim da próxima Primavera parece-me muito importante.

Sente-se mais reconfortado com a resposta da sociedade civil (estamos em Pedrógão, na Associação das Vítimas), ou com a resposta das autoridades na preparação do próximo ano?
Há as duas coisas: as populações arregaçaram as mangas e começaram a trabalhar. Aqui e na área coberta pela tragédia de Outubro. É muito impressionante, indo lá semanas volvidas, depois meses volvidos, aqui naturalmente mais vezes (nós esquecemo-nos que Outubro foi há dois meses, dois meses, parece que foi há uma eternidade)… mas o que já arrancou é uma coisa impressionante. Eu para a área de Outubro tenho apontadas ideias de inaugurações de fábricas para daqui a quatro meses, para daqui a seis meses - coisas que pareceriam impensáveis. Portanto, a sociedade civil está a mexer. E devo reconhecer que o Governo percebeu que este era um teste essencial. E que tinha de estar à altura desse teste. Eu tenho interpretado o empenho do primeiro-ministro e dos ministros, no sentido de que compreendem que há aqui uma emergência. Todos os portugueses acham isso: é um problema urgente. Isto é muito raro.

Relativamente às indemnizações, tanto quanto sabemos elas ainda não foram pagas às vítimas. É uma situação que o preocupa, ou acha que o processo está a correr bem?
Aparentemente houve uma questão burocrática, que tornou muito difícil a apresentação dos requerimentos pelos familiares das vítimas. Porque, para provarem a situação da concreta da morte e do tempo imediatamente anterior à morte, precisavam de ter dados que não tinham - dados científicos, dados técnicos -, uma vez que um componente da indemnização tinha a ver não com a morte, não com as consequências e efeitos dos familiares, mas com o período anterior à morte (o que tinha sido sofrido antes da morte). Ora, para isso, cada caso é um caso. E era preciso ficar provado o que é que se tinha passado. Isso demorou tempo e fez com que nenhum requerimento tivesse entrado na Provedoria de Justiça. Mas ultrapassada essa questão, eu penso que está em curso - e espero que o mais rápido possível seja concluído o processo na Provedoria de Justiça. A provedora está muito empenhada nisso, quer em relação a esta área, quer em relação à área de Outubro. Mas em relação à área de Outubro há um pequeno problema: sendo os critérios os mesmos, não há relatório…

Os técnicos do Parlamento só o farão em Janeiro.
Não há relatório já feito que permita reconstituir o que se passou. Espera-se esse relatório o mais depressa possível.

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