Lorde cancela concerto em Israel: "Julgo que é a melhor decisão neste momento"

Anunciado há uma semana para ter lugar em Telavive, em Junho de 2018, a actuação foi anulada depois de uma discussão aberta com pessoas com as "opiniões mais diversas", anunciou a cantora neo-zelandesa

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REUTERS/Mario Anzuoni

Há cerca de uma semana, Lorde anunciou um concerto na cidade israelita de Telavive, a ter lugar em Junho de 2018. Esta segunda-feira, o volte-face: a cantora neo-zelandesa anunciou o cancelamento da actuação. “Mantive várias discussões com pessoas que detêm as opiniões mais diversas e julgo que a melhor decisão neste momento é cancelar o concerto”, declarou. A decisão surge na sequência do debate que se seguiu ao anúncio, com activistas que se opõem às políticas de Israel relativamente à Palestina a pedirem à cantora de 21 anos que reconsiderasse a viagem até ao país.

A decisão de Lorde surge num momento particularmente sensível, depois de, a 6 de Dezembro, Donald Trump ter reconhecido Jerusalém como capital do estado israelita, gesto condenado globalmente de forma quase unânime e que motivou grandes protestes no mundo muçulmano. Se nos centrarmos no universo musical, o episódio insere-se num debate em curso há algum tempo, com músicos como Roger Waters, Brian Eno ou Thurston Moore a integrarem-se no movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), que defende o boicote político, académico e cultural de Israel. Recentemente, Elvis Costello, Lauryn Hill e Gorillaz cancelaram concertos no país. Por outro lado, apesar das pressões que sofreram para não o fazerem, os Radiohead, no último Verão, e Nick Cave, em Novembro, actuaram perante o público israelita. Em conferência de imprensa em Telavive, anterior ao concerto, Cave explicou que daria o concerto por gostar de Israel e do seu povo e para marcar uma posição "contra quem pretende restringir a liberdade dos músicos".

Lorde apresentaria em Israel o seu segundo álbum, Melodrama, editado em Junho deste ano. Contudo, assim que o concerto foi anunciado oficialmente, iniciou-se um intenso debate nas redes sociais, no qual a própria cantora participou activamente. Na Nova Zelândia, país natal de Lorde, uma carta aberta assinada por duas mulheres, Nadia Abu-Shanab e Justine Sachs, uma palestiniana, outra judia, denunciava o que as signatárias consideravam “as políticas governamentais israelitas de opressão, limpeza étnica, violação de direitos humanos, ocupação e apartheid”, e defendia um “boicote artístico” semelhante ao imposto à África do Sul nos anos da segregação racial no país.

Tomada a decisão pelo cancelamento, a ministra israelita da Cultura e do Desporto, Miri Regev, apelava à cantora para que reconsiderasse a sua decisão. “Lorde, espero que consiga ser uma ‘heróina pura’, como no título do seu primeiro álbum [Pure Heroine]. Uma heroína de pura cultura, livre de quaisquer considerações políticas exteriores (e ridículas)”, escreveu a ministra em comunicado. Eran Arielli, o promotor do concerto cancelado e responsável por levar os Radiohead a Telavive no Verão, anunciou que os detentores de bilhete seriam prontamente reembolsados e lamentou a sua própria “ingenuidade”, ao acreditar que uma artista da idade de Lorde “seria capaz de enfrentar a pressão de actuar em Israel”. 

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