Rio ou Santana: quem está mais próximo de Marcelo?

O perfil executivo, a racionalidade e sobretudo o rigor do ex-presidente da Câmara do Porto casam bem com Marcelo, defendem uns; os dons de oratória do ex-provedor da Santa Casa e a sua relação afectuosa com as pessoas aproximam-no do actual Presidente, assinalam outros.

 XXVI Congresso do PSD, Barcelos, 2004
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XXVI Congresso do PSD, Barcelos, 2004 Fernando Veludo
Em campanha no Algarve pelo Não à Regionalização, no referendo de 1998
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Em campanha no Algarve pelo Não à Regionalização, no referendo de 1998 Luís Forra/Lusa
Jantar da Nova Democracia, com Santana Lopes, Conceição Monteiro, Marcelo Rebelo de Sousa, José Miguel Júdice e Nuno Morais Sarmento
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Jantar da Nova Democracia, com Santana Lopes, Conceição Monteiro, Marcelo Rebelo de Sousa, José Miguel Júdice e Nuno Morais Sarmento DR
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Marcelo, presidente, com Rio, secretário-geral do partido, no conselho nacional do PSD, em 1996
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Marcelo, presidente, com Rio, secretário-geral do partido, no conselho nacional do PSD, em 1996 DR
Marcelo, presidente, com Rio, secretário-geral do partido, no conselho nacional do PSD, em 1996
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Marcelo, presidente, com Rio, secretário-geral do partido, no conselho nacional do PSD, em 1996 Pedro Cunha

Rui Rio e Pedro Santana Lopes, os dois candidatos à liderança do PSD, já foram muito cúmplices, particularmente no tempo em que o ex-provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) era primeiro-ministro. Nessa altura, em 2004, Rio, ao contrário de Marcelo Rebelo de Sousa, que fazia críticas corrosivas às “trapalhadas” do então primeiro-ministro, defendia Santana de quem era "número dois" no partido e responsabilizava a comunicação social pelo clima de críticas ao Governo. Hoje, os dois são adversários políticos e o ex-autarca do Porto tem aproveitado o palco da campanha das directas para acusar o seu correligionário de partido de cometer “trapalhadas”, corroborando, assim, as críticas feitas por Marcelo aos microfones da TVI.

Mas nestes 13 anos muita coisa mudou. O antigo líder social-democrata, Marcelo Rebelo de Sousa, de quem Rio foi secretário-geral, tornou-se numa referência nacional ao ser eleito Presidente da República e Pedro Santana Lopes renunciou à provedoria da SCML para protagonizar uma candidatura à liderança do PSD à qual se candidata também o ex-presidente da Câmara do Porto, Rui Rio.

A três semanas das eleições directas que vão escolher o sucessor de Pedro Passos Coelho, o PÚBLICO foi ouvir a opinião de algumas figuras do PSD e de outras pessoas que são próximas do partido fundado por Francisco Sá Carneiro, tentando perceber qual dos dois candidatos está mais próximo de Marcelo. E as opiniões dividem-se.

Conceição Monteiro, que além de secretária de Francisco Sá Carneiro foi também sua amiga e confidente, não tem dúvidas: “Embora Rui Rio tenha sido secretário-geral de Marcelo, é Pedro Santana Lopes - o candidato que apoia - quem mais se identifica com ele. Qualquer pessoa que os conheça topa logo”, diz a militante n.º 2 do PSD, apoiante de Santana, referindo que este e Marcelo “estiveram sempre do mesmo lado da barricada do ponto de vista das lutas partidárias nos bons tempos do PSD”.

“Os dois têm um percurso juntos e muitas afinidades políticas”, descreve Conceição Monteiro ao PÚBLICO, deixando de parte clivagens internas entre os dois, para destacar que, ao contrário de Rio, “Santana e Marcelo estiveram sempre do mesmo lado da barricada”, numa alusão ao percurso político e académico dos dois antigos líderes do partido que frequentaram a Faculdade de Direito de Lisboa - ambos são juristas. A histórica secretária de Sá Carneiro, hoje com 84 anos, recorda, a propósito, que Marcelo e Santana fundaram, em 1993, a Nova Esperança, uma facção dentro do PSD que estava contra o Bloco Central e contra Francisco Pinto Balsemão. "Foram duas lutas muito importantes para o partido e para o país”.

De resto, Conceição Monteiro não fez considerações sobre o choque de ambições dos dois ex-líderes do partido que vêm de longe, empenhou-se, sim, em apontar “mais afinidades políticas e ideológicas” entre Marcelo e Santana do que entre Marcelo e Rio, abrindo espaço para falar dos afectos que encontra no candidato que apoia e que se tornaram numa imagem de marca de Marcelo enquanto Presidente da República.

O ex-governante Castro Almeida, que tutelou a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Regional no Governo de Passos Coelho, tem uma opinião diferente e não hesita em declarar que “Rui Rio é mais complementar de Marcelo do que Santana Lopes”. Não iludindo que o ex-provedor da Santa Casa é afectivo, Castro Almeida puxa pela racionalidade do ex-autarca do Porto para valorizar o perfil do candidato que apoia nas directas, revelando que essa faceta torna-o “mais complementar de Marcelo”, porque – explica – o antigo primeiro-ministro “estuda os assuntos” como Rio.

“Se tivesse que escolher entre duas pessoas preferia ter Marcelo com Rio do que ter Marcelo com Santana”, assume o antigo presidente da Câmara de S. João da Madeira, que tem um percurso político e autárquico idêntico ao de Rio. “Olho para Rio e vejo um executivo, olho para Santana e vejo um parlamentar”, sublinha. 

Os caminhos de Castro Almeida e Rui Rio cruzam-se em Novembro de 1991. Os dois assumiram funções como deputados na Assembleia da República no mesmo dia. Dez anos depois, deixam o Parlamento. Rui sai para disputar uma candidatura à Câmara do Porto, Castro Almeida para liderar uma lista à presidência da Câmara de S. João da Madeira.

“Rio casa bem com Marcelo”

São muitas as afinidades que Luís Cirilo encontra entre Santana e Marcelo. Membro da direcção nacional da campanha de Pedro Santana Lopes, Luís Cirilo desfia as “muitas” afinidades que diz encontrar entre os dois antigos líderes do partido, embora admita que numa certa fase andaram desalinhados, tendo mesmo disputado a liderança no Congresso de Santa Maria da Feira. “Não tenho dúvidas de que Santana está mais próximo e tem mais afinidades políticas com Marcelo do que Rio. Ambos estiveram na origem da Nova Esperança, em 1983,” recorda o social-democrata, garantindo mesmo existir alguma “cumplicidade” entre os dois. Ambos são do PPD/PSD”, de que Santana tanto se orgulha.

Afirmando que Rio “tem menos currículo em termos de partido”, o ex-dirigente do PSD defende que a dupla Marcelo/Santana funciona melhor do que a dupla Marcelo/Rio.

Pelo contrário, o antigo-conselheiro nacional do PSD, António Capucho, realça o perfil do ex-autarca do Porto para evidenciar que, no plano “ideológico, político e ético, Rui Rio está muito mais próximo de Marcelo do que Santana”. “Rui Rio dá-me garantias de acabar com certas práticas oligárquicas que existem no PSD e também de transparência”, diz António Capucho, que promete regressar ao partido, se o seu candidato vier a ser eleito. Acrescenta, por outro lado, que o antigo secretário-geral representa a “ala mais à esquerda, mais social-democrata, mais humanista do partido, o que quer dizer que pode devolver ao PSD a sua matriz ideológica que está, de resto, na sua origem e este perfil aproxima-o de Marcelo”, defende Capucho, que sucedeu a Rio na secretaria-geral dos sociais-democratas.

O “lado humano” de Santana leva a histórica militante do PSD Virgínia Estorninho a dizer que o antigo primeiro-ministro “é a pessoa certa para trabalhar com Marcelo Rebelo de Sousa quando assumir a liderança do Governo. Os dois complementam-se”.

Em declarações ao PÚBLICO, a deputada da Assembleia Municipal de Lisboa recua à liderança de Sá Carneiro para contar um episódio, na antiga sede do PSD, na Avenida Fontes Pereira de Melo, a que assistiu Conceição Monteiro. “Nesse dia, um jovem de cabelos compridos abre a porta e eu perguntei quem era. Nesse instante, Francisco Sá Carneiro sai do gabinete e diz: 'O jovem de que estão a falar é fixe e um dia vai ter um grande futuro no partido e no país'. Estávamos no início de 1975”, conta Virgínia Estorninho, dizendo que “Sá Carneiro tinha razão”.

A deputada municipal em Lisboa aponta os dons de oratória do candidato e compara-os com os de Marcelo: “Os dois têm um bom discurso e já deram muito ao partido”.  

Desafiado a fazer uma avaliação do perfil dos dois candidatos, o médico psiquiatra Carlos Mota Cardoso afirma, taxativo: ”Rio e Marcelo fazem um bom casamento de complementaridade. A racionalidade de um vai ao encontro da emotividade do outro”.

“Se Marcelo e Rio tivessem menos 15 a 20 anos, não aconselhava nada esse casamento, preferia mais aconselhar o casamento com Santana Lopes porque eram mais próximos, mais iguais. Mas nestas circunstâncias defendo o casamento entre os dois, porque eles complementam-se muito bem, quer do ponto de vista emocional, da racionalidade e do rigor”, sublinha Mota Cardoso. O psiquiatra alude à “ironia espontânea e inteligente” do ex-autarca do Porto para o comparar a Winston Churchill, estadista britânico, que se destacou pela sua actuação como primeiro-ministro do Reino Unido durante a II Guerra Mundial, e também para dizer que esses é um dos poucos aspectos que o distingue de Marcelo, de quem diz ter uma “ironia trabalhada”.

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