Fantasmas de pesadelos futuros

A quarta temporada de Black Mirror está disponível a partir da próxima sexta-feira na Netflix.

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Pedalar em bicicletas fixas para produzir energia a troco de créditos (méritos) para gastar em canais de vídeo e fast-food; poder fazer rewind de todos os momentos do passado com lentes de contacto; chantagear um primeiro-ministro, obrigá-lo a fazer sexo com um porco e transmitir na Internet; um urso animado que é candidato em eleições; abelhas transformadas em drones. Quantas destas coisas estão perto de acontecer? É uma questão que se coloca a cada episódio de Black Mirror, a série que projecta a evolução da humanidade pelo seu uso da tecnologia, apresentando esse futuro quase sempre como muito sombrio.

A partir desta sexta-feira, teremos mais uma dose de possíveis (prováveis?) futuros com a estreia dos seis episódios da quarta temporada no serviço de streaming Netflix. Black Mirror é o que se designa de “série de antologia”, em que cada episódio é uma história autónoma, mas com um ponto unificador, os efeitos secundários do uso da tecnologia como uma droga, como reconheceu o criador Charlie Brooker, que assumiu a herança de outras séries que fizeram história na televisão, como A Quinta Dimensão ou No Limiar da Realidade.

Black Mirror começou por ser um produto feito em Inglaterra (pelo Channel 4), mas duas temporadas de grande sucesso popular e de crítica fizeram com que a Netflix a quisesse para a sua programação original. Os orçamentos cresceram, tal como o número de episódios (passaram de três para seis), e o mundo continuou a gostar de ver o seu reflexo neste espelho negro, mas com algumas partes mais luminosas, como San Junipero, o ponto alto da terceira temporada e considerado como um dos melhores de toda a série.

E que futuros iremos ver nestes seis próximos episódios? Exploração do espaço, aplicações para encontros amorosos, tecnologia de vigilância (um episódio que foi realizado por Jodie Foster), tudo coisas que fazem parte do presente da humanidade. Como Rod Serling usava A Quinta Dimensão para explorar temas como o racismo sem o referir abertamente, Brooker faz de Black Mirror uma sátira que não vai buscar ideias às manchetes, mas inventa distopias que soam a verosímeis.

Black Mirror tem-se mostrado profética em algumas coisas. Uma relação sexual entre um primeiro-ministro e um porco, que aparece no primeiro episódio da primeira temporada, transmitido em 2011? Há dois anos, uma biografia de David Cameron desenterrou um episódio da vida do ex-líder britânico em que este, nos seus tempos de estudante, terá enfiado “uma parte da sua anatomia privada” na cabeça de um porco morto como ritual de iniciação de uma sociedade em Oxford. E o tal boneco animado que concorre a eleições com uma retórica populista, como acontece no terceiro episódio da segunda temporada, como vimos em 2013? Duas palavras: Donald Trump. 

A rubrica Televisão encontra-se publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICO

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