A sobrevivência do PSD

Por mais importantes que sejam as europeias e as legislativas de 2019 para o PSD, o próximo líder não pode descurar a dimensão autárquica.

No dia 13 de Janeiro, os militantes do PSD escolherão entre Santana Lopes e Rui Rio quem será o sucessor de Passos Coelho na liderança. A campanha interna tem decorrido para dentro do PSD mais do que para o país, o que pode ser considerado normal de um ponto de vista formal, pois é uma eleição interna. É, porém, desejável que os ecos da discussão interna no PSD se façam ouvir desde já por todos os eleitores. A clarificação sobre a estratégia da liderança do maior partido parlamentar nesta legislatura é um assunto que diz respeito a todos.

É de lamentar, portanto, o pouco empenho dos candidatos em fazer a sua mensagem transbordar do âmbito partidário. Assim como é mau sinal as moções de estratégia não serem ainda conhecidas e que apenas Santana tenha apresentado uma “proposta de programa”. É tradição nos debates partidários electivos de líderes os candidatos apresentarem nas suas moções o embrião das principais ideias político-programáticas para o partido defender em legislativas, bem como a estratégia para ganhar essas eleições. Mas há uma dimensão da vida do PSD que os candidatos a líderes têm de cuidar e que é uma questão a meu ver central: a da sobrevivência autárquica do PSD. Sobre ela Santana nada diz na sua “proposta de programa”. Já Rio alertou para ela numa intervenção de campanha.

É certo que as autárquicas se realizam em 2021. Pela frente, o próximo líder do PSD terá de enfrentar em 2019 eleições europeias, em Maio, e depois as legislativas entre 14 de Setembro e 14 de Outubro. Verdade é também que um partido de poder, como o PSD, terá de apostar todas as suas fichas em tentar ganhar as legislativas, o que não é fácil se tivermos em conta que este partido foi vitorioso nas últimas e Passos foi apeado do cargo de primeiro-ministro por uma aliança inédita da esquerda parlamentar. Ao que se associa um estado de satisfação do eleitorado em relação à governação do PS, pelo menos por agora, a acreditar nas sondagens.

Mas por mais importantes que sejam as europeias e as legislativas de 2019 para o PSD, o próximo líder não pode descurar a dimensão autárquica. Tanto mais que o PSD é, desde a sua fundação, um partido com uma fortíssima implantação autárquica. Prova disso são os 17 anos em que liderou a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP). Presidiu a esta associação de autarquias primeiro entre a sua fundação, em 1984, e 1989, com Artur Torres Pereira, e depois, de novo, entre 2001 e 2013, com Fernando Ruas.

O PSD sempre foi um partido estruturado a nível nacional na sua base de poder local. O PS também o é. Mas, tradicionalmente, o cuidado e a atenção que o PSD tem dado ao poder autárquico e o peso que os representantes do partido nas autarquias têm no aparelho interno e na direcção do PSD são mais fortes do que entre os socialistas.

Daí que um dos grandes desafios do próximo líder do PSD seja não apenas preparar as europeias e as legislativas de 2019, mas começar a delinear as autárquicas de 2021. E isso passa, sobretudo, pela necessidade de reconstruir a rede e a estrutura do partido a nível concelhio, começando agora um trabalho de formiguinha e de âmbito local que possa permitir a recuperação eleitoral e também a estrutura partidária.

O PSD perdeu as autárquicas de 2013 de forma brutal, uma derrota que em 2017 se agravou. Se em 2013 caiu de 157 para 107 presidências de câmara, agora baixou para 98 contra as actuais 159 do PS. Há uma erosão autárquica que o próximo líder do PSD terá de travar e recuperar. Até porque um partido como o PSD, que tradicionalmente respira através do poder local e se engrandece e cresce com ele, dificilmente consegue sobreviver a nível nacional e ganhar legislativas se descurar o poder autárquico.

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